FRASE DA EDIÇÃO

"A CLASSE DOMINANTE NUNCA SERÁ CAPAZ DE RESOLVER 
A CRISE.
ELA É A CRISE’’ 

Os principais pressupostos da psicanálise

Nesta aula você aprenderá o que um(a) psicanalista deve levar em consideração para que possa praticar a psicanálise clínica.

Nossas mentes são movidas por duas energias psíquicas que só podem ser transferidas e nunca destruídas.

 

Isto é, todo o nosso pensamento (e comportamento) é fruto dessas energias psíquicas. No decorrer do curso (e da profissão) vamos nos referir a essas energias psíquicas como impulsos.

 

A primeira energia é chamada de “Eros”, também conhecida como pulsão de vida ou libido. Aqui é importante perceber que, embora a palavra “libido” seja frequentemente usada em conversas cotidianas para se referir ao desejo sexual de uma pessoa, na psicanálise a “libido” tem um significado muito mais amplo

 

A segunda pulsão que orienta nossas vidas é chamada de “Thanatos”, também é conhecido como “pulsão de morte”. De acordo com Freud, todo ser humano sente, em maior ou menor grau, os dois impulsos ao mesmo tempo.

 

Quando o indivíduo reprime as pulsões, gera sintomas.

 

Dentre os mecanismos de defesa que todos nós utilizamos, está a sublimação. Este mecanismo de defesa é comumente utilizado como forma de equilíbrio das pulsões. Por exemplo, uma pessoa que tenha reprimido sua agressividade diante da frustração de não ter podido discutir com o chefe, poderá se ver gritando contra adversários numa partida de futebol. Isso seria um processo de sublimação perfeitamente aceito e tudo aconteceria a nível inconsciente.

MENTE CONSCIENTE

De acordo com Freud, nós não temos apenas uma mente consciente, mas também uma mente inconsciente.

 

Freud nos revela que todos nós temos três componentes para a formação de nossa personalidade. Esses elementos são:

  •  o Id
  • o Ego
  • o Superego

O Id é a parte com os desejos primitivos de uma pessoa. É responsável por nossos impulsos mais básicos e urgentes, nos guiando na busca de emoção e prazer. Alguns psicanalistas descrevem que o Id é como uma criança rebelde – ele não tem controle de impulso e procura satisfazer suas necessidades a qualquer custo.O Id opera de acordo com o “princípio do prazer” – nada importa mais do que gratificação imediata.

 

O Ego pode ser pensado como uma personalidade cotidiana, adulta e que pode ser sentida. O Ego impede as pessoas de cederem aos seus aos caprichos e desejos do id, pois faz um papel de intermediador com o superego. O Ego opera de acordo com o “princípio da realidade”. Enquanto o Id quer tudo nos seus próprios termos, o Ego é fundamentado na realidade e entende que não é uma boa ideia atender constantemente aos desejos.

 

Finalmente, o Superego pode ser pensado como a nossa autoridade moral interna. É a parte de nós mesmos que atua como nossa consciência e guia do que entendemos como certo ou errado. Alguns psicanalistas descrevem o Superego como a voz interior que nos impede de “cometer uma bobagem”.

Freud Fundamental: As Ideias e as Obras

COM PEDRO DE SANTI
Entenda de forma descomplicada as ideias do maior nome da psicanálise nesse curso exclusivo da Casa do Saber+.
A primeira coisa que você deve ter em mente ao realizar este curso é que este curso não é um curso de Psicologia. Neste curso aprenderemos apenas a psicanálise, portanto é um curso de Psicanálise.
Requisitos para receber o título de psicanalista ao final do curso
A formação psicanalítica contempla 3 elementos necessários que serão explicados nas aulas seguintes:
  • Teoria
  • Análise pessoal
  • Atendimento supervisionado
A teoria abrangerá também testes, exames e TCC.
O material escrito (e áudio) são desenvolvidos inteiramente por psicanalistas do nosso instituto para você. Nossa abordagem em psicanálise é clara e eficiente.
O método de atendimento que ensinamos no decorrer do curso é único e, apesar de clássico, inovador.
Você deve ler o material complementar de todas as aulas. Caso não leia o material complementar, você provavelmente não terá todo o conhecimento necessário para ser aprovado no exame final.
Assim como é necessário que ouça todos os áudios disponíveis e leia o texto de cada aula. Os dois, apesar de falarem sobre o mesmo assunto, serão sempre complementares.
Devido ao nosso método pedagógico, as aulas são disponibilizadas gradualmente para você. Isso significa que não é possível ver todas as aulas de uma vez ao se matricular. Isso seria contraprodutivo para seu aprendizado.
Você pode ver cada aula quantas vezes quiser.
Ao finalizar a aula você deve clicar no botão laranja “MARQUE COMPLETO” para que possa avançar para a próxima aula.

 

Questionários 
Ao final de cada seção você encontrará um questionário que precisa ser respondido para que você possa avançar para as demais seções. Os questionários são compostos de perguntas de múltipla escolha e exigem 80% de acerto para aprovação.
Você possui 3 tentativas em cada questionário. Isto é, caso em sua primeira tentativa você não alcance o mínimo necessário para a aprovação, você ainda terá mais duas chances. Caso utilize as 3 tentativas e não consiga o mínimo solicitado, não se preocupe: entre em contato com a nossa secretaria e solicite a liberação de novas tentativas.
Provas
No final de cada módulo você deverá fazer uma prova com perguntas dissertativas.  Na última aula deste módulo (chamada “Exame Final – Módulo 1”) você encontrará um formulário de solicitação de prova. A prova ficará disponível em até 24 horas após a solicitação.
A pontuação das provas variam de 0.0 a 10.0. É necessário obter nota 8.5 para aprovação.
A prova será manualmente corrigida por nosso instituto. O prazo de correção de até 2 semanas. Após a correção e obtenção da nota mínima, o acesso ao módulo seguinte será liberado para você.
Observação importante: O exame final do módulo só ficará disponível para solicitação 25 dias após o início do curso. Portanto o tempo mínimo para conclusão deste e dos demais módulos será de 1 mês.
Ao clicar em “Marque Completo” você concorda com nosso contrato e também com métodos de avaliação.
 
Para concluir este curso você deve cumprir as exigências do tripé psicanalítico. Isso significa entender a teoria, passar por análise pessoal com outro(a) psicanalista e prestar atendimento psicanalítico supervisionado.
Não existe Conselho Federal de Psicanálise, pois a psicanálise não é regulamentada pelo MEC ou qualquer outro órgão. Isso acontece porque não há como regulamentar a psicanálise.
Como veremos no decorrer deste curso, há várias maneiras de praticar a Psicanálise. A terapia psicanalítica possui inúmeras variações com resultados efetivos, portanto não haveria como definir apenas uma dessas variações como correta.
É também importante notar que apesar de este curso ser um curso livre, é reconhecido e amparado pela Portaria 397 de 09/10/2002 do Ministério do Trabalho e Emprego – CBO nº 2515-50 e Aviso 257/57 do Ministério da Saúde; Decreto Federal 2208 de 17/04/97, Portaria 397 do Ministério do Trabalho, Parecer CONJUR/MS/CMA 452/2.

 

As análises pessoais obrigatórias deverão ser feitas a partir do módulo 3. O(A) aluno(a) terá a opção de fazer as análises pessoais com psicanalista particular ou com psicanalistas em nosso Instituto.
Caso decida por fazer as análises pessoais com psicanalista particular, o aluno deverá apresentar para a nossa instituição uma declaração de comparecimento em ao menos 5 sessões. O(A) psicanalista deverá fazer parte de sociedade/associação psicanalítica de linhagem clássica para que as análises sejam aceitas (Freud, Klein, Horney e/ou Erik Erikson, reconhecida pela INPSYCO). Não aceitamos declarações emitidas por médicos, psicólogos ou outras ocupações. Caso na declaração conste outras ocupações além de psicanalista, a declaração não será aceita (ex.: médico psicanalista, psicólogo psicanalista, me. psicanalista, pe. psicanalista, pa. psicanalista, psicanalista integrativo etc.). É necessário constar o número de registro do(a) psicanalista e respectiva sociedade na declaração. É necessário que conste a data e hora de cada sessão, as sessões devem ser realizadas a partir da inscrição em nosso curso.
Recomendamos a leitura do seguinte artigo para entender o que caracteriza um(a) psicanalista:

 

O atendimento supervisionado deverá ser feito no terceiro módulo após a realização das análises pessoais obrigatórias. Você deverá atender um cliente/paciente e descrever, através de relatório que nos enviará, o manejo clínico utilizado diante do sintoma apresentado.
Não se preocupe, pois aprenderemos tudo o que é necessário no decorrer do curso.

 

Como tirar dúvidas
 
Voltar para: Psicanálise – Módulo 1
A depender da disponibilidade e do momento em que se matricular, você poderá ser convidada(o) para nosso grupo de WhatsApp. Caso queira informações sobre o grupo, contatar a tutoria através do e-mail tutoria@somata.com.br.
Você também pode tirar suas dúvidas sobre o conteúdo enviando um e-mail para tutoria@somata.com.br.
Nós também temos um podcast semanal, onde trazemos as perguntas feitas por nossos alunos durante as tutorias. Você pode ouvir nosso podcast em https://soundcloud.com/instituto-somata
Caso tenha dúvidas técnicas, enviar e-mail para suporte@somata.com.br

 

 

Regimento Interno
 
Voltar para: Psicanálise – Módulo 1
É importante que você conheça o Regimento Interno de nossa instituição a fim de entender os métodos de avaliação e as normas de convivência. O regimento garante que você está recebendo uma educação de alta qualidade, aprovada por importantes instituições ao redor do mundo.
Você pode ler o Regimento Interno clicando aqui.
 
 
 

 

A primeira sociedade de psicanálise foi fundada em 1902 e recebeu o nome de Psychological Wednesday Society. Era um encontro que Freud realizava semanalmente com colegas que se interessavam por psicanálise. Em 1908 contava com 14 membros. Logo deu espaço a outras sociedades, abrindo caminho para a abrangência indistinta e internacional da psicanálise. 
O que são psicoterapias

 

A psicanálise é uma das formas mais conhecidas de psicoterapia, ao menos na contemporaneidade. Por isso, antes de aprender mais sobre psicanálise, é importante que você entenda o que significa o termo psicoterapia (do grego psykhē – mente, e therapeuein – curar). 
Como você já deve ter notado, os seres humanos tendem a falar sobre seus problemas.  É bastante natural procurar alguém em quem possamos confiar quando nos deparamos com algum problema em nossas vidas. Às vezes, podemos pedir conselhos, mas muitas vezes simplesmente queremos nos sentir ouvidos e compreendidos.
Esta é a premissa básica da psicoterapia, a terapia ocorrerá ao fazer com que o cliente (ou paciente) fale sobre seus problemas. O papel do psicoterapeuta, a depender das suas técnicas de atendimento, é usar o relato do cliente para encontrar um alívio ao seu sofrimento.
Em algumas formas de terapia, a solução é dada como um método prático que o cliente pode aplicar em sua vidas. Por exemplo, em uma terapia “focada em solução”, os clientes são orientados a mudar suas rotinas diárias. Isso acontece costumeiramente em vertentes do comportamentalismo.
A psicanálise, ao contrário de muitas outras terapias, não tenta encontrar uma fórmula que pode ser aplicada ao cotidiano do cliente para fundamentar uma solução. Em vez disso, busca a razão que teria originado a queixa ou o sintoma.
Uma “solução”, em determinados tipos de psicoterapias, pode representar na verdade uma mudança de atitude ou deixar de lado os traumas passados. Ou seja, cada terapia possui uma própria orientação de tratamento, assim como uma própria definição de cura.
Isso significa, portanto, que não é fácil medir o sucesso de uma terapia. O que significa também que não existe uma terapia melhor que outra, pois há muita subjetividade envolvida em termos de quão melhor alguém se sente no decorrer da terapia. O que funciona bem para uma pessoa pode não funcionar para outra (A psicanálise, porém, demonstra grande eficácia quando comparada a outros métodos).
A psicoterapia geralmente é realizada em espaços projetados para serem confortáveis ​​e fazer com que os clientes se sintam à vontade. Adiante, neste curso, estudaremos como se caracteriza esse ambiente na psicanálise.
Em essência, então, a psicoterapia é o uso de interações verbais para entender e tratar dificuldades emocionais, ou seja, questões relacionadas à saúde mental
Reflexão pessoal: Como o fato de conversar com alguém já ajudou você? Pense em um momento em que você enfrentou um problema difícil. Você falou com alguém sobre isso? Se sim, isso ajudou? Por quê? Caso contrário, você gostaria de ter alguém para conversar?
 
Leitura complementar obrigatória desta aula:
Parecer CREMERJ N. 84/00 sobre o exercício da Psicanálise

84_2000.htm (cfm.org.br)

 

Elementos que constituem as psicoterapias
Todas as psicoterapias, apesar de suas variações de método, possuem alguns elementos em comum. Adiante listaremos os elementos mais comuns que constituem as psicoterapias, especialmente as sessões de psicanálise:
Existe pelo menos um(a) terapeuta e pelo menos um cliente
Pode parecer óbvio, mas psicoterapia é diálogo e capacidade de ouvir. Na maioria das psicoterapias (sem importar a qual linha pertença) o tratamento ocorre em um ambiente individual, no qual o terapeuta e o cliente discutem os problemas do cliente. O espaço em si, como veremos em lições futuras, pode ser inclusive a internet, como uma chamada de áudio.
Independentemente do lugar onde ocorram as sessões, as pessoas procuram terapia por muitas razões. Algumas pessoas lutam com sintomas de mazelas mentais que trazem enorme sofrimento, como a depressão. Outras, lidam com situações muitas vezes indescritíveis, como a ansiedade ou a fobia. Outros não têm um problema explícito, mas podem estar achando a vida difícil, chata, triste ou mesmo sem sentido.
Há casos ainda que se repetem frequentemente nas clínicas, trazendo o retorno de elementos conhecidos da cultura social. Por exemplo, você já deve ter lido a respeito de pessoas que entram na casa dos quarenta ou cinquenta anos e sofrem com a chamada “crise de meia idade”. No decorrer de sua profissão de psicanalista, você verá que casos assim são frequentes.
A psicoterapia pode ajudar essas pessoas a entenderem como chegaram à sua situação atual na vida e também pode ajudá-las a decidir qual direção irão tomar dali em diante.
O foco da terapia é o bem-estar mental e emocional do cliente
O foco do psicoterapeuta (e da terapia em si) deve ser o bem-estar e a saúde mental do cliente. O cliente chegará sempre com uma demanda. Isto é, dirá ao terapeuta o que lhe aflige e causa mal-estar. Nesse momento, o psicanalista deve entender a demanda e nortear o cliente para um entendimento.
O psicanalista não deve dar conselhos de qualquer natureza. Deve, em vez disso, fazer com que o próprio cliente entenda o que está errado e o que traz insatisfação, tentando restabelecer o bem-estar. Veremos em aulas futuras exatamente o que acontece numa sessão de psicanálise.
A relação entre cliente e terapeuta é fundamental para o sucesso da terapia
Veremos futuramente no decorrer do curso que um dos aspectos mais fundamentais para que a terapia tenha sucesso é a relação entre o terapeuta e o cliente. Em psicanálise chamamos as manifestações dessa relação de “transferência“. Em termos práticos, trata-se da confiança que o cliente deposita no terapeuta.
Clientes que confiam em seus terapeutas têm altíssimas chances de obterem exito nas terapias, enquanto aqueles que possuem algum tipo de desconforto ou desconfiança quase nunca obtêm resultados. O autor Frank, J. D. (1973), em seu livro Persuasion and healing (Persuasão e cura) descreve a importância dessa relação, cuja finalidade é levar o cliente ao entendimento de seu sintoma através de suas próprias interpretações.
Deve-se estabelecer mutuamente o objetivo da terapia
O objetivo da terapia deve ser estabelecido pelo terapeuta com o cliente. A partir das demandas trazidas, o terapeuta orientará o rumo da terapia. A demanda trazida pelo cliente geralmente é também o objetivo da terapia. Ou seja, um cliente que chegue à clínica se queixando de ansiedade, busca, evidentemente, alívio para a ansiedade.
No entanto, nem sempre a demanda definirá de forma clara o objetivo, sendo papel do terapeuta, portanto, definir primariamente um objetivo que será compartilhado com o cliente no decorrer das sessões.
O importante é que o objetivo seja sempre definido, pois isso evita qualquer mal-entendido entre terapeuta e cliente. Há clientes que não entendem exatamente como a terapia funciona e podem acabar gerando expectativas irreais a respeito dos resultados. Por isso é importante que o terapeuta deixe bem claro quais serão os objetivos da terapia, ou seja, o que o cliente pode esperar. Veremos no decorrer do curso como os objetivos devem ser definidos.
O terapeuta não deve tentar impor sua opinião
O(A) terapeuta nunca deve analisar a queixa ou os relatos do cliente sob qualquer tipo de viés de ética ou moral. Não cabe ao terapeuta analisar se as atitudes do cliente são moralmente corretas ou não. Isso significa, portanto, que não é papel do terapeuta dizer se o cliente está certo ou errado. Como veremos no decorrer do curso, a psicanálise não está sujeita a valores morais, o que significa que o psicanalista também não deve estar.
Constância e duração das terapias
É comum, dependendo da linha terapêutica adotada, que o terapeuta estipule uma duração em dias, semanas ou até mesmo meses para a terapia. Isso é, na verdade, uma consequência das demandas modernas. O paciente sente a necessidade de saber por quanto tempo precisará ir ao terapeuta. Espera que haja um prazo para a solução de sua queixa.
Veremos que, embora o tratamento com psicanálise possa levar meses (e até mesmo anos em muitos casos), há a possibilidade de o psicanalista se adaptar ao estilo de atendimento das psicoterapias breves. No decorrer do curso, aprenderemos que cabe a você escolher qual estilo adotará durante a carreira, uma vez que tanto o método tradicional quanto o contemporâneo apresentam resultados.
O conteúdo das sessões de terapia é confidencial
Por mais interessante que seja o relato de um cliente, o terapeuta nunca deverá comentar a respeito dele com outras pessoas. A confidencialidade é um dos pontos mais importantes das terapias. No geral, as pessoas só buscam um(a) terapeuta quando estão 100% certas de que poderão falar tudo o que precisam.
Caso não se sinta à vontade, o cliente nunca irá conseguir relatar o que realmente desperta sua angústia. Tudo o que um cliente diz deve ficar somente entre cliente e terapeuta, ao menos na psicanálise é essencial que seja assim. Exploraremos mais sobre a ética na psicanálise no decorrer do curso.
O terapeuta deve trabalhar sob código de ética da sua profissão
Embora o terapeuta não exerça juízo moral ou ético, deve trabalhar sob o código de ética de sua profissão. O instituto Somata disponibiliza o código de ética a ser seguido por seus psicanalistas no fim do curso. É importante que, enquanto estiver exercendo a ocupação de psicanalista, você esteja sempre filiado a algum órgão que o regulamente.
Isso irá garantir segurança para você e também para seus clientes, portanto pertencer a uma sociedade de psicanalistas é fundamental. Ao fim do curso você será convidado a se juntar ao registro de Psicanalistas do Instituto Somata e também do International Psychoanalysis Council.
Um(a) terapeuta deve estar sob constante treinamento e supervisão
A supervisão constante é um dos fundamentos para ser terapeuta e, principalmente, psicanalista. No exercício da ocupação de psicanalista você pode se deparar com dúvidas a respeito de um caso ou outro, dúvidas a respeito do manejo e também diagnóstico. Em momentos como esses é importante que você tenha um supervisor que possa tirar as suas dúvidas e dar orientações a respeito de como nortear o tratamento com seu cliente.
Música da Aula:  Prelude in C Major – Johann Sebastian

 

A psicoterapia psicanalítica

 

Agora que já vimos um pouco sobre os elementos que constituem as psicoterapias, podemos entender como funciona a psicoterapia psicanalítica desenvolvida por Sigmund Freud (estudaremos mais sobre Freud em outros módulos).
O que é psicoterapia psicanalítica
Psicoterapia psicanalítica é a terapia aplicada por psicanalistas. Ao terminar o curso você receberá um certificado com título de psicanalista, permitindo a prática da psicoterapia psicanalítica.
Em essência, a psicanálise (ou psicoterapia psicanalítica) pode ser descrita como um método de psicoterapia que explora o conteúdo da mente inconsciente. Quando você se depara com a psicanálise pela primeira vez, poderá achar que alguns conceitos são estranhos. No entanto, à medida que você aprende sobre as teorias subjacentes e as maneiras pelas quais elas se reúnem, você vai entendendo tudo com clareza.
Atividade: Suas impressões da psicanálise – Existem muitos conceitos errados sobre a psicanálise. Como exercício introdutório antes de ler o conteúdo desta unidade, reserve um momento para escrever tudo o que você sabe – ou pensa que sabe – sobre a psicanálise até então. No final do curso, avalie até que ponto seu conhecimento mudou.
Os principais pressupostos da psicanálise
Nesta aula você aprenderá o que um(a) psicanalista deve levar em consideração para que possa praticar a psicanálise clínica.
Nossas mentes são movidas por duas energias psíquicas que só podem ser transferidas e nunca destruídas.
Isto é, todo o nosso pensamento (e comportamento) é fruto dessas energias psíquicas. No decorrer do curso (e da profissão) vamos nos referir a essas energias psíquicas como impulsos.
A primeira energia é chamada de “Eros”, também conhecida como pulsão de vida ou libido. Aqui é importante perceber que, embora a palavra “libido” seja frequentemente usada em conversas cotidianas para se referir ao desejo sexual de uma pessoa, na psicanálise a “libido” tem um significado muito mais amplo. Em nossos estudos, entenderemos a libido como “desejo pela vida”.
A segunda pulsão que orienta nossas vidas é chamada de “Thanatos”, também é conhecido como “pulsão de morte”. De acordo com Freud, todo ser humano sente, em maior ou menor grau, os dois impulsos ao mesmo tempo.
Os seres humanos gostam de criar e dar vida, mas também sentem um certo fascínio pela morte. Às vezes as pessoas podem se sentir compelidas a destruírem coisas ou até pessoas que são importantes para elas mesmas. Isso acontece com todos.
No entanto, o ser humano não pode viver plenamente essas pulsões, pois isso não seria socialmente aceito. O ser humano então, de maneira muito frequente, reprime as pulsões desejantes a fim de evitar a angústia de sua realização poderia ocasionar.
Quando o indivíduo reprime as pulsões, gera sintomas.
Um adulto saudável emocionalmente é alguém que gerencia seus desejos básicos e canaliza suas energias psíquicas em ações inócuas e socialmente aceitáveis.
Veremos futuramente que, dentre os mecanismos de defesa que todos nós utilizamos, está a sublimação. Este mecanismo de defesa é comumente utilizado como forma de equilíbrio das pulsões. Por exemplo, uma pessoa que tenha reprimido sua agressividade diante da frustração de não ter podido discutir com o chefe, poderá se ver gritando contra adversários numa partida de futebol. Isso seria um processo de sublimação perfeitamente aceito e tudo aconteceria a nível inconsciente.
A origem das pulsões
Em uma de suas cartas (Meu contato com Josef Popper – 1932), Freud explica que as pulsões têm origem biológica:
Todo o fluxo de nossa vida mental e tudo o que se expressa em nossos pensamentos são derivações e representações das pulsões multiformes que são inatas em nossa constituição física.
Atualmente, o psicanalista Mark Solms tem mostrado o funcionamento de pulsões e atividades oníricas através de estudos detalhados do cérebro humano, comprovando o que até então era apenas teoria (Dreaming and REM sleep are controlled by different brain mechanisms – 2000). As pesquisas mostram que as pulsões são os representantes psíquicos dos imperativos metabólicos e endocrinológicos do corpo, apoiando a sobrevivência do indivíduo e a reprodução da espécie. O substrato cerebral central para a fonte do impulso libidinal é o hipotálamo medial, que responde a sinais relativos ao estado do corpo e influencia os circuitos no tronco cerebral, sistema límbico e prosencéfalo, tornando certos comportamentos e respostas mais ou menos provável.
Leitura obrigatória do Módulo 1: MEU CONTATO COM JOSEF POPPER- LYNKEUS (1932) – Freud

 

A mente inconsciente

 

De acordo com Freud, nós não temos apenas uma mente consciente, mas também uma mente inconsciente.
Segundo a psicanálise, o nosso pensamento do dia-a-dia, assim como o nosso raciocínio, são governados pela mente consciente. É a parte de nós mesmos que nós reconhecemos como o que nos define enquanto pessoas.
No entanto, há uma parcela de pensamentos inconscientes  que nunca chega ao consciente, pois são reprimidos antes que possam chegar à mente consciente. A razão disso é a autopreservação da mente. Os pensamentos são reprimidos porque poderiam colocar em risco conforto mental da pessoa que os reprime.
Um exemplo prático é o mecanismo de defesa de negação que estudaremos mais adiante. Você inclusive já deve ter ouvido o termo “negação” sendo usado no cotidiano. Se refere justamente a um mecanismo de defesa estudado na psicanálise. Na prática, a pessoa nega um fato para evitar enfrentar a desilusão e a angústia da experiência do fato.
É perfeitamente normal e saudável manter algumas lembranças e pensamentos reprimidos onde eles não podem causar danos. No entanto, às vezes o conteúdo da mente inconsciente começa a causar problemas.
Por exemplo, alguns dos mecanismos de defesa que usamos para manter informações perturbadoras ou difíceis enterradas no inconsciente podem deixar de funcionar, como resultado os nossos pensamentos e comportamentos se tornam disfuncionais ou patológicos.
Além da mente consciente e inconsciente (e pré-consciente que veremos em aulas futuras), nossas personalidades contêm três partes que muitas vezes estão em conflito.
Freud nos revela que todos nós temos três componentes para a formação de nossa personalidade. Esses elementos são:
  •  o Id
  • o Ego
  • o Superego
Esta abordagem é também chamada de “modelo de iceberg” da personalidade, conforme mostrado no diagrama.

 

O Id é a parte com os desejos primitivos de uma pessoa. É responsável por nossos impulsos mais básicos e urgentes, nos guiando na busca de emoção e prazer. Alguns psicanalistas descrevem que o Id é como uma criança rebelde – ele não tem controle de impulso e procura satisfazer suas necessidades a qualquer custo.O Id opera de acordo com o “princípio do prazer” – nada importa mais do que gratificação imediata.
Por razões óbvias que veremos em aulas futuras, é provável que alguém com um Id dominante se depare com muitos problemas na sociedade, tendo em vista o excesso de moralidade que geralmente constitui o meio.
O Ego pode ser pensado como uma personalidade cotidiana, adulta e que pode ser sentida. O Ego impede as pessoas de cederem aos seus aos caprichos e desejos do id, pois faz um papel de intermediador com o superego. O Ego opera de acordo com o “princípio da realidade”. Enquanto o Id quer tudo nos seus próprios termos, o Ego é fundamentado na realidade e entende que não é uma boa ideia atender constantemente aos desejos.
Um ego saudável permite que uma pessoa pense em soluções sensatas de forma prática, evitando a ilusão e a fantasia.
Finalmente, o Superego pode ser pensado como a nossa autoridade moral interna. É a parte de nós mesmos que atua como nossa consciência e guia do que entendemos como certo ou errado. Alguns psicanalistas descrevem o Superego como a voz interior que nos impede de “cometer uma bobagem”.
O Superego é formado como o resultado de nossas interações com os nossos cuidadores e a sociedade ao nosso redor. À medida que crescemos, aprendemos como devemos nos comportar para garantir a aprovação e os cuidados daqueles que nos rodeiam.
Internalizamos essas normas e valores como um aspecto de nossa própria personalidade. Alguém com um superego dominante pode estar propenso a sentimentos de culpa excessiva. Podem estabelecer padrões de comportamento muito altos, ou podem até ficar paranoicos por terem realizado ações imorais.
Reflexão pessoal: O que pode estar dentro do seu superego?
Quais valores morais o seu Superego defende? Você se lembra de “aprender” algum desses valores ou você os absorveu sem perceber que você estava fazendo isso? Quais comportamentos sociais você acha certos ou errados? Por quê?

 

Leitura complementar recomendada:
 Consciente e Inconsciente – Brasil Escola
"A contribuição teórica mais especial de Freud é a de que o comportamento é governado por processos inconscientes e não somente pelos processos conscientes. Freud explica a libido como uma pulsão sexual instintiva existente desde o nascimento, e esta é a força motivadora do comportamento.
A psicanálise é uma teoria que possui como característica inicial o determinismo psíquico, sua função é explicar que nada ocorre por acaso, ou seja, não há descontinuidade na vida mental. Cada evento mental tem explicação consciente ou inconsciente, mas eles ocorrem tão espontaneamente, que Freud os descreve ligando um evento consciente a outro.
No inconsciente estão as pulsões, que são duas forças complementares, pulsão de vida e de morte. As pulsões são forças que estimulam o corpo a liberar energia mental, Freud os dividiu em duas categorias: os instintos de vida que se referem à autopreservação, esta forma de energia manifesta é chamada de libido; e instinto de morte que é uma força destrutiva, e pode ser dirigida para dentro. O consciente é a parte da mente que estamos cientes, porém Freud se interessou mais pelo inconsciente, que é uma área menos explorada e exposta"
"O nível consciente refere-se às experiências que a pessoa percebe, incluindo lembranças e ações intencionais. A consciência funciona de modo realista, de acordo com as regras do tempo e do espaço. Percebemos a consciência como nossa e identificamo-nos com ela. Parte do material que não está consciente num determinado momento pode ser facilmente trazida para a consciência; esse material é chamado pré-consciente.
Por Patrícia Lopes
Equipe Brasil Escola"
Veja mais sobre "Consciente e Inconsciente" em: https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/consciente-inconsciente.htm
 
 

 

O princípio da formação da personalidade

 

As experiências infantis são muito importantes na formação da personalidade de um adulto. Isto é dizer que as experiências que temos enquanto somos crianças são cruciais para a compreensão dos problemas que poderemos desenvolver mais tarde na vida adulta.
Nenhum dos nossos comportamentos é acidental.
Na psicanálise toda ação tem uma causa anterior. Isso é o mesmo que dizer que sonhos e comportamentos podem ser explicados com referência em eventos ou causas anteriores.
Muitos problemas psicológicos surgem como resultado de sermos incapazes de lidar com nosso verdadeiro “eu”, nossas vontades, nossas memórias e desejos. Nos deparamos com a tarefa contínua de gerenciar e conter várias unidades e desejos.
Quando alguém não consegue atingir esse equilíbrio delicado, corre o risco de ter problemas psicológicos e emocionais.
Por exemplo, embora não sintamos com frequência impulsos socialmente inaceitáveis, como o ódio, desejo de vingança, luxúria etc. sabemos em contrapartida que temos a capacidade de sentir qualquer uma dessas coisas coisas.
Aquilo então que não é sentido conscientemente, é reprimido no inconsciente. O conteúdo reprimido pode fazer com que sintamos mal-estar ou auto-aversão, duas situações que podem assumir a forma de ansiedade ou angústia geral.
Ao usar as técnicas da psicanálise um(a) psicanalista pode descobrir o conteúdo oculto da mente inconsciente. A origem da raiva, angústia e do sintoma.
A este ponto do curso é importante já termos entendido que quando falamos de psicanálise, falamos de uma teoria e também de uma prática terapêutica.
A técnica-chave usada na terapia psicanalítica é a “associação livre”. Explicaremos adiante de forma detalhada como funciona, mas para que entenda na associação livre o cliente é instruído a falar tudo o que lhe vier à mente.
Ao decorrer da carreira de psicanalista você verá que mesmo quando alguém se depara com um assunto perturbador ou difícil de discutir, é provável que se abra eventualmente enquanto o psicanalista estiver disposto a ouvir.
A psicanálise então lidará com as experiências passadas dos indivíduos. Como explicado acima, tenderemos a reprimir tudo aquilo que causaria angústia por não ser moralmente aceito. Os conteúdos reprimidos e recalcados, voltarão mais tarde em forma de sintomas.
O sintoma, por sua vez, é tudo aquilo que se manifesta no cliente/paciente como reflexo de conteúdo recalcado.
Para que possamos então entender a psicanálise a fundo para podermos auxiliar quem precisa, precisamos entender a origem dos sintomas.
Na próxima aula veremos sobre a relação objetal. Aprenderemos como nos relacionamos com o meio, com as pessoas. Isso nos dará ferramentas para entendermos como se originam a inveja, a gratidão e, consequentemente, os sintomas.
A relação objetal

 

Na teoria da relação objetal, propõe-se que nos relacionamos com o mundo através de objetos e, diferentemente do senso comum, os objetos não são apenas objetos inanimados, mas são também pessoas. Toda e qualquer parte de uma pessoa pode ser considerada um objeto. E é exatamente isso que ocorre nos primeiros meses do bebê, o início das relações objetais.
Os bebês irão compreender o seio da mãe (ou seu representante simbólico, tal qual a mamadeira, por exemplo) como um objeto. Para o bebê, tudo se resumirá ao seio, pois além de ser o primeiro objeto com o qual ele efetivamente terá contato, será único objeto que integrará seu mundo pelos próximos meses após o nascimento.
A relação com o seio é tão profunda que o bebê o integra como parte da própria vida: “Sob o predomínio dos impulsos orais, o seio é instintivamente sentido como sendo a fonte de nutrição e, portanto, num sentido mais profundo, da própria vida” (KLEIN, 1957/2006, p.210).
Leitura complementar:
A origem da inveja e da gratidão

 

Graças a traços genéticos e culturais, os bebês são acometidos por inúmeras fantasias inconscientes a respeito do mundo exterior. Tais fantasias primitivas e arcaicas levam o bebê a realizar a clivagem do objeto (Klein, 1932;1935). Isto é, o bebê parte mentalmente o objeto que passará a ser visto sob duas percepções, chamados de seio bom e seio mau.
Para o bebê, sempre que o seio o alimenta será considerado bom. No entanto, sempre que o priva de alimento, será considerado mau. Ressalta-se que a questão não baseia-se na mera alimentação, sendo isso apenas um exemplo. O bebê sempre entenderá o seio de acordo com suas demandas particulares, sejam elas de afeto ou de alimento.
O seio bom é amado e gratificado, pois sacia as demandas do bebê. O seio mau, em contrapartida, é odiado e invejado, pois o bebê acredita que  ele o priva da nutrição e retém o leite de maneira totalmente deliberada, portanto se torna alvo de inveja, já que possui o que o bebê deseja.
A inveja que o bebê sente o leva a fazer inúmeras investidas em suas fantasias contra o seio mau, liberando sua agressividade e ódio que se manifestam de variadas maneiras, como uma mordida no seio, por exemplo, ou o ato de defecar, subentendido como uma tentativa de envenenar o seio mau.
A posição esquizo-paranoide
O bebê acredita que suas investidas agressivas contra o seio mau irão gerar retaliação por parte do seio. Isso faz com que o bebê desenvolva ansiedade persecutória, acreditando que será vítima dos anseios malignos do seio mau a qualquer momento. Este estágio é chamado de posição esquizo-paranoide, a ideia fixa, porém de totalidade momentânea, de que o seio mau irá se vingar. O bebê viverá neste estágio desde o nascimento até aproximadamente 4 ou 6 meses de idade quando obterá outra percepção do mundo.
Sugestão de leitura:
Onde vivem os Monstros: entre a Posição Esquizo-paranóide e a Posição Depressiva
Onde vivem os Monstros: entre a Posição Esquizo-paranóide e a Posição Depressiva.
Onde Vivem os Monstros é um livro infantil americano escrito em 1963 por Maurice Sendak. O livro trata de vários assuntos sujeitos à interpretações psicanalíticas mas neste texto iremos nos concentrar em uma leitura centrada nos conceitos teóricos de Posição Esquizo-paranóide e Posição Depressiva de Melanie Klein. Para isso, iremos primeiro fazer um resumo do livro que seguiremos por uma breve apresentação teórica das posições citadas acima. Finalmente, iremos interligar elementos da história de maneira mais precisa com a teoria de Melanie Klein.
RESUMO
A história é a do menino Max que, vestido com sua fantasia de lobo, faz tanta malcriação em casa que é mandado para a quarto sem jantar pela mãe. Uma vez de castigo, ele se transporta para uma floresta, embarca em um veleiro, navega por meses, até chegar numa ilha, onde vivem os monstros. Lá, ele se estabelece como o mais monstruoso de todos e é rapidamente coroado rei. Segue-se então uma bagunça geral ordenada por Max, que vai aumentando até o próprio Max mandar os monstros para o quarto de castigo sem comida. Ao ficar sozinho, ele sente falta da comida de casa e das pessoas que gostam dele de verdade. Ele resolve então voltar para casa, mesmo contrariando os monstros, e ao chegar lá, um ano depois, encontra no seu quarto o seu jantar ainda quentinho esperando por ele.
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE
A Posição Esquizo-paranóide, conceito elaborado por Melanie Klein (1946), é considerada como a fase mais arcaica do desenvolvimento humano. Esta posição, situada nos primeiros meses de vida, é caracterizada pela primeira relação de objeto do bebê, sendo esse o seio da mãe. Esta relação de objeto provoca a aparição de defesas como a projeçãointrojeçãoidentificação projetiva e cisão (splitting) de objeto.
Segundo Klein, o ego da criança é exposto, desde seu nascimento, à ansiedade devido à pulsão de morte pulsão de vida que agem sobre seu ego. O conflito imediato das duas pulsões gera uma grande ansiedade no bebê. Confrontado pela ansiedade derivada da pulsão de morte, o bebê precisa livrar-se dela e para isso seu ego a deflete. Essa deflexão da pulsão de morte consiste em parte em uma projeção e em parte em uma conversão da pulsão de morte em agressividade. Ocorre então um processo derivado de um dos mecanismos de defesa citados acima — a cisão ou splitting. O ego se divide e projeta a parte em que se encontra a pulsão de morte para fora, no objeto externo (seio). Logo, o seio é percebido como mau e ameaçador para o ego. Dessa forma, o medo original da pulsão de morte é transformado em medo perseguidor. Ao mesmo tempo, é estabelecida uma relação não só com o objeto mau como com o objeto bom (ideal). Ou seja, da mesma forma que a pulsão de morte é projetada a fim de proteger o ego, a libido também é projetada para criar um objeto idealizado (pulsão de vida). Parte de ambas pulsões que permanecem dentro do ego são usadas para estabelecer uma relação com esse objeto idealizado. Dessa forma, o ego tem uma relação com dois objetos desde muito cedo: o objeto primário (seio) é nessa fase dividido em duas partes — seio bom (ideal) seio mau (persecutório) (SEGAL, 1975). Dentro dessa dinâmica, o objetivo passa a ser adquirir, manter dentro e identificar-se com o objeto ideal que é percebido como algo que lhe dá vida e que lhe protege.
O bebê encontra-se aí então na Posição Esquizo-paranóide. Essa fase é marcada pela predominância da ansiedade referente ao medo da intrusão dos objetos maus e persecutórios em seu ego e a consequente aniquilação de seu objeto ideal interno e do self. A vivência das ansiedades nessa fase levaram Klein a dar-lhe esse nome: Posição por ser transitória, Paranóide por ser a ansiedade predominante, e Esquizóide pelo estado do ego e de seus objetos (splitting) que caracterizam a fase (SEGAL, 1975).
POSIÇÃO DEPRESSIVA
A Posição Depressiva designa um conceito kleiniano relativo à etapa posterior do desenvolvimento do bebê. A autora acredita que, após vivenciar toda a turbulência da Posição Esquizo-paranóide, o bebê poderá ingressar nesta nova fase da Posição Depressiva. Klein também acredita que o início do Complexo de Édipo ocorre mais cedo que na teoria de Freud e coincide com o início desta Posição Depressiva, quando a ansiedade persecutória diminui e os sentimentos amorosos passam a ocupar mais espaço. Klein (1952), acredita também que algum grau de integração seja necessário para que o bebê consiga introjetar as figuras parentais como um todo. Esse desenvolvimento da integração e da síntese é iniciado quando o bebê ingressa na Posição Depressiva deixando as características da Posição Esquizo-paranóide para trás. O ego passa a diminuir a distância entre o mundo externo e interno, e consequentemente, os objetos passam a ser mais integrados e realistas e menos idealizados. Todos esses processos de integração e de síntese fazem com que apareça o conflito entre amor e ódio. Assim, surge a ansiedade depressiva e o sentimento de culpa diferentes dos encontrados na Posição Esquizo-paranóide, pois os objetos bons e maus não são mais cindidos como antes e há uma aproximação entre a mãe boa e a mãe má.
Na posição depressiva, o bebê encontra-se então mais integrado e as defesas não aparecem de forma tão extrema quanto na Posição Esquizo-paranóide e correspondem mais à capacidade do ego de enfrentar a realidade psíquica. Frente a essas ansiedades eminentes, o ego terá tendência a negá-las e pode, quando a ansiedade for extrema, negar o amor pelo objeto. Nesse caso, ocorrerá um abafamento do amor e um distanciamento dos objetos primários e um aumento na ansiedade persecutória que poderá ou não, resultar em uma regressão à Posição Esquizo-paranóide.
ANÁLISE DO LIVRO PELA TEORIA KLEINIANA
Nas primeiras páginas do livro, podemos observar que o pequeno Max, vestido de sua fantasia de lobo, começa a fazer bagunça em casa, especialmente em uma das cenas perseguindo o cachorro com um garfo na mão, como se fosse devorá-lo. Para Klein (1946), “o impulso destrutivo projetado para fora é inicialmente vivenciado como agressão oral”. Além do mais, a autora acrescenta que “em estados de frustração e ansiedade, os desejos sádico-orais e canibalescos são reforçados”. Podemos então identificar que, por alguma razão que não é apresentada no livro, Max estaria vivenciando algum tipo de frustração ou ansiedade que teria o levado a se comportar de maneira agressiva. Quando Max é mandado para o quarto sem jantar, esta privação perturba o equilíbrio normal entre impulsos libidinais e agressivos e reforça então seus impulsos agressivos já atuantes criando assim uma voracidade ainda maior.
Um dos diálogos mais interessantes do livro, do ponto de vista kleiniano, ocorre no momento onde a mãe aparece no livro quando repreende Max pelo seu comportamento destrutivo. Ela o chama de “monstro” (símbolo de voracidade) e ele lhe responde “olha que eu te como” e acaba sendo mandado para a cama sem poder jantar. Esta troca de palavras mostra claramente a agressão oral e a presença do medo e do controle de comer e ser comido, características da angústia persecutória da Posição Esquizo-paranóide. Segundo Klein (1946) “Como os ataques fantasiados ao objeto são fundamentalmente influenciados pela voracidade, o medo da voracidade do objeto, devido à projeção, é um elemento essencial na ansiedade persecutória: o seio mau o devorará da mesma forma voraz com que ele deseja devorá-lo”.
Além desta observação, identificamos neste diálogo um dos mecanismos de defesa mais citados por Klein, a Identificação Projetiva. É a partir da projeção da pulsão de morte que se desenvolve tal mecanismo de defesa. Partes do eu (self) e de objetos internos são projetadas (splitting) no objeto externo tornando-o possuído e controlado por essas partes projetadas que possibilitam o self a identificar-se com elas. Esse mecanismo tem vários objetivos. Pode ser dirigido ao objeto ideal, com o fim de evitar separação do mesmo, ou dirigido ao objeto mau a fim de obter controle sobre ele, a fonte de perigo (KLEIN, 1958). Ora podemos ver que Max, ao ser chamado de monstro, projeta as partes excindidas do seu eu, provindas da angústia persecutória, para dentro do objeto externo, neste caso a mãe “olha que eu te como!”. Max se identifica então com sua mãe a partir das partes do eu que projetou contra ela, o medo de ser devorado.
Frustrado, Max começa a imaginar a aparição de uma floresta e da ilha dos monstros. É nesta viagem do inconsciente que podemos ver a natureza fantasiosa da cisão (splitting) que Max faz do objeto e do self contra a ansiedade externa. De aparência assustadora e agressiva, os monstros, no entanto, não assustam Max que rapidamente os domina com um “truque mágico”. Os monstros ficam com tanto medo que declaram que “mais monstruoso do que ele não havia” e Max vira então rei dos monstros.
Ao ser coroado rei dos monstros, Max ordena uma bagunça geral, aquela mesma bagunça que não pôde fazer em casa, Max mostra grande onipotência e pela negação, se afasta ainda mais da realidade psíquica de frustração que estava até pouco tempo atrás. Este processo de onipotência e negação é também geralmente observado na Posição Esquizo-paranóide. Max se torna então neste momento apenas um “menino mau” (negação de uma parte do ego) que esqueceu de sua mãe (relação de objeto) e dos sentimentos amorosos que tem por ela.
Seguindo esta negação da realidade psíquica, Max manda os monstros pararem de fazer bagunça e irem para cama sem jantar, repetindo o mesmo castigo que sua mãe lhe deu mais cedo. Com essa ação o ego de Max vai se esforçar para projetar o mau e introjetar o bom como mecanismo de defesa. Mas enquanto os monstros dormem, Max começa a se sentir sozinho. Ele é então invocado a voltar para a mãe pelo cheiro de comida que chega até ele e decide desistir de ser rei dos monstros para voltar ao seu quarto onde sua comida o espera. Podemos ver aqui o processo que Klein (1946) identificou como gratificação alucinatória onde há uma invocação onipotente do objeto e da situação ideais, a mãe que lhe dá comida, e a aniquilação do objeto mau persecutório e da situação de dor, fugir do isolamento e da possibilidade se ser devorado pelos monstros. Ao ir embora da ilha dos monstros, outro diálogo importante aparece quando os monstros dizem a Max “oh por favor não vá embora…nós vamos comer você…gostamos tanto de você!” ao qual o menino responde “Não!”. A realização da integração do objeto bom (“gostamos tanto de você”) com o objeto mau (“vamos comer você”) é aqui simbolizada na fala dos monstros. Ele se dá conta então do perigo (pulsão de morte) de ceder totalmente ao seu Id (os monstros) e literalmente nega sua angústia persecutória. É pela cisão (splitting), que permite ao ego emergir do caos (bagunça geral) e ordenar suas experiências rumo à integração (fugir da ilha), que Max faz sua viagem de volta, rumo à Posição Depressiva.
Ao ver que apesar de poder fazer bagunça com os monstros, eles são ameaçadores e não lhe dão a mesma gratificação que a mãe, Max vive uma intensificação do medo da perda do objeto bom pela sua destrutividade e percebe, pela gratificação da comida (lembrada pelo cheiro), que a mãe também tem um lado bom. Ao fazer a viagem de volta, Max diminui a distância psíquica entre o mundo externo (quarto) e interno (ilha dos monstros), e assim consegue integrar o objeto (mãe) como mais realista e menos idealizado. Pelo impulso de reparação de voltar para casa, Max unifica a mãe boa e a mãe má e retorna então à Posição Depressiva. Esse retorno se faz ao voltar para seu quarto, onde encontra seu jantar (seio gratificador) e começa a tirar sua fantasia de lobo, símbolo de seu impulso primitivo, agressivo e destruidor.
Em conclusão podemos dizer que, pela idade que aparenta ter no livro, Max já deveria ter atingido a posição depressiva. No entanto, o menino parece, no momento da trama, estar atuando seus impulsos agressivos. Quando vive a ansiedade e frustração do castigo da mãe, ele se distancia do objeto primário (mãe) no seu inconsciente, pela viagem à ilha dos monstros, e abafa seu amor, aumentando assim sua ansiedade persecutória e regredindo momentaneamente à Posição Esquizo-paranóide (bagunça geral). Ele somente volta à Posição Depressiva no final do livro quando consegue unificar o objeto bom e o objeto mau como um mesmo objeto.
REFERÊNCIAS
KLEIN, M. Algumas conclusões teóricas relativas à vida emocional do bebê. In Inveja e gratidão e outros trabalhos. Obras completas de Melanie Klein. Vol III, pp.86–118, 1952
KLEIN, M. Notas sobre alguns mecanismos esquizóides. In Inveja e gratidão e outros trabalhos. Obras completas de Melanie Klein. Vol III, pp.17–43, 1946
KLEIN, M. Sobre o desenvolvimento do funcionamento mental. In: Obras Completas de Melanie Klein: Volume III Inveja e Gratidão e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1958.
SEGAL, H. Introdução à Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
SENDAK, M. Onde vivem os monstros, São Paulo, Cosac Naify, 2009
A origem da culpa

 

Os sentimentos de culpa, que ocasionalmente surgem em todos nós, têm raízes muito profundas na infância[…] (KLEIN, 1959/2006).
A partir do desmame, geralmente por volta do sexto mês de idade do bebê, sua percepção de mundo se altera. Entende que o seio, além de não ser parte de si, de sua própria vida, é na verdade parte do mundo externo, um outro objeto.  O bebê começa a viver a fase de perda, o luto. A perda virá justamente do sentimento da separação do self do objeto bom, e o luto virá por ter destruído parte do objeto que odiava com sua agressividade. 
Os novos enlaces de interpretação do mundo farão com que o bebê sinta então a culpa pela primeira vez, concretizando o que Klein (1935) chamará de posição depressiva. Como terá aprendido novos mecanismos de defesa, não mais terá a necessidade da clivagem, ou melhor dizendo, partição de objetos. Deste momento em diante o bebê não irá mais chorar por causa da raiva, mas sim por causa da enorme culpa que sente por ter maltratado o seio mau que se manifestará em forma de tristeza. A culpa pelas investidas contra o seio mau acompanhará o bebê pelo resto da vida.
 
O motivo pelo qual preferimos não sentir

 

Em seu livro Das Unbehagen in der Kultur, Sigmund Freud nos leva a refletir ao propor que há uma incompatibilidade entre indivíduo e civilização. Isso seria então a causa de um mal-estar constante.
Nota: antes de prosseguirmos, é importante notar que na obra citada acima Freud não faz nenhuma distinção entre cultura e civilização, por isso pode ser encontrada traduzida para o português como O Mal-Estar na Civilização ou O Mal-Estar na Cultura.
Freud observou que a vida em sociedade sempre irá exigir o sacrifício e a anulação dos desejos pulsionais, gerando um eterno mal-estar em todas as pessoas. Essa anulação de desejos é uma condição necessária para que possa existir a civilização, a sociedade.
Isso acontece pois a sociedade funciona sob o princípio de realidade, então o ser humano é obrigado a adiar sua satisfação. Mais do que isso, é obrigado a tolerar o desprazer. Desta maneira, à medida em que suas demandas pessoais são submetidas às demandas da sociedade, a felicidade é colocada de lado.
A cultura é definida por Freud da seguinte maneira: “a soma total de operações e normas que distanciam nossa vida da de nossos antepassados animais e que servem a dois fins: a proteção do ser humano frente à natureza e a regulação dos vínculos recíprocos entre os homens”.
Horda primitiva
“Horda primitiva” é um termo tártaro (em tártaro: Tatarlar, no alfabeto cirílico: Татарлар), usado por Charles Darwin e grande parte dos sociólogos evolucionistas do século XIX para se referir à forma mais simples possível de formação social existente nos tempos pré-históricos. A horda seria um elo entre o estado de natureza (ou estado natural) e o estado de cultura. A expressão também é usada por alguns etnólogos para caracterizar grupos que se dedicam à caça e coleta em um determinado território.
A noção da horda primitiva foi descrita foi Darwin em A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo (1871). Freud, em Totem e Tabu (1912-1913), escreveu que “Darwin deduziu a  partir dos hábitos dos macacos antropomorfos que os homens originalmente também viviam em grupos ou hordas comparativamente pequenas, dentro das quais o ciúme do homem mais velho e mais forte impedia a promiscuidade sexual. “
Diversos outros autores acolhem e complementam o conceito de horda primitiva. Como exemplo, James Jasper Atkinson retornou a essa hipótese em Social Origins. Primal Law (1903). No livro ele se refere à horda como uma “família ciclópica”.
A ideia é também avaliada pelo escritor escocês Andrew Lang no livro The Secret of the Totem (1905). O escritor reconhece e certifica a opinião de Darwin: “A primeira prática foi a do pai ciumento: ‘nenhum homem pode tocar as mulheres em meu acampamento’. Em seguida,  se necessário expulsava até mesmo os filhos adolescentes da horda”.
Mas foi Freud, em Totem e Tabu, quem forneceu maior insight e escopo à teoria de Darwin. Apesar das críticas que surgiram quando o livro foi publicado, ele manteve a ideia e voltou a ela em Psicologia de Grupo e Análise do Ego (1921c), O Futuro de uma Ilusão (1927c), O Mal-estar na Civilização ( 1930a [1929]), e especialmente em seu último livro, Moisés e o Monoteísmo (1939a).
A principal contribuição de Freud foi a ideia do assassinato do Pai da horda primitiva: “Um dia, os irmãos se reuniram, mataram e devoraram seu pai e, assim, acabaram com a horda patriarcal. Unidos, eles tiveram coragem e conseguiram fazer o que seria impossível para eles individualmente “. O crime coletivo é então correlato com o nascimento de um grupo e, mais tarde, com o nascimento da humanidade.
Ou seja,  ser humano vivia em uma era primitiva e a única maneira de deixá-la era através de um ato fundamental irreversível.  Não era raro, antes de se unirem, que um ou outro filho eventualmente matasse o pai terrível. No entanto, apenas dava continuidade à horda primitiva, tomando o lugar do antigo pai. O grupo sempre continuava como antes em casos assim.
Foi a decisão unânime do assassinato (o fato de os irmãos terem se unido) que permitiu à humanidade entrar na história. Os filhos só se tornaram irmãos quando foram capazes de superar sua impotência  e alcançaram um senso de solidariedade.
Agora sua relação havia mudado: cada um reconhecia o outro como igual, o que lhes permitia escapar do fascínio mortal que experimentavam, ou seja, da admiração e do medo que experimentavam diante do pai onipotente.
Curiosidade: A importância que Freud atribuiu ao seu conceito de horda primitiva se reflete em uma comunicação que teve com Abram Kardiner (psiquiatra e psicanalista), na qual escreveu: “Não leve isso muito a sério. É algo que eu sonhei em uma tarde chuvosa de domingo“.
Leitura sugerida para o sucesso na prova: Mal-estar na civilização – Freud

Desenvolvimento Psicossexual

Como vimos no Módulo 1,  a personalidade de todo ser humano é composta de três partes: o Id, o Ego e o Superego. De acordo com Freud, cada um de nós desenvolve essas partes através de uma série de fases na infância que são descritas em “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”. Na obra, Freud aborda a teoria da sexualidade, uma proposta sobre o desenvolvimento psicossexual dos seres humanos.
Nota: Antes de prosseguirmos, precisamos entender que, embora estejamos estudando o desenvolvimento psicossexual, esta teoria não é sobre “sexualidade”. No assunto que estamos estudando, o termo “sexual” é usado da mesma maneira que o termo “libido”, ou seja, em referência a um foco físico de prazer.
O objetivo de cada fase
Toda criança segue uma trajetória definida quando se trata de desenvolvimento. Conforme amadurece, a criança se concentra em variadas partes de seu corpo e as explora com o objetivo de produzir sensações de prazer, sensações de controle ou ambos.
Em cada fase (ou estágio), a criança enfrenta um conflito em particular, uma tensão. A criança deve “resolver” essa tensão entre seus próprios desejos e as restrições impostas a ela por outras pessoas (principalmente seus pais, cuidadores etc.) e a sociedade em geral.
Somente quando passamos com relativo sucesso por todas as etapas é que conseguimos desenvolver uma personalidade adulta funcional, isto é, menos sintomática.
Ao todo, de acordo com Freud, são 5 fases do desenvolvimento psicossexual:
 
Fase           Idade     Zona Erógena
Oral              0 – 1          Boca
Anal             1 – 3           Anus
Fálica           3 – 6        Genitais
Latência     6 – 12        Não há
Genital       12+           Genitais
 
A fase oral (ou estágio oral)
A fase oral dura desde o nascimento até o bebê ter aproximadamente 12 meses de idade. Nessa fase o bebê está focado principalmente na boca como uma fonte primária de prazer.
A libido do bebê está situada nos lábios e gengivas.
É frequente que nessa fase o bebê leve os objetos que estão ao seu redor diretamente à boca. Comumente irá chupar esses objetos, sempre uma reprodução da nutrição do seio. O bebê é dominado e impulsionado pelo ID que, como já vimos, é o elemento da personalidade centrado na busca de prazer e de gratificação a qualquer custo.
A principal tarefa do bebê será então tornar-se menos dependente dos cuidadores. Isso se concretiza no processo de desmame. Nesse ponto, o bebê precisa aprender a se alimentar de uma maneira que dependa menos da capacidade (e vontade) do cuidador, dependendo muitas vezes apenas da intermediação do cuidador. Esse é o primeiro marco importante de desenvolvimento que uma criança precisa passar com sucesso.
Se um bebê não é amamentado e desmamado de maneira adequada, poderá mostrar sinais de uma “personalidade oral” quando for adulto. Como veremos adiante, o adulto fixado na fase oral sempre buscará satisfação oral.

 

A fase anal (ou estágio anal)
Ocorre entre as idades de 12 a 36 meses. Nessa fase, o foco de prazer da criança se move da boca para o ânus. A criança aprende que pode exercer controle sobre os movimentos intestinais e também percebe que é uma entidade individual, separada de seus pais e do mundo ao seu redor.
É quando o ego da criança se desenvolve e ela começa a perceber que seus desejos nem sempre podem ser realizados. Nessa fase as crianças são ensinadas como e quando usar o vaso sanitário e, consequentemente, aprendem os limites sobre onde, quando e como podem defecar.
Aprendem na fase anal os limites das relações, assim como percebem o potencial que têm para manipular outras pessoas.

 

A fase fálica (ou estágio fálico)
Entre os três e cinco anos de idade a criança estará na fase fálica. Ela percebe que existem diferenças físicas entre o corpo masculino e o corpo feminino. Além disso, percebe que seus órgãos genitais podem ser fonte de prazer.
Nessa fase, as crianças normalmente descobrem que podem se masturbar. É quando começam a se identificar como pertencentes a um gênero específico e geralmente começam a separar brinquedos, atividades e interesses em “brinquedos de meninas” e “brinquedos de meninos”. Isso acontece como um reflexo cultural da sociedade em vigor.
É nessa fase que vivenciam o complexo de Édipo. Veremos em outra aula, ainda neste capítulo, a respeito do complexo de Édipo.

 

A fase de latência (ou estágio latente)
A fase de latência ocorre entre os 6 anos de idade e a puberdade. É um período em que a energia sexual é reprimida ou simplesmente permanece inativa. Essa energia ainda está presente, mas é sublimada em outras áreas, como atividades intelectuais e interações sociais.
Essa etapa é importante para que a criança desenvolva sua autoconfiança através do exercício de novas habilidades sociais e de comunicação. O superego continua a ser lapidado enquanto as energias do id são suprimidas. As crianças aprendem valores e aprendem a se relacionar socialmente com outras crianças e adultos de fora da família.

 

A fase genital
Na fase genital a libido se torna ativa mais uma vez. Durante esta fase do desenvolvimento psicossexual, o indivíduo desenvolve um forte interesse sexual em objetos externos, isto é, se interessa sexualmente por outras pessoas. Começa durante a puberdade, mas dura pelo resto da vida da pessoa.
Nos estágios anteriores, o foco era exclusivamente nas necessidades individuais, porém o interesse pelo bem-estar dos outros cresce relativamente durante esse estágio. O objetivo dessa etapa é estabelecer um equilíbrio entre as várias áreas da vida.
Se as outras fases foram concluídos com relativo sucesso, o indivíduo deve estar agora equilibrado e medianamente preparado para submeter-se às exigências da sociedade.
Ao contrário dos estágios anteriores,  ego e o superego estariam completamente formados e funcionando na fase genital.

 

FIXAÇÃO

 
Como vimos, nosso desenvolvimento psicossexual possui 5 fases. Nas fases oral, anal, fálica e de latência nos deparamos com conflitos que precisam ser resolvidos adequadamente para que possamos seguir para a próxima fase sem resquícios comportamentais associados à fase anterior.
Devido ao alto nível de variáveis que cercam as relações que estabelecemos durante cada fase, é muito comum que  diversos conflitos não sejam devidamente resolvidos, gerando então uma fixação.
Quando ocorre a fixação em determinada fase, o indivíduo poderá exibir características pulsionais daquela fase para o resto da vida.
Freud observou que há duas razões frequentes pelas quais uma pessoa pode gerar a fixação em determinada fase:
  • As necessidades de desenvolvimento da criança não foram atendidas adequadamente durante aquela fase, o que causa frustração;
  • As necessidades de desenvolvimento da criança foram atendidas em demasia, gerando na criança o desejo inconsciente de permanecer naquele estágio.
Ambos os casos citados acima podem levar a uma fixação na zona erógena associada à fase em que a criança está vivendo.

Fixação na fase oral

A fixação na fase oral frequentemente pode gerar um ou mais dos seguintes comportamentos (e vários outros não listados que você perceberá durante o exercício da psicanálise):
Abuso de álcool: o alcoolismo é uma forma de fixação oral. Em muitos casos está relacionado à negligência na infância. Especificamente, se uma criança é negligenciada durante a fase oral, ela pode desenvolver uma necessidade de estímulo oral constante. Isso pode aumentar a tendência de beber com frequência, o que contribui para o abuso de álcool.
Fumar: da mesma forma, os adultos com fixação oral têm maior probabilidade de fumar. O ato de sentir o cigarro na boca oferece a estimulação oral necessária. Os cigarros eletrônicos atendem à mesma necessidade.
Comer demais: comer demais é também uma característica da fixação oral. Está associado a ser sub ou superalimentado no início da vida. Isso cria excesso de necessidades orais na idade adulta, necessidades que só podem ser supridas por excessos.
Consumo de itens não comestíveis: pode se desenvolver como um distúrbio alimentar, hábito ou resposta ao estresse vivido na fase fálica. Nesse caso, as necessidades orais excessivas são satisfeitas com a ingestão de objetos não comestíveis (ou que não tenham sido feitos diretamente para esse fim). Isso pode incluir substâncias como:
  • papel
  • sabonete
  • giz
  • gelo
  • gelo
  • qualquer tipo de sujeira
Roer unhas: roer unhas também é uma forma de fixação oral. O ato de roer as unhas satisfaz a necessidade de estimulo oral.
Fixação na fase anal
As fixações nesse ponto do desenvolvimento podem levar ao que Freud chamou de personalidade anal-retentiva ou anal-expulsiva.
Indivíduo com personalidade anal-retentiva: pode ter experimentado um treinamento excessivamente rigoroso e severo com o penico quando era criança, por isso pode se tornar excessivamente obcecado com ordem e a arrumação.
Indivíduo com personalidade anal-expulsiva: exatamente o oposto do anal-retentivo. O indivíduo com personalidade anal-expulsiva pode ter experimentado um treinamento menos rígido com o penico, resultando em uma personalidade mais confusa e desorganizada na vida adulta.

Fixação na fase fálica

Fixações na fase fálica geralmente estão relacionadas à potência. As pessoas com fixação nesta fase comumente demonstrarão vaidade excessiva e orgulho. É comum serem exibicionistas, pois refletem a alta valorização que tiveram de seus genitais na infância.

Fixação na fase de latência

O fracasso em passar pela fase de latência pode resultar em imaturidade ao longo da vida ou na incapacidade de manter relacionamentos felizes, saudáveis e satisfatórios quando adulto.
Por que é importante saber se há fixação em alguma fase?
Saber se um(a) cliente/paciente possui fixação em determinada fase é fundamental para o desenvolvimento do tratamento. Entender a fixação de um cliente permitirá que você faça intervenções mais oportunas durante a narrativa.
Exemplo: o cliente chega ao psicanalista e expõe sua queixa. Acha-se perfeccionista demais, tendo portanto uma relação quase sempre de insatisfação com o mundo e com as demais pessoas. Cobra-se demais e sente que nunca (ou quase nunca) cumpre com as próprias expectativas.  O cliente gostaria de ser menos exigente com as outras pessoas e, principalmente, com ele mesmo.
Apesar da superficialidade do relato, as relações nele expostas revelam a origem do sintoma. Caso essa fosse toda a informação disponibilizada pelo cliente você já teria o suficiente para saber que as intervenções iniciais teriam de tomar rumo à fase anal.

COMPLEXO DE ÉDIPO

Nesta aula nós veremos o complexo de Édipo sob duas perspectivas diferentes. Entenderemos primeiramente a teoria de Freud e em seguida veremos o que diz Melanie Klein. Em termos gerais, o simbolismo do complexo é o mesmo tanto para Freud quanto para Klein, o que difere é o momento em que ocorre segundo cada um dos autores.
O Complexo de Édipo (Freud)
Ocorre durante a fase fálica (idades de 3 a 6), na qual a fonte da libido está concentrada nos órgãos genitais do corpo da criança (Freud, 1905). Durante esse estágio, as crianças sentem um desejo inconsciente de possuir o cuidador do sexo oposto, por esta razão sentem também ciúme e inveja do cuidador do mesmo sexo.
Isto é, de acordo com Freud, no menino o complexo de Édipo surge porque o menino desenvolve desejos sexuais (prazerosos) inconscientes de possuir sua mãe.
A inveja e o ciúme são voltadas para o pai, objeto do carinho e da atenção da mãe. Esses desejos que sente pela mãe e a rivalidade em relação ao pai levam a fantasias de se livrar do pai e tomar seu lugar com a mãe.
Édipo e a Esfinge – Gustav Moreau – simbolismo
Os sentimentos hostis em relação ao pai levam à ansiedade de castração, um medo irracional de que o pai o castre (retire seu pênis) como punição.
Para lidar com essa ansiedade, o filho se identifica com o pai. Isso significa que o filho adota e internaliza as atitudes, características e valores que seu pai possui (por exemplo, personalidade, comportamentos masculinos do tipo pai etc.).
O pai se torna um modelo e deixa de ser um rival. Por meio dessa identificação com o agressor, os meninos adquirem seu superego e o papel social masculino. O menino substitui seu desejo de possuir sua mãe pelo desejo de possuir outras mulheres.
Para Freud, as meninas amam suas mães até o momento em que percebem que elas não possuem um  pênis, ponto em que começam a se apegar mais aos pais.  Mais tarde, a menina acaba se identificando mais com a mãe por medo de perder o amor dela. Da-se então a concretização ao que Freud chama de inveja do pênis.
Freud (1909) ofereceu o estudo de caso pequeno Hans como evidência do complexo de Édipo.
O Complexo de Édipo (Klein)
Através de análises com crianças, Melanie Klein percebeu certos padrões de repetições e de resoluções edípicas que até então não haviam sido observados na psicanálise. Ao longo de sua carreira, lapidou e detalhou o conceito de complexo de Édipo, propondo que seu início está logo no primeiro ano de vida, mais especificamente no desmame:
Observei que o complexo de Édipo se instala com a experiência de privação trazida pelo desmame, isto é, no fim do primeiro e início do segundo ano de vida. (Klein, 1927, p.182)
Para Klein, o complexo se fundamenta na relação de objetos, e não nos conceitos culturais vigentes. A criança sentirá a necessidade de possuir um objeto que possa amar e que possa retribuir o amor:
[…]o bebê sente uma necessidade crescente de ter um objeto que possa amar e pelo qual possa ser amado – um objeto perfeito, ideal – a fim de satisfazer sua ânsia de auxílio e segurança. Cada objeto, portanto, pode se tornar às vezes bom e às vezes mau. Esse movimento de ida e volta entre os vários aspectos das imagos primárias implica uma íntima interação entre os estágios iniciais do complexo de Édipo. (Klein, 1945, p.453)
O mesmo objeto que é desejado será visto como objeto castrador para a criança. A ansiedade resultante das fantasias de investidas contra a mãe faz surgir na criança a imago de uma mãe que “desmembra e castra” (KLEIN, 1928/1996, p.220).
Nos meninos a ansiedade de castração desencadeia o “complexo de feminilidade”. Isto é, a frustração por não possuir um órgão gerador de vida semelhante ao da mãe. Com o passar do tempo, o desejo frustrado se transforma em desprezo e agressividade em relação à figura feminina. Quando descobre possuir um pênis, o menino desperta a fantasia de “superioridade” (KLEIN, 1928/1996, p.220). Nas meninas a ansiedade de castração surge do medo de ter seu interior atacado pela mãe hostil. Em seguida, teme perder o amor da mãe.
Quanto ao surgimento do superego no arremate do desenvolvimento psicossexual do ser humano, de acordo com as observações de Klein, acontece antes do complexo de Édipo:
O superego antecede de alguns meses o início do complexo de Édipo, início que eu situo no segundo trimestre do primeiro ano de vida, junto com o começo da posição depressiva. Portanto, as primeiras introjeções do seio bom e do seio mau formam o alicerce do superego e influenciam o desenvolvimento do complexo de Édipo. Essa concepção da formação do superego contrasta com as afirmações explícitas de Freud de que as identificações com os pais são os herdeiros do complexo de Édipo e só têm êxito se o complexo de Édipo for superado com sucesso. (Klein, 1958, p.273)
Qual teoria está correta?
As duas teorias são semelhantes e não possuem diferenças significativas que possam anular uma a outra. A diferença entre a teoria de Freud e Klein está basicamente nos termos utilizados. Freud focou-se no conceito nuclear de  família para desenvolver sua explicação de complexo de Édipo, por isso irá se referir aos desejos do menino em relação à mãe e da menina em relação ao pai.
Klein observou que os desejos não se concentram nas figuras socialmente estabelecidas como pai e mãe, mas sim nos objetos que a criança tem como bom e mau. Desta forma, a teoria de Klein pode ser aplicada em todos os conceitos sociais e culturais.
Heterossexualidade e Homossexualidade
O complexo de Édipo não define se uma pessoa será heterossexual ou homossexual. Com o avanço dos estudos psicanalíticos, Freud percebeu que todos os seres humanos são naturalmente bissexuais. Em uma de suas últimas publicações, “Análise terminável e interminável” (1937), Freud observa o seguinte:
“É bem sabido que em todos os períodos houve, como ainda há, pessoas que podem tomar como objetos sexuais membros de seu próprio sexo, bem como do sexo oposto, sem que uma das inclinações interfira na outra. Chamamos tais pessoas de bissexuais e aceitamos sua existência sem sentir muita surpresa sobre elas. Viemos a saber, contudo, que todo ser humano é bissexual nesse sentido e que sua libido se distribui, quer de maneira manifesta, quer de maneira latente, por objetos de ambos os sexos.”
Isto é, alguém que não seja capaz de expressar conscientemente sua bissexualidade, a expressará de maneira inconsciente. O que define se uma pessoa será heterossexual ou homossexual é a miríade de variáveis das repressões que sofre.
Quando um indivíduo se reprime, se tornando assim heterossexual ou homossexual, estabelece no mesmo instante uma rivalidade entre as duas funções. Uma perturbará a outra, gerando um conflito interno insolúvel. Sempre que a função latente for estimulada (homossexual ou heterossexual), o indivíduo sentirá um desconforto estrutural:
“Não existe maior perigo para a função heterossexual de um homem do que o de ser perturbada por sua homossexualidade latente. Poderíamos tentar explicar isso dizendo que cada indivíduo só possui à sua disposição uma certa cota de libido, pela qual as duas inclinações rivais têm de lutar.”
Em suma, uma pessoa que se considera heterossexual está somente negando e reprimindo sua parcela homossexual. Uma pessoa que se considera homossexual, está negando e reprimindo sua parcela heterossexual. Essa repressão se torna motivo para um infindável conflito de preservação de energia libidinal. 
Na clínica, o indivíduo precisa perceber todas as repressões que sofreu e, principalmente, as repressões que continua praticando contra si mesmo(a). Enquanto negarmos o que somos, continuaremos intensificando ansiedades e, como consequência, continuaremos sofrendo.
Mecanismos de Defesa
 
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Instituto Somata · Mecanismos de Defesa
O Id, o Ego e o Superego estão constantemente em conflito. Quando o conflito entre essas três partes é carga pulsional demais para um indivíduo, o ego pode se utilizar de um ou mais mecanismos de defesa para proteger a consciência de angústias.
Por que Id, Ego e Superego estão em conflito constante?
O Id, como sabemos, tem demandas constantes que precisam ser atendidas para sua satisfação. As demandas são enviadas ao ego a nível inconsciente. O ego consulta o superego que permitirá ou não que a demanda seja realizada.
  1. Quando o superego permite que a demanda seja realizada, o ego então a realiza de acordo com a solicitação do Id;
  2. Quando o superego não permite que a demanda seja realizada, o ego fará uma avaliação:
    a) se a exigência de cumprimento da demanda por parte do Id é muito elevada, o ego procurará por uma forma alternativa de aliviar a demanda, podendo então se utilizar de um mecanismo de defesa;
    b) se a repressão do superego não tiver autoridade o suficiente, o ego poderá permitir que a demanda do Id seja satisfeita, convivendo posteriormente com a culpa e a angústia.
São inúmeros mecanismos de defesa. No áudio abordamos alguns, os quais detalhamos abaixo:
São Jorge matando o Dragão (Saint George slaying the Dragon) – Jost Haller – pintura gótica
Repressão: o ego empurra pensamentos perturbadores ou ameaçadores para fora da consciência;
Negação: O ego bloqueia experiências perturbadoras ou avassaladoras da consciência, fazendo com que o indivíduo se recuse a reconhecer ou acreditar no que está acontecendo;
Projeção: o ego tenta resolver o desconforto atribuindo os pensamentos, sentimentos e motivos inaceitáveis ​​do indivíduo a outra pessoa;
Deslocamento: o indivíduo satisfaz um impulso agindo sobre um objeto ou pessoa substituta de uma maneira socialmente aceitável (por exemplo, liberando no cônjuge a frustração que seria direcionada ao chefe);
Regressão: o indivíduo recua no próprio desenvolvimento para conseguir lidar com o estresse (por exemplo, um adulto oprimido agindo como uma criança);
Sublimação: semelhante ao deslocamento, esse mecanismo de defesa envolve a satisfação de um impulso atuando em um substituto, mas de uma maneira socialmente aceitável (por exemplo, canalizando energia para o trabalho ou para um hobby construtivo) (McLeod, 2013).
Para finalizar esta aula você precisará completar um questionário online que inclui perguntas de tudo o que já foi abordado até então no módulo 2. Clique em “Fazer Questionário” apenas quando tiver certeza de dominar o conteúdo.
 
Leitura complementar sugerida para o sucesso no exame final do módulo 2: O ego e os mecanismos de defesa – Anna Freud

Anna O.

 
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Instituto Somata · Anna O.
O caso de Anna O. (Breuer e Freud, 1895) é fundamental para entender a psicanálise e sua ferramenta essencial, a livre associação.
Anna O (pseudônimo que Breuer e Freud usavam para se referir a Bertha Pappenheim) nasceu em 27 de fevereiro de 1859 em Viena, Áustria. Anna tinha um irmão mais novo, Wilhelm Pappenheim, e duas irmãs mais velhas. Em 1867, quando ela tinha apenas 8 anos, sua irmã Henriette morreu de tuberculose.
A época e a sociedade em que Anna cresceu limitava as oportunidades das mulheres, razão pela qual Anna se dedicou a atividades de lazer, como costura, em vez de continuar sua educação. Era descrita como uma pessoa extremamente criativa e inteligente.
Em 1880, o pai de Anna contraiu tuberculose e Anna se dedicou a cuidar dele enquanto ele estava limitado à cama. A doença do pai de Anna foi fatal, ele morreu em abril do ano seguinte.
No entanto, foi enquanto ele ainda estava vivo e doente que Anna também adoeceu, embora com sintomas diferentes. Anna começou a consultar Josef Breuer para tratar seus sintomas.
Os sintomas exibidos por Anna eram variados:
Bertha Pappenheim (Anna O.)
  • Paralisia: paralisia no braço e na perna direita de Anna.
  • Movimentos oculares involuntários: incluindo problemas de visão e, em dezembro de 1881, um estrabismo.
  • Hidrofobia: uma aversão à comida e à água (hidrofobia) que deixou Anna incapaz de beber por dias seguidos.
  • Letargia: no começo e meio tarde ficava letárgica e dormia no fim da tarde, em seguida se mostrava em estado oposto, disposta e empolgada. Entre 11 de dezembro de 1881 e 1 º de abril do ano seguinte, Anna ficou de cama.
  • Dificuldades de fala: No meio de uma frase, Anna repetia a última palavra e fazia uma pausa antes de completá-la. Poliglota, começou a falar em vários idiomas, incluindo inglês para seus cuidadores. No entanto, a própria Anna aparentemente não tinha conhecimento do que estava fazendo e acabou sendo incapaz de falar por duas semanas.
“Atormentando”
Anna foi diagnosticada com histeria. Passava grande parte do seu dia em um estado de extrema ansiedade. Tinha alucinações constantes. Acordava de seus cochilos em desconforto e chorando, repetindo que algo a estava “atormentando”.
Nesse período, Freud e Breuer observaram que, se Anna pudesse descrever as alucinações que tivera, ela seria capaz de acordar normalmente nos outros momentos, além de conseguir passar o resto da noite mais calma e à vontade.
A cura pela fala
Ao perceber o benefício que a liberação de pensamentos ansiosos teve sobre Anna, Breuer iniciou o tratamento com o que acabaria sendo descrito como “terapia da fala” (referida por Anna como “limpeza de chaminés”). Conversava diariamente com Anna, sempre em busca de uma base psicológica para a histeria.
O hábito de contar histórias de Anna forneceu a Breuer uma visão intrigante sobre seu estado de espírito.  Muitas das histórias que ela contava envolviam uma pessoa sentada ao lado da cama de uma pessoa doente, ecoando a experiência de Anna em cuidar de seu pai.
Ela também relatou um sonho semelhante, no qual uma cobra negra se aproximava da pessoa na cama. Anna sentiu-se paralisada no sonho e foi incapaz de proteger o paciente acamado da criatura. Freud concluiu que a paralisia que ela experimentou na realidade estava ligada à que ela experimentou em um estado de ansiedade durante o sonho.
Durante suas reuniões com Freud, Anna também se lembrou de uma ocasião em que era mais jovem e tomou um copo de água. Ela se lembrou de ter visto o cachorro de sua babá, de quem ela não gostava, se aproximar do copo e tomar um gole, causando repulsa por pensar em compartilhar seu copo com o cachorro. Breuer atribuiu essa experiência traumática à sua incapacidade de beber água. Ou seja, Anna havia feito uma associação entre a água e o evento negativo no início de sua vida.
O tratamento de Anna O.
Breuer e Freud perceberam que trazendo à atenção consciente ansiedades inconscientes, como alucinações e experiências traumáticas, Anna poderia superar quaisquer sintomas. Com o tempo, seus problemas cessaram e ela se recuperou gradualmente, ganhou um cachorro de estimação para cuidar e se envolveu em trabalhos de caridade ajudando outras pessoas doentes.
O tratamento de Anna levou Breuer e Freud a enfatizarem o impacto de traumas anteriores e ideias subconscientes na mente consciente.
Mais tarde em sua vida, Anna se tornou uma figura proeminente no movimento feminista na Áustria e na Alemanha. Ela fundou a Liga das Mulheres Judaicas em 1904 e foi uma defensora ativa da causa até sua morte em 1936.
 
Leitura complementar necessária para o sucesso no exame final do módulo 2:

 

verificados; outros (ou as circunstâncias que os cercavam) estavam na lembrança das pessoas do
ambiente de
Anna.
Também esse exemplo apresentava uma característica que era sempre observável
quando um sintoma estava sendo “eliminado pela fala”: o sintoma específico surgia com maior
intensidade enquanto ela o abordava. Assim, durante a análise de sua incapacidade de ouvir, ela
ficou tão surda que numa parte do tempo fui obrigado a comunicar-me com ela por escrito. A
primeira causa provocadora costumava ser um susto de alguma espécie, experimentado enquanto
ela cuidava do pai - alguma negligência da parte dela, por
exemplo.
O trabalho de recordação nem sempre era fácil e, algumas vezes, a paciente tinha que
fazer grandes esforços. Certa ocasião, todo o nosso progresso ficou obstruído por algum tempo
porque uma lembrança recusava-se a emergir. Tratava-se de uma alucinação particularmente
pavorosa. Quando cuidava do pai, vira seu rosto como se fosse uma caveira. Ela e as pessoas a
seu redor lembravam que, certa vez, enquanto parecia ainda gozar de boa saúde, ela fizera uma
visita a um de seus parentes. Abrira a porta e imediatamente caíra no chão, inconsciente. Para
superar a obstrução a nosso progresso, ela tornou a visitar o mesmo lugar e, ao entrar no quarto,
mais uma vez caiu no chão, inconsciente. Durante a hipnose noturna seguinte, o obstáculo foi
superado. Ao entrar no quarto, ela vira seu rosto pálido refletido num espelho que pendia defronte
à porta, mas não fora a si mesma que tinha visto, e sim o pai com um rosto de caveira. - Muitas
vezes observamos que seu pavor de uma lembrança, como no presente exemplo, inibia o
surgimento da mesma, e esta precisava ser provocada à força pela paciente ou pelo médico.
O seguinte incidente, entre outros, ilustra o alto grau de coerência lógica de seus estados.
Durante esse período, como já se teve ocasião de explicar, a paciente estava sempre em sua
condition seconde ​ - isto é, no ano de 1881 - à noite. Certa ocasião, despertou durante a noite,
declarando ter sido levada para longe de casa mais uma vez, e ficou de tal forma excitada que
todas as pessoas da casa se alarmaram. A razão foi simples. Na noite anterior, a cura pela fala
havia dissipado o distúrbio da visão, e isso também se aplicava a sua ​ condition seconde​. Assim, ao
acordar durante a noite, ela se viu num quarto estranho, pois a família se mudara na primavera de
1881. Acontecimentos desagradáveis dessa espécie eram evitados por mim pelo fato de (a pedido
da paciente) eu sempre fechar seus olhos à noite e dar-lhe a sugestão de que ela não poderia abri-
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los até que eu próprio o fizesse na manhã seguinte. Essa perturbação só se repetiu uma vez,
quando a paciente gritou num sonho e abriu os olhos ao despertar
dele.
Visto que essa trabalhosa análise de seus sintomas versou sobre os meses do verão de
1880, o período preparatório de sua doença, consegui uma compreensão completa da incubação e
patogênese desse caso de histeria, que agora passarei a descrever de forma sucinta.
Em julho de 1880, quando se encontrava no campo, o pai de Anna adoeceu gravemente
em decorrência de um abscesso subpleural. Ela dividia com a mãe as tarefas de cuidar do
enfermo. Certa vez, acordou de madrugada, muito ansiosa pelo doente, que estava com febre alta;
e ela estava sob a tensão de aguardar a chegada de um cirurgião de Viena que iria operá-lo. Sua
mãe se ausentara por algum tempo, e Anna, sentada à cabeceira do doente, pôs o braço direito
sobre o espaldar da cadeira. Entrou num estado de devaneio e viu, como se viesse da parede,
uma cobra negra que se aproximava do enfermo para mordê-lo. (É muito provável que, no terreno
situado atrás da casa, algumas cobras tivessem de fato aparecido anteriormente, assustando a
moça e fornecendo agora o material para a alucinação.) Ela tentou manter a cobra a distância, mas
estava como que paralisada. O braço direito, que pendia sobre o espaldar da cadeira, ficara
dormente, insensível e parético; e quando ela o contemplou seus dedos se transformaram em
cobrinhas cujas cabeças eram caveiras (as unhas). (É provável que ela tenha tentado afugentar a
cobra com o braço direito paralisado e por isso a anestesia e a paralisia do braço se associaram
com a alucinação da cobra.) Quando a cobra desapareceu, Anna, aterrorizada, tentou rezar. Mas
não achou palavras em idioma algum, até que, lembrando-se de um poema infantil em inglês, pôde
pensar e rezar nessa língua. O apito do trem que trazia o médico por ela esperado desfez o
encanto. ​ No dia seguinte, durante um jogo, Anna atirou uma argola em alguns arbustos e, quando
foi buscá-la, um galho recurvado fez com que ela revivesse a alucinação da cobra, e ao mesmo
tempo seu braço direito ficou distendido com rigidez. A partir de então, ocorria invariavelmente a
mesma coisa sempre que a alucinação era recordada por algum objeto com aparência mais ou
menos semelhante à de uma cobra. Essa alucinação, contudo, bem como a contratura, só
apareciam durante as curtas ​ absences​, que se tornaram cada vez mais freqüentes a partir daquela
noite. (A contratura só veio a se estabilizar em dezembro, quando a paciente ficou inteiramente
prostrada e acamada de forma permanente.) Como resultado de algum fato particular cujo registro
não consigo encontrar em minhas anotações e do qual não me recordo mais, a contratura da perna
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direita foi acrescida à do braço
direito.
Sua tendência às ​ absences ​ auto-hipnóticas fixou-se a partir daquele momento. Na manhã
seguinte à noite que descrevi, enquanto esperava a chegada do cirurgião, Anna caiu num tal
estado de alheamento que ele por fim chegou ao quarto sem que ela o ouvisse aproximar-se. Sua
angústia persistente interferia com a ingestão de alimentos e conduziu aos poucos a intensas
sensações de náusea. Afora isso, a rigor, cada um de seus sintomas histéricos surgiu sob a ação
de um afeto. Não é bem certo se em cada um dos casos houve um estado momentâneo de
absence​, mas isso parece provável em vista do fato de que, em seu estado de vigília, a paciente
ficava totalmente alheia ao que havia
acontecido.
Alguns de seus sintomas, contudo, parecem não haver surgido em suas ​ absences​, mas
apenas quando de algum afeto durante sua vida de vigília; se foi esse o caso, porém, eles
reapareciam da mesma forma. Assim pudemos rastrear todas as suas diversas perturbações da
visão até diferentes causas determinantes mais ou menos claras. Por exemplo, certa ocasião,
quando, com lágrimas nos olhos, se achava sentada à cabeceira do pai, ele de repente lhe
perguntou que horas eram. Ela não conseguia enxergar com nitidez; fez um grande esforço e
aproximou o relógio dos olhos. O mostrador pareceu-lhe então muito grande, explicando assim sua
macropsia e seu estrabismo convergente. Ou então ela se esforçou para reprimir as lágrimas para
que o doente não as
visse.
Uma discussão, durante a qual Anna reprimiu uma resposta à altura, provocou um
espasmo de glote, e isso se repetia em todas as ocasiões semelhantes.
Perdeu a capacidade de falar (a) como resultado do medo, depois de sua primeira
alucinação à noite, (b) após haver reprimido uma observação noutra ocasião (por inibição ativa), (c)
depois de ter sido injustamente culpada de algo e (d) em todas as ocasiões análogas (quando se
sentia mortificada). Começou a tossir pela primeira vez quando, certa feita, sentada à cabeceira do
pai, ouviu o som de música para dançar que vinha de uma casa vizinha sentiu um súbito desejo de
estar lá e foi dominada por auto-recriminações. A partir de então, durante toda a sua doença,
reagia a qualquer música acentuadamente ritmada com uma ​ tussis nervosa​.
Não lamento muito que o fato de minhas anotações serem incompletas torne impossível
para mim enumerar todas as ocasiões em que seus vários sintomas histéricos apareciam. Ela
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própria os relatava a mim em cada caso isolado, com uma única exceção por mim mencionada |em
[1] e também mais adiante, em [1]-[2]|; e, como já disse, todos os sintomas desapareciam depois
de ela descrever sua primeira
ocorrência.
Também dessa maneira toda a doença desapareceu. A própria paciente formara o firme
propósito de que todo o tratamento deveria terminar no dia em que fizesse um ano da data em que
foi levada para o campo |7 de junho (ver em [1])|. Por conseguinte, no começo de junho, ela iniciou
a “cura pela fala” com a maior energia. No último dia - recorrendo, como ajuda, a uma nova
arrumação do quarto, a fim de assemelhá-lo ao quarto de doente do pai - ela reproduziu a
aterrorizante alucinação já descrita acima e que constitui a raiz de toda a sua doença. Durante a
cena original, Anna só havia conseguido pensar e rezar em inglês; mas, logo após sua reprodução,
pôde falar alemão. Além disso, libertou-se das inúmeras perturbações que exibira antes. Depois,
saiu de Viena e viajou por algum tempo, mas passou-se um período considerável antes que
recuperasse inteiramente seu equilíbrio mental. Desde então tem gozado de perfeita
saúde.
Embora eu tenha suprimido um grande número de detalhes bem interessantes, este caso
clínico de Anna O. tornou-se mais volumoso do que pareceria necessário para uma doença
histérica que, em si mesma, não foi de caráter inusitado. Entretanto, foi impossível descrever o
caso sem entrar em pormenores, e suas características me parecem suficientemente importantes
para justificar esta exposição extensa. Da mesma maneira, os ovos dos equinodermos são
importantes na embriologia, não porque o ouriço-do-mar seja um animal interessante, mas porque
o protoplasma de seus ovos é transparente e porque o que neles observamos lança luz, desse
modo, sobre o provável curso dos acontecimentos nos ovos cujo protoplasma é opaco. O interesse
do presente caso me parece residir, acima de tudo, na extrema clareza e inteligibilidade de sua
patogênese
.
Havia nessa moça, enquanto ainda gozava de perfeita saúde, duas características
psíquicas que atuaram como causas de predisposição para sua subseqüente doença histérica:
(1)Sua vida familiar monótona e a ausência de ocupação intelectual adequada deixavam-
na com um excedente não utilizado de vivacidade e energia mentais, tendo esse excedente
encontrado uma saída na atividade constante de sua
imaginação.
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(2)Isso a levou ao hábito dos devaneios (seu “teatro particular”), que lançou as bases para
uma dissociação de sua personalidade mental. Não obstante, uma dissociação desse grau ainda
se acha nos limites da normalidade. Os devaneios e as reflexões durante ocupações mais ou
menos mecânicas não implicam, em si mesmos, uma divisão patológica da consciência visto que,
ao serem interrompidos - quando, por exemplo, alguém dirige a palavra à pessoa - a unidade
normal da consciência é restaurada; não implicam tampouco a existência de amnésia. No caso de
Anna O., porém, esse hábito preparou o terreno em que o afeto de angústia e pavor pôde
estabelecer-se na forma que descrevi, tão logo esse afeto transformou os devaneios habituais da
paciente numa ​ absence ​ alucinatória. É notável que a primeira manifestação da doença em seus
primórdios já exibisse de modo tão completo suas principais características, que depois
permaneceram inalteradas por quase dois anos. Estas compreendiam a existência de um segundo
estado de consciência, que surgiu primeiro como uma absence temporária e depois se organizou
sob a forma de uma “​double conscience​”; uma inibição da fala, determinada pelo afeto de angústia,
que encontrou uma descarga fortuita nos versos em língua inglesa; posteriormente, a parafasia e a
perda da língua materna, que foi substituída por um inglês excelente; e, por fim, a paralisia
acidental do braço direito, em virtude da pressão, que depois evoluiu para uma paresia espástica e
anestesia do lado direito. O mecanismo pelo qual esta segunda afecção veio a existir mostrou-se
em inteira consonância com a teoria da histeria traumática de Charcot - um ligeiro trauma ocorrido
durante um estado de hipnose.
Mas, enquanto a paralisia experimentalmente provocada por Charcot em seus pacientes
se estabilizava de imediato, e enquanto a paralisia causada em vítimas de neuroses traumáticas
devidas a grave choque traumático logo se estabelece, o sistema nervoso dessa moça ofereceu
uma resistência bem-sucedida durante quatro meses. Sua contratura, bem como as outras
perturbações que se acompanharam, só se estabeleceu durante as curtas absences e em sua
condition seconde​, deixando-a, durante seu estado normal, com pleno controle do corpo, e em
posse de seus sentidos, de modo que nada foi observado nem por ela própria nem por aqueles
que a cercavam, se bem que a atenção deles estivesse enfocada no pai enfermo da paciente e,
por conseguinte, desviada
dela.
Entretanto, uma vez que suas absences, com sua amnésia total, e fenômenos histéricos
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concomitantes, tornaram-se cada vez mais freqüentes a partir da época de sua primeira auto-
hipnose alucinatória, as oportunidades se multiplicaram para a formação de novos sintomas da
mesma espécie, e os que já se haviam formado tornaram-se mais fortemente entrincheirados pela
freqüente repetição. Além disso, qualquer afeto angustiante súbito passou gradativamente a ter o
mesmo resultado de uma ​ absence ​ (embora, a rigor, seja possível que esses afetos ​ causassem ​ de
fato uma ​ absence ​ temporária em todos os casos); algumas coincidências fortuitas formaram
associações patológicas e perturbações sensoriais ou motoras, que daí por diante passaram a
surgir junto com o afeto. Mas até então isso só havia ocorrido durante momentos passageiros.
Antes de ficar permanentemente acamada, a paciente já havia desenvolvido todo o conjunto de
fenômenos histéricos, sem que ninguém o soubesse. Só depois de ela ter entrado em colapso
completo, graças ao esgotamento acarretado pela falta de alimentos, insônia e angústia constante,
e só depois de ter começado a passar mais tempo em sua ​ condition seconde ​ do que em seu
estado normal, foi que os fenômenos histéricos se estenderam a este último e passaram da
condição de sintomas agudos intermitentes à de sintomas crônicos.
Surge agora a questão de determinar até que ponto se pode confiar nas declarações da
paciente e de saber se as ocasiões e o modo de origem dos fenômenos foram realmente tais como
ela os representou. Quanto aos fatos mais importantes e fundamentais, o grau de confiabilidade de
seu relato me parece estar fora de dúvida. Quanto ao fato de os sintomas desaparecerem depois
de “verbalizados”, não posso empregar isso como prova; é bem possível que isso se explique pela
sugestão. Mas sempre achei que a paciente era inteiramente fiel à verdade e digna de toda
confiança. As coisas que me relatou estavam intimamente vinculadas com o que lhe era mais
sagrado. O que quer que pudesse ser verificado através de outras pessoas era plenamente
confirmado. Até mesmo a moça mais bem-dotada seria incapaz de engendrar uma trama de dados
com tal grau de coerência interna como o exibido na história deste caso. Não se pode duvidar,
contudo, de que precisamente sua coerência talvez a tenha levado (em absoluta boa-fé) a atribuir a
alguns dos seus sintomas uma causa desencadeadora que na verdade não possuíam. Mas
também a essa suspeita considero injustificada. A própria insignificância de tantas dessas causas e
o caráter irracional de tantas das conexões envolvidas depõem a favor de sua realidade. A
paciente não conseguia entender como é que a música para dançar a fazia tossir; uma construção
dessa natureza é por demais destituída de sentido para ter sido deliberada. (Pareceu-me muito
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provável, aliás, que cada um de seus dramas de consciência acarretasse um de seus habituais
espasmos da glote e que os impulsos motores que sentia - pois ela gostava muito de dançar -
transformassem o espasmo numa ​ tussis nervosa​.) Por conseguinte, em minha opinião, as
declarações da paciente mereciam toda a confiança e correspondiam aos fatos.
E agora devemos considerar até que ponto é justificável supor que a histeria se produza de
maneira análoga em outros pacientes e que o processo seja semelhante quando nenhuma
condition seconde ​ tão claramente distinta tenha-se organizado. Para sustentar esse ponto de vista,
posso assinalar o fato de que, também no presente caso, a história da evolução da doença teria
permanecido inteiramente desconhecida, tanto da paciente quanto do médico, se não fosse a
peculiaridade de a paciente se recordar de coisas na hipnose, como descrevi, e de conseguir
relacioná-las. Enquanto estava em seu estado de vigília, ela não tinha nenhum conhecimento de
tudo isso. Portanto, é impossível, nos outros casos, chegar-se ao que está acontecendo através de
um exame dos pacientes em estado de vigília, pois, com a melhor boa vontade do mundo, eles não
podem dar informação alguma a ninguém. E já ressaltei como as pessoas que cercavam a
paciente eram pouco capazes de observar aquilo que estava acontecendo. Por conseguinte, só
seria possível descobrir o estado de coisas em outros pacientes por meio de um método
semelhante ao que foi proporcionado, no caso de Anna O., por suas auto-hipnoses. Por enquanto,
podemos apenas externar o ponto de vista de que seqüências de fatos semelhantes aos aqui
descritos ocorrem com maior freqüência do que nos levou a supor nossa ignorância do mecanismo
patogênico em causa.
Quando a paciente ficou de cama e sua consciência passou a oscilar de forma constante
entre o estado normal e o “secundário”, toda a série de sintomas histéricos, que haviam surgido
isoladamente e até então se achavam latentes, tornou-se manifesta, como já vimos, como
sintomas crônicos. Acrescentou-se então a estes um novo grupo de fenômenos que pareciam ter
tido uma origem diferente: as paralisias espásticas das extremidades esquerdas e a paresia dos
músculos elevadores da cabeça. Eu os distingo dos outros fenômenos porque, uma vez que
tivessem desaparecido, nunca mais retornavam, mesmo na forma mais breve ou branda, ou
durante a fase conclusiva e de recuperação, quando todos os outros sintomas se tornaram de novo
ativos após terem ficado inativos por algum tempo. Da mesma forma, jamais vieram à tona nas
análises hipnóticas e não foram rastreados até as fontes emocionais ou imaginativas. Inclino-me a
pensar, portanto, que seu surgimento não se deveu ao mesmo processo psíquico dos outros
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sintomas, mas que cabe atribuí-lo a uma extensão secundária daquela condição desconhecida que
constitui o fundamento somático dos fenômenos histéricos.
Durante toda a doença seus dois estados de consciência persistiram lado a lado: o
primário, em que ela era bastante normal psiquicamente, e o secundário, que bem pode ser
assemelhado a um sonho, em vista de sua abundância de produções imaginárias e alucinações,
suas grandes lacunas de memória e a falta de inibição e controle em suas associações. Nesse
estado secundário, a paciente ficava numa situação de alienação. O fato de que toda a condição
mental da paciente estava na dependência da intrusão desse estado secundário no normal parece
lançar uma considerável luz sobre pelo menos um tipo de psicose histérica. Cada uma de suas
hipnoses à noite oferecia provas de que a paciente estava inteiramente lúcida e bem ordenada em
sua mente e normal no tocante a seus sentimentos e a sua volição, desde que nenhum dos
produtos de seu estado secundário atuasse como um estímulo “no inconsciente”. A psicose
extremamente acentuada que surgia sempre que havia um intervalo considerável nesse processo
de desabafo revelou o grau em que esses produtos influenciavam os fatos psíquicos de seu estado
latentes, tornou-se manifesta, como já vimos, como sintomas crônicos. Acrescentou-se então a
estes um novo grupo de fenômenos que pareciam ter tido uma origem diferente: as paralisias
espásticas das extremidades esquerdas e a paresia dos músculos elevadores da cabeça. Eu os
distingo dos outros fenômenos porque, uma vez que tivessem desaparecido, nunca mais
retornavam, mesmo na forma mais breve ou branda, ou durante a fase conclusiva e de
recuperação, quando todos os outros sintomas se tornaram de novo ativos após terem ficado
inativos por algum tempo. Da mesma forma, jamais vieram à tona nas análises hipnóticas e não
foram rastreados até as fontes emocionais ou imaginativas. Inclino-me a pensar, portanto, que seu
surgimento não se deveu ao mesmo processo psíquico dos outros sintomas, mas que cabe atribuí-
lo a uma extensão secundária daquela condição desconhecida que constitui o fundamento
somático dos fenômenos histéricos.
Durante toda a doença seus dois estados de consciência persistiram lado a lado: o
primário, em que ela era bastante normal psiquicamente, e o secundário, que bem pode ser
assemelhado a um sonho, em vista de sua abundância de produções imaginárias e alucinações,
suas grandes lacunas de memória e a falta de inibição e controle em suas associações. Nesse
estado secundário, a paciente ficava numa situação de alienação. O fato de que toda a condição
mental da paciente estava na dependência da intrusão desse estado secundário no normal parece
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lançar uma considerável luz sobre pelo menos um tipo de psicose histérica. Cada uma de suas
hipnoses à noite oferecia provas de que a paciente estava inteiramente lúcida e bem ordenada em
sua mente e normal no tocante a seus sentimentos e a sua volição, desde que nenhum dos
produtos de seu estado secundário atuasse como um estímulo “no inconsciente”. A psicose
extremamente acentuada que surgia sempre que havia um intervalo considerável nesse processo
de desabafo revelou o grau em que esses produtos influenciavam os fatos psíquicos de seu estado
“normal”. É difícil evitar expressar a situação afirmando que a paciente estava dividida em duas
personalidades, das quais uma era mentalmente normal, e a outra, insana. Em minha opinião, a
nítida divisão entre os dois estados nessa paciente só vem revelar com maior clareza aquilo que
ocasionou um grande número de problemas inexplicados em muitos outros pacientes histéricos.
Foi especialmente observável, em Anna O., o grau em que os produtos de seu “mau eu”, conforme
ela própria o denominava, afetavam seu senso ético mental. Se esses produtos não tivessem sido
continuamente eliminados, ter-nos-íamos confrontado com uma histérica do tipo malévolo -
teimosa, indolente, desagradável e rabugenta; mas o que se passava era que, após a remoção
desses estímulos, seu verdadeiro caráter, que era o oposto de tudo isso, sempre ressurgia de
imediato. ​ Não obstante, embora seus dois estados fossem assim nitidamente separados, não só o
estado secundário invadia o primeiro, como também - e isso se dava com freqüência em todas as
ocasiões, mesmo quando ela se encontrava numa condição muito ruim - um observador lúcido e
calmo ficava sentado, conforme ela dizia, num canto de seu cérebro, contemplando toda aquela
loucura a seu redor. Essa persistência do pensamento claro enquanto a psicose estava em pleno
processo encontrava expressão numa forma muito curiosa. Numa ocasião em que, depois de
terem cessado os fenômenos histéricos, a paciente estava atravessando uma depressão
temporária, ela apresentou grande número de temores e auto-recriminações infantis, entre eles a
idéia de que de modo algum estivera doente e tudo aquilo fora simulado. Observações
semelhantes, como sabemos, têm sido feitas com freqüência. Depois que um distúrbio dessa
natureza desapareceu e os dois estados de consciência voltaram a se fundir num só, os pacientes,
lançando um olhar retrospectivo para o passado, se vêem como a personalidade única e indivisa
que se dava conta de todo aquele absurdo; acham que poderiam tê-lo impedido se assim tivessem
desejado e se sentem como se tivessem praticado todo o mal de forma deliberada. - Deve-se
acrescentar que esse raciocínio normal que persistia durante o estado secundário deve ter variado
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Elisabeth Von R
 
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Instituto Somata · Elizabeth Von R
Elisabeth von R. é o pseudônimo que Freud criou para Ilona Weiss, uma jovem de origem húngara, cujo caso é descrito em Estudos sobre Histeria (1895d).
Terceira filha de um pai de família húngara, Elisabeth von R. tinha 24 anos quando Freud a tratou no outono de 1892 por dores nas pernas e dificuldades para caminhar, problemas que vinha enfrentando há dois anos.
Freud confirmou o diagnóstico de histeria e observou que “se alguém pressionasse ou beliscasse a pele hiperalgésica e os músculos das pernas de Elisabeth, o rosto dela assumia uma expressão peculiar, que era mais um prazer do que uma dor. Ela gritava – e eu não pude deixar de pensar que era como se estivesse com uma sensação voluptuosa de cócegas – com o rosto corado. Ela jogava a cabeça para trás e fechava os olhos e o corpo reclinava”(1895d, p. 137).
Após um período inicial de quatro semanas durante o qual prescreveu tratamentos elétricos que não obtiveram resultados, Freud sugeriu a ela o uso de um tratamento catártico. Aplicou em Elisabeth uma “técnica de concentração”, a mesma que ele estava usando em outra paciente na época, Miss Lucy R *(técnica descrita no fim da aula).
Foi o uso dessa técnica que convenceu Freud de que Elisabeth estava escondendo um segredo, apesar da natureza dramática dos comentários iniciais que ela expunha. A história familiar de Elisabeth foi caracterizada por doenças cardíacas e pela morte de seu pai, a quem ela amava profundamente (1895d, p. 140).
Freud entendeu que a doença dela começara com dores nas pernas, que ocorreram pela primeira vez enquanto ela cuidava do pai doente, mesmo que ela não tivesse conhecimento delas até dois anos após a morte dele. A doença e a morte de sua irmã, que também sofria de doenças cardíacas agravadas pela gravidez, seguidas de uma briga entre seus cunhados, coincidiram com os dois anos de desenvolvimento de sua doença.
Durante o período do tratamento, ela repetia para Freud que não estava melhorando. Freud comentou o seguinte a respeito disso: “Ela olhava para mim enquanto falava isso com um olhar malicioso de satisfação com o meu desconforto.”(1895d, p. 141).
Ocorreu uma melhora quando a própria Elisabeth forneceu a fonte de sua conversão histérica: segundo ela, suas dores começaram no local da coxa onde, todas as manhãs, seu pai colocava a perna inflamada para que ela pudesse trocar os curativos.
A partir de então “suas pernas doloridas começaram a ‘entrar na conversa’ durante as análises” (1895d, p. 141), período de ab-reação em que, Freud escreve:
“Às vezes eu seguia as flutuações espontâneas de sua condição; e às vezes eu seguia a minha própria estimativa da situação, quando considerei que não havia exaurido completamente parte da história de sua doença “
 
Freud então experimentou o fenômeno que modificaria sua concepção de psicoterapia: “No decorrer desse trabalho difícil, comecei a atribuir um significado mais profundo à resistência oferecida pela paciente na reprodução de suas memórias e a fazer uma cuidadosa coleção das ocasiões que foram particularmente marcantes”(1895d, p. 154).
Foi por conta disso que Freud usou publicamente pela primeira vez (rascunho H, de 24 de janeiro de 1895, em 1950a) um conceito teórico chave: “pode ​​ser demonstrado com muita probabilidade que a conversão completa também ocorre, e que nela a ideia incompatível foi de fato “reprimida” [verdrängt], como somente uma ideia de intensidade muito leve pode ser “.
Na primavera de 1893, uma forte dor surgiu em Elisabeth quando ela ouviu, em uma sala adjacente ao escritório de Freud, que o cunhado dela que tinha vindo buscá-la.
Esse fato permitiu a Freud identificar o “segredo” de Elisabeth – ela se apaixonara pelo cunhado. Ela se aproximara do cunhado como resultado da doença de sua irmã. Após a morte dela, Elisabeth não conseguiu reprimir a ideia de que o cunhado estava livre.
Apesar de Elisabeth negar a interpretação e significação dada por Freud, o tratamento foi concluído em julho de 1893.
Freud dá por confirmada a cura de Elisabeth com o seguinte relato: “Na primavera de 1894, eu soube que ela iria a um baile particuar ara o qual eu poderia obter um convite, e não deixei escapar a oportunidade de ver minha ex-paciente passar por mim rodopiando numa dança animada. Depois dessa ocasião, por sua própria vontade, casou-se com aguém que não conheço” (Freud, 1996 [1893-1895]
Nota sobre a técnica de concentração mencionada no texto – em determinado momento de sua carreira, Freud abandonou a hipnose por perceber que o método não funcionava com todos os pacientes conforme descreve em Estudos sobre a Histeria (1893 a 1895):
Miss Lucy R. não entrou em estado de sonambulismo quando tentei hipnotizá-la. Assim, abri mão do sonambulismo e conduzi toda a sua análise enquanto ela se encontrava num estado que, a rigor, talvez tenha diferido muito pouco de um estado normal. […]Quando, em 1889, visitei as clínicas de Nancy, ouvi o Dr. Liébeault, o doyen (decano) do hipnotismo, dizer: “Se ao menos tivéssemos meios de pôr todos os pacientes em estado de sonambulismo, a terapia hipnótica seria a mais poderosa de todas.” Na clínica de Bernheim chegava quase a parecer que essa arte realmente existia e que era possível aprendê-la com Bernheim. Mas logo que tentei praticá-la com meus próprios pacientes, descobri que pelo menos meus poderes estavam sujeitos a graves limitações e que, quando o sonambulismo não era provocado num paciente nas três primeiras tentativas, eu não tinha nenhum meio de induzi-lo. A percentagem de casos acessíveis ao sonambulismo era muito menor, em minha experiência, do que a relatada por Bernheim.
 
Após abandonar a hipnose, começa a praticar um método indutivo de intervenção no qual utilizava a pressão das mãos na testa/cabeça do paciente a fim de encontrar a origem do sintoma:
Colocava a mão na testa do paciente ou lhe tomava a cabeça entre a mãos e dizia: “Você pensará nisso sob a pressão da minha mão. No momento em que eu relaxar a pressão, verá algo à sua frente, ou algo aparecerá em sua cabeça. Agarre-o. Será o que estamos procurando. – E então, o que foi que viu ou o que lhe ocorreu?”
 
O método é logo abandonado por Freud que seguiria a técnica sem induções.
O pequeno Hans
 
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Instituto Somata · O Pequeno Hans
O caso do pequeno Hans é importante para entendermos como se consolida o complexo de Édipo nas crianças.
Freud não trabalhou diretamente com o pequeno Hans, mas sim através de correspondências com o pai de Hans. Nas cartas, Freud sugeria possíveis linhas de questionamentos que o pai poderia tentar com Hans.
Os primeiros relatos de Hans são de quando ele tinha 3 anos. Naquele momento, Hans desenvolveu um interesse exagerado em seu “pipi” (pênis) e também no pipi de outras pessoas. Freud relata o seguinte:
“Por intermédio de várias observações e perguntas, ele demonstrava um interesse particularmente vivo por aquela parte do seu corpo que ele costumava chamar de seu ‘pipi’. Tanto que certa vez perguntou a sua mãe:
Hans: ‘Mamãe, você também tem um pipi?’
Mãe: ‘Claro. Por quê?’
Hans: ‘Nada, eu só estava pensando.’
Como a mesma idade, certa vez entrou num estábulo e viu ordenharem uma vaca. ‘Oh,
olha!, e está saindo leite do pipi dela!’”
Freud, 1909
 
Era frequentemente acometido por fantasias que envolviam “pênis e masturbação”. Acontecia tão constantemente que quando ele tinha cerca de três anos e meio de idade, sua mãe disse-lhe para não tocar em seu pipi, ou então ela chamaria o médico para vir e cortá-lo.
Quando Hans tinha quase 5 anos, o pai de Hans escreveu a Freud explicando suas preocupações com Hans. Ele descreveu o principal problema da seguinte forma: “Ele tem medo de que um cavalo o morda na rua, e esse medo parece de alguma forma ligado ao fato de ter sido assustado por um grande pênis”.
Pequeno Hans e Freud em seu único encontro 
O pai passou a fornecer a Freud extensos detalhes das conversas com Hans. Juntos, Freud e o pai de Hans tentaram entender o que estava acontecendo com o pequeno e se comprometeram a resolver sua fobia de cavalos.
Freud escreveu um resumo de seu tratamento do pequeno Hans, em 1909, em um artigo intitulado “Análise de uma fobia em um menino de cinco anos”.
A fobia do Pequeno Hans
Como sua família morava em frente a uma movimentada estalagem, Hans tinha medo de sair de casa porque via muitos cavalos assim que abriam a porta de sua casa.
Quando foi perguntado sobre o seu medo pela primeira vez, Hans disse que estava com medo de os cavalos fossem cair e fossem fazer muito barulho com os pés.
Ele tinha mais medo de cavalos que puxavam carroças carregadas e, de fato, já tinha visto um cavalo cair e morrer na rua uma vez quando estava com sua enfermeira cuidadora. O cavalo estava puxando uma carruagem que transportava muitos passageiros e, quando o cavalo caiu, Hans ficou assustado com o som de seus cascos batendo nas pedras da estrada.
Hans também sofria ataques de ansiedade generalizada.
Quando Hans foi levado para ver Freud, ele foi questionado sobre os cavalos dos quais ele tinha fobia. Hans observou que não gostava de cavalos com bridão preto ao redor da boca.
Nas semanas seguintes, a fobia de Hans começou a melhorar gradualmente. Hans disse que estava com medo especialmente de cavalos brancos que usavam antolhos e bridão. O pai de Hans interpretou isso como uma referência ao seu bigode e óculos.
Depois que muitas cartas foram trocadas, Freud concluiu que o menino estava com medo de que seu pai o castrasse por desejar sua mãe. Freud interpretou que os cavalos na fobia eram simbólicos do pai, e que Hans temia que o cavalo (pai) o mordesse (castrasse) como punição pelos desejos incestuosos em relação à mãe.
O fim da fobia de cavalos foi acompanhado por duas fantasias significativas que ele contou ao pai. Na primeira, Hans teve vários filhos imaginários. Na segunda fantasia, que ocorreu no dia seguinte, Hans imaginou que um encanador havia chegado, tirou o pipi de hans e o trocou por um maior.
Interpretação de Freud da fobia de Hans
Freud viu a fobia de Hans como uma expressão do complexo de Édipo. Cavalos, particularmente cavalos com arreios pretos, simbolizavam seu pai. Os cavalos eram símbolos de pai associados pelo inconsciente justamente por causa de seus grandes pênis.
O complexo de Édipo foi resolvido quando Hans fantasiou que possuía um grande pênis como do pai. Na fantasia, casara com a mãe, estando o pai presente no papel de avô. A fobia de cavalos passou quando seu pai (por sugestão de Freud) assegurou a Hans que ele não tinha intenção de cortar seu pênis.
Fritz e Dick
 
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Instituto Somata · Fritz
Nesta aula veremos dois casos importantes de Melanie Klein que colaboram para a compreensão do tratamento psicanalítico infantil.
Caso Fritz
O caso de Frtiz é apresentado por Melanie Klein em 1921  no artigo O Desenvolvimento de uma Criança – A influência da explicação sexual e a diminuição da autoridade no desenvolvimento intelectual das crianças. No texto, Klein expõe justamente como o desenvolvimento intelectual das crianças está diretamente relacionado ao esclarecimento de seus próprios processos investigativos.
No caso em questão, Klein relata o acompanhamento de Fritz, um pseudônimo para seu filho Erich. Descreve o caso desta maneira:
“O garoto em questão é o pequeno Fritz, filho de conhecidos que moram perto da minha casa. Isso me deu a oportunidade de estar na companhia da criança com frequência, sem restrições. Além disso, como a mãe segue todas as minhas recomendações, posso ter uma grande influência em sua educação. O menino, que agora tem cinco anos, é forte e saudável, com desenvolvimento mental normal, mas lento.”
Isto é, apesar de ser saudável, Fritz apresentava desenvolvimento mental lento. Klein deu alguns exemplos que diferenciavam Fritz das outras crianças:
“Ele conseguiu muito lentamente adquirir algumas idéias próprias. Ele já tinha mais de quatro anos quando aprendeu a distinguir cores e quase quatro anos e meio quando se familiarizou com as noções de ontem, hoje e amanhã. Em questões práticas, ele estava obviamente mais atrasado do que outras crianças da idade dele.”
Como exemplo, Klein cita que, apesar de ir às compras com a família desde muito novo, Fritz achava incompreensível que as pessoas não ganhavam os seus pertences, mas que tinham que pagar por eles. Fritz não conseguia entender que as pessoas precisavam pagar por suas coisas e que cada coisa tinha um valor diferente.
No decorrer do caso, Klein observa que as perguntas e interesses de Fritz iam mudando. Iniciara com perguntas a respeito do nascimento, tais como “onde eu estava antes de nascer?” e “como se faz uma pessoa?”.
Conforme Fritz perguntava, Klein respondia. Respondia que os bebês eram gerados dentro das mães. Mas isso parecia não satisfazer Fritz.
Em dado momento, Fritz disse ter ouvido da governanta que os bebês eram trazidos pela cegonha. Klein respondeu dizendo que isso era um conto, apenas uma história. Ao ouvir essa resposta, Fritz começara então a demonstrar os primeiros sinais de concretização de seu princípio de realidade.
Fritz disse: “as outras crianças me disseram que o coelhinho de páscoa não veio deixar ovos de páscoa, mas sim a babá quem escondeu os ovos”. Klein respondeu que isso era verdade, que as crianças estavam certas.
Isso foi o suficiente para que Fritz começasse a estabelecer conclusões lógicas que fundamentariam seu princípio de realidade. Uma série de perguntas vieram: “Não existe coelhinho da páscoa, correto?” “e nem mesmo existe papai noel, correto?”.
Então, Fritz retornou a pergunta “como se faz uma pessoa?”. Klein observou que Fritz agora estava mais disposto a aceitar a realidade como resposta.
Assim foi. As perguntas iam tomando novas complexidades, demonstrando avanço no tratamento. As novas perguntas eram agora de natureza geral, como exemplo, “como crescem os dentes ou como se formam as linhas da mão?”.
Com o caso, Klein nos mostra que o princípio de realidade precisa tomar espaço diante de onipotência que a criança sente. A onipotência perderá espaço gradualmente conforme há diminuição de autoridade no processo investigativo da criança.
Da esquerda para a direita: Hans e Erich (Fritz), ambos filhos de Melanie Klein
Perspectivas pedagógicas e psicológicas
A honestidade com as crianças, uma resposta franca a todas as suas perguntas e a liberdade real desta intenção, influencia profunda e beneficamente seu desenvolvimento mental. Isto evita a tendência à repressão, que é o maior perigo que pode nos afetar, ou seja, a retirada da energia instintiva (com a qual está parte da sublimação), e da simultânea repressão de associações conectadas com os complexos reprimidos, deixando destruída a sequência do pensamento.
O repúdio e a negação do sexual e do primitivo são as principais causas dos danos causados ​​ao impulso de conhecer e ao sentido da realidade, e acionam a repressão por dissociação. Mas, ao mesmo tempo, o impulso para o conhecimento e o sentido da realidade são ameaçados por outro perigo iminente, não uma retirada, mas uma imposição, a de forçá-los a idéias prontas, apresentadas de tal maneira que o conhecimento da realidade que a criança não se atreve a se rebelar e nunca tenta tirar conclusões ou deduções; portanto, é permanentemente afetada e danificada. (Klein, 1921, p21)
“Quanto da estrutura intelectual do indivíduo é apenas aparentemente sua, quanto é dogmático, teórico e devido à autoridade, não alcançada por ele mesmo, por seu próprio pensamento livre e irrestrito! Embora a experiência e o insight dos adultos tenham encontrado a solução para algumas das questões proibidas e aparentemente irresponsáveis ​​da infância – questões que estão, portanto, fadadas à repressão -, isso não remove o obstáculo ou transforma o pensamento infantil. em banal.”.
 
Segundo Klein, a ideia de deus obscurecerá o desenvolvimento intelectual das crianças:
Já a ideia de Deus pode obscurecer tanto o sentido da realidade que a criança não ousa rejeitar o incrível, o aparentemente irreal, e isso pode afetá-la de tal maneira que o reconhecimento de coisas tangíveis e imediatas, o chamado “óbvio”, é reprimido, em questões intelectuais, juntamente com os processos de pensamento mais profundos.
 
É importante notar que, com isso Klein não está propondo a inexistência de um deus. Está, na verdade, relatando como a ideia de algo incrível poderá conflitar com os estabelecimentos de noções de realidade da criança se não houver esclarecimento do todo.
Caso Dick
 
Instituto Somata · Dick
O caso Dick é descrito no artigo intitulado A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego (1930). Dick havia sido diagnosticado com demência antes de ser tratado por Klein. Graças ao tratamento o quadro foi revertido.
Klein descreve Dick como um garoto de quatro anos que, devido à pobreza de seu vocabulário e desenvolvimento intelectual, estava no nível de um garoto de 15 ou 18 meses. A adaptação à realidade e as relações emocionais com o ambiente estavam quase completamente ausentes. Essa criança, Dick, carecia de afeto e era indiferente à presença ou ausência da mãe ou da babá. Desde o início, ele raramente manifestava angústia.
Sua amamentação havia sido excepcionalmente insatisfatória e perturbada, porque durante várias semanas a mãe insistiu em uma tentativa malsucedida de amamentá-lo, Dick quase morreu de fome.
Certa vez, quando era um pouco maior, sua babá o viu se masturbando e disse que esse ato era “malvado” e que ele não deveria fazê-lo. Essa proibição deu origem a temores e ao sentimento de culpa.
Havia no ego de Dick uma incapacidade completa, aparentemente constitucional, de tolerar a angústia. O genital interveio muito cedo; isso produziu uma identificação prematura e exagerada contra esse objeto e contribuiu para a formação de uma defesa igualmente prematura contra o sadismo. O ego cessara o desenvolvimento de sua vida de fantasia e sua relação com a realidade. Após um início fraco, a formação de símbolos havia parado.
Para que o tratamento de Dick tivesse sucesso, Klein utilizou brinquedos. Descreve a situação da seguinte maneira:
Quando lhe mostrei os brinquedos que havia preparado, ele olhou sem o menor interesse. Então, peguei um trem grande, coloquei-o ao lado de um menor e os chamei de “Trem do Papai” e “Trem Dick”. Então ele pegou o trem que eu chamei de Dick, correu para a janela e disse: “Estação”. Expliquei: “A estação é mamãe; Dick está entrando na mamãe”. Ele então largou o trem de brinquedo, correu em direção ao espaço formado pelas portas externas e internas da sala, trancou-se lá e disse “escuro” e correu novamente. Ele repetiu isso várias vezes. Expliquei a ele: “Dentro da mamãe está escuro. Dick está dentro da mamãe”. Enquanto isso, ele pegou o trem novamente, mas logo correu novamente para a salinha entre as portas. Enquanto eu dizia que ele estava entrando na mamãe, ele dissera duas vezes em tom interrogativo: “Babá?” Eu respondi: “A babá está chegando”.
Dick se escondeu atrás da mesa. Ele então se angustiou e me chamou pela primeira vez. Sua apreensão era evidente pela forma que perguntava insistentemente pela babá. Simultaneamente, com o surgimento de angústia, surgiu um sentimento de dependência, primeiro em relação a mim e depois em relação à babá, e ao mesmo tempo começou a se interessar pelas palavras tranquilizadoras: “A babá está chegando”
Klein conseguiu alcançar o inconsciente de Dick através dos rudimentos da fantasia e das formações simbólicas que ele manifestava. O resultado obtido foi uma diminuição da angústia latente, de modo que uma certa quantidade de angústia ficou evidente. Mas isso implicava que a elaboração de tal angústia começava com o estabelecimento de uma relação simbólica com coisas e objetos e, ao mesmo tempo, mobilizavam-se impulsos epistemofílicos e agressivos.
Os estágios iniciais do complexo de Édipo são dominados pelo sadismo. Eles ocorrem durante uma fase de desenvolvimento que começa com o sadismo oral (ao qual se adiciona sadismo uretral, muscular e anal) e termina quando o predomínio do sadismo anal chega ao fim.
É apenas nos estágios posteriores do conflito edípico que a defesa contra os impulsos libidinais aparece; A primeira defesa estabelecida pelo ego é dirigida contra o próprio sadismo do sujeito e contra o objeto atacado, uma vez que ambos são considerados fontes de perigo. Essa defesa é de natureza violenta e difere dos mecanismos de repressão. No menino, essa defesa também é direcionada contra seu próprio pênis, como órgão executor de seu sadismo, e é uma das causas mais frequentes de todos os distúrbios da potência sexual.
Uma defesa excessiva e prematura do eu contra o sadismo impede o estabelecimento de uma relação com a realidade e o desenvolvimento da vida de fantasia. A posse e exploração sádicas do corpo materno e do mundo exterior (o corpo da mãe por extensão) são interrompidas e isso produz a suspensão mais ou menos completa da relação simbólica com coisas e objetos que representam o corpo da mãe e, portanto, o contato do sujeito com seu ambiente e com a realidade em geral.
Setting analítico
 
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Instituto Somata · Setting analítico
setting (que pode ser traduzido como arranjo ou configuração) é um conceito variável que reúne os seguintes elementos (sem se limitar a eles):
  • Lugar onde ocorrem as análises;
  • Contrato entre psicanalista e cliente (hora, preço etc.);
  • Método e técnica;
  • Ética.
Isto é, o setting pode ser entendido como tudo o que foi acordado entre psicanalista e cliente a respeito de como e onde acontecerão as análises.
como deve incluir o método e a técnica, assim como a ética que deve ser adotada pelo(a) psicanalista. O onde deve, evidentemente, ser o lugar físico onde as análises acontecerão. Este, por sua vez, é eivado de processos simbólicos que tornam a análise possível a partir de qualquer lugar.
Como deve ser o lugar físico para uma análise
Divã de Freud – Londres
Não há uma regra de como deve ser fisicamente o lugar onde ocorrerão as análises. Em seu livro Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I), Freud nos revela que um dos aspectos fundamentais do lugar é que o cliente/paciente não tenha contato visual direto com o(a) psicanalista, pois isso afetará drasticamente a sua livre associação:
Tenho de dizer uma palavra sobre um certo cerimonial que concerne à posição na qual o tratamento é realizado. Atenho-me ao plano de fazer com que o paciente se deite num divã, enquanto me sento atrás dele, fora de sua vista. Visto que, enquanto estou escutando o paciente, também me entrego à corrente de meus pensamentos inconscientes; não desejo que minhas expressões faciais deem ao paciente material para interpretação ou influenciem-no no que me conta. Insisto nesse procedimento, contudo, pois seu propósito e resultado são impedir que a transferência se misture imperceptivelmente às associações do paciente, isolar a transferência e permitir-lhe que apareça, no devido tempo, nitidamente definida como resistência. (Freud, 1913)
 
Isto é, enquanto ouve o relato do cliente, o(a) psicanalista deverá estar em pleno exercício de atenção flutuante, técnica que poderá ocasionar inúmeras expressões faciais e até corporais. Portanto é conveniente que o cliente não tenha contato visual com psicanalista, uma vez que a subjetividade do cliente poderá interpretar erroneamente a atenção flutuante do psicanalista, desfavorecendo a livre associação.
Além disso, o setting, enquanto conceito, dependerá totalmente das demandas contemporâneas para sua definição. No livro Psychoanalysis Online (Mental Health, Teletherapy, and Training – 2013), o psicanalista Asbed Aryan explica a necessidade de adaptação do setting psicanalítico:
“Precisamos nos engajar em uma discussão científica sobre a influência dos novos paradigmas temporo-espaciais na vida de nossos pacientes e de nós mesmos e como a psicanálise pode permanecer relevante na vida moderna. A vida auxiliada por tecnologia cria novas definições de realidade e presença pessoal.”
 
Ou seja, o conceito de setting em todas as suas dimensões deve ser constantemente revisto. Ao mesmo tempo em que as demandas mudam, apresentam-se novas ferramentas para atendê-las. Enquanto as definições de presença não são as mesmas de 100 anos atrás, as de setting também não são. Aryan propõem a reconsideração de aspectos fundamentais da psicanálise:
“Devemos reconsiderar conceitos psicanalíticos fundamentais que até agora foram estudados apenas do ponto de vista platônico e positivista. O crescente uso do telefone é apenas o mais recente de uma série de mudanças de paradigmas que exigem uma repensação dos conceitos de sujeito, objeto e representação. Se a psicanálise conduzida por telefone é capaz de lidar com conflitos inconscientes, cisões na psique, sexualidade infantil e transferência / contratransferência, ela pode contribuir para a compreensão da dinâmica do sujeito humano na cultura atual.” (Aryan, 2013)
 
Constituir novas características para o setting é fundamental para que a psicanálise continue relevante para a sociedade. Em outras palavras, uma chamada de áudio (seja ela por telefone, WhatsApp ou qualquer outro meio) pode ser tão eficiente (ou mais) que a presença de paciente e psicanalista no mesmo ambiente físico.
Como devem ser as análises (métodos, técnicas, duração, frequência, preço etc.)
O método e a técnica são o estabelecimento da terapia em si sob uma perspectiva ética específica que deve ser de conhecimento do cliente. Psicanalistas farão uso das seguintes ferramentas em uma sessão de análise psicanalítica:
  • Livre Associação
  • Atos falhos
  • Sonhos
Duração da sessão de análise: a duração de uma sessão deve variar entre 30-45 minutos. Casos há em que o tempo naturalmente se ampliará, mas o(a) psicanalista não deve permitir que isso seja frequente. Queixas moderadas poderão exigir duas sessões semanais, enquanto as leves podem ser diminuídas a uma sessão por semana.
Duração do tratamento: a depender da demanda do cliente. Freud aconselha que sejam feitas entrevistas preliminares de 2-3 semanas para verificar a possibilidade de tratar ou não a queixa do cliente. Ou seja, analisar o cliente algumas sessões antes de efetivamente confirmar que aceita o tratamento. Isso é importante para evitar falsas expectativas por parte de cliente e psicanalista.
Uma vez que o(a) psicanalista aceite dar continuidade ao tratamento, ficará a critério das demandas do cliente a duração total. É importante notar que, caso aceite realizar as análises, o(a) psicanalista é quem deverá definir a frequência a fim de evitar que a resistência do cliente impeça a continuidade do tratamento.
Ou seja, deve ser estabelecido quantas vezes por semana (ou por mês) o cliente precisará fazer análises.
Preço: esta questão fica a critério do(a) psicanalista. O cliente deverá ser informado do preço antes da primeira sessão.
Ética na psicanálise: como veremos no próximo capítulo, a ética é basicamente a capacidade do(a) psicanalista de respeitar a narrativa de seu cliente e mantê-la em privacidade absoluta sem nenhum julgamento de qualquer natureza que seja (religiosa, social, moral etc.).
Música da Aula: Minuetto – Luigi Boccherini
Livre Associação
 
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Instituto Somata · Livre Associação
Nesta aula veremos:
  • Como usar a livre associação na clínica psicanalítica;
  • Relato do cliente – em quais detalhes prestar atenção;
  • O que anotar do relato do cliente;
  • Quando fazer as comunicações (elaborações) ao cliente.
A livre associação
A livre associação (ou associação livre) é a ferramenta fundamental da psicanálise clínica. Consiste em permitir que o cliente fale livremente, a fim de propiciar a manifestação do inconsciente. Somente com a fala livre, sem julgamentos, a mente inconsciente será capaz de se manifestar. Freud(1913) dá o seguinte exemplo de como instruía seus clientes a serem capazes de diferenciar a livre associação de uma conversa normal:
‘O que me vai dizer deve diferir, sob determinado aspecto, de uma conversa comum. Em geral, você procura, corretamente, manter um fio de ligação ao longo de suas observações e exclui quaisquer ideias intrusivas que lhe possam ocorrer, bem como quaisquer temas laterais, de maneira a não divagar longe demais do assunto. Neste caso, porém, deve proceder de modo diferente. Observará que, à medida que conta coisas, ocorrer-lhe-ão diversos pensamentos que gostaria de pôr de lado, por causa de certas críticas e objeções. Ficará tentado a dizer a si mesmo que isto ou aquilo é irrelevante aqui, ou inteiramente sem importância, ou absurdo, de maneira que não há necessidade de dizê-lo. Você nunca deve ceder a estas críticas, mas dizê-lo apesar delas – na verdade, deve dizê-lo exatamente porque sente aversão a fazê-lo.’
 
Portanto, o cliente deve ser instruído a dizer absolutamente tudo o que pensar, por mais insignificante (ou errado) que pareça o pensamento. Freud simplifica o conceito fazendo uma analogia com uma viagem de trem:
“[…]Diga tudo o que lhe passa pela mente. Aja como se, por exemplo, você fosse um viajante sentado à janela de um trem em movimento descrevendo para alguém tudo o que você vê lá fora. Finalmente, não esqueça que prometeu ser absolutamente honesto e nunca deixar nada de fora por achar que, por uma razão ou outra, é desagradável dizê-lo.”
 
Apesar de parecer simples, a prática nem sempre é encarada com tanta facilidade por clientes que nunca visitaram um(a) psicanalista antes. É muito comum que os clientes peçam, por exemplo, mais orientações sobre o procedimento, tais como: “Entendi, mas por onde começo?”.
Tecnicamente, o cliente pode começar com qualquer assunto, pois rapidamente a livre associação se consolidará. Freud diz que o material inicial em si não fará diferença para o decorrer da sessão, desde que o(a) psicanalista permita que o próprio cliente escolha:
“O material com que se inicia o tratamento é, em geral, indiferente – a história da vida do paciente, ou a história de sua doença, ou suas lembranças de infância. Mas, em todos os casos, deve-se deixar que o paciente fale e ele deve ser livre para escolher em que ponto começará. Dessa maneira, dizemos-lhe: ‘Antes que eu possa lhe dizer algo, tenho de saber muita coisa sobre você; por obséquio, conte-me o que sabe a respeito de si próprio.’”.
 
Relato do cliente – Em quais detalhes prestar atenção
Uma preocupação muito comum na formação de psicanalistas é quanto ao que devemos nos atentar no conteúdo do relato dos clientes. Devemos nos concentrar linearmente na narrativa? Freud nos brinda com a seguinte técnica:
A técnica é muito simples. Como se verá, ela rejeita o emprego de qualquer expediente especial (mesmo de tomar notas). Consiste simplesmente em não dirigir o reparo para algo específico e em manter a mesma ‘atenção flutuante’ em face de tudo o que se escuta.
 
Isto é, o(a) psicanalista deve preferir escutar sob o exercício de atenção flutuante em vez de tentar constituir detalhes da narrativa. Pois o contrário disso, ou seja, a prontidão e a atenção direcionadas podem comprometer o processo psicanalítico:
“Desta maneira, evitamos um perigo que é inseparável do exercício da atenção deliberada. Pois assim que alguém deliberadamente concentra bastante a atenção, começa a selecionar o material que lhe é apresentado; um ponto fixar-se-á em sua mente com clareza particular e algum outro será, correspondentemente, negligenciado, e, ao fazer essa seleção, estará seguindo suas expectativas ou inclinações. Isto, contudo, é exatamente o que não deve ser feito”
 
De acordo com Freud, o que se consegue desta maneira será suficiente para todas as exigências durante o tratamento. Aqueles elementos do material que já formam um texto coerente ficarão à disposição consciente do(a) psicanalista; o resto, ainda desconexo e em desordem caótica, parece a princípio estar submerso, mas vem rapidamente à lembrança assim que o paciente traz à baila algo de novo, a que se pode relacionar e pelo qual pode ser continuado.
O que anotar do relato do cliente
As notas durante as sessões de análise são minimamente aconselhadas (exatamente pelo mesmo motivo da atenção). Deve-se anotar algo somente quando se fizer extremamente necessário:
“Não posso aconselhar a tomada de notas integrais, a manutenção de um registro estenográfico etc., durante as sessões analíticas. À parte a impressão desfavorável que isto causa em certos pacientes, as mesmas considerações que foram apresentadas com referência à atenção aplicam-se também aqui. Nenhuma objeção pode ser levantada a fazerem-se exceções a esta regra no caso de datas, texto de sonhos, ou eventos específicos dignos de nota, que podem ser facilmente desligados de seu contexto e são apropriados para uso independente, como exemplos. Mas tampouco tenho o hábito de fazer isto”
 
Isso não significa, no entanto, que Freud não tivesse suas anotações. Tinha o hábito de anotar após o dia de trabalho: “Quanto aos exemplos (mencionados acima), anoto-os, de memória, à noite, após o trabalho se encerrar; quanto aos textos de sonhos a que dou importância, faço o paciente repeti-los, após havê-los relatado, de maneira a que eu possa fixá-los na mente. “.
Para Freud, anotações detalhadas com informações exatas são de menor valor do que se poderia esperar. São, via de regra, fatigantes para o leitor e ainda não conseguem substituir sua presença concreta em uma análise.
Quando fazer as comunicações ao paciente (elaborações)
O momento de fazer as elaborações, quando necessário, deve ser preciso. Freud nos alerta que isso só deve ocorrer quando houver transferência estabelecida:
Quando devemos começar a fazer nossas comunicações ao paciente? Qual é o momento para revelar-lhe o significado oculto das idéias que lhe ocorrem, e para iniciá-los nos postulados, e procedimentos técnicos da análise? A resposta a isto só pode ser: somente após uma transferência eficaz ter-se estabelecido no paciente, um rapport apropriado com ele. Permanece sendo o primeiro objetivo do tratamento ligar o paciente a ele e à pessoa do(a) psicanalista.
 
Via de regra, as elaborações devem ser evitadas com os primeiros clientes. Isto é, aconselha-se que o(a) psicanalista recém-formado, ao menos em suas primeiras elaborações, busque orientação de sua sociedade psicanalítica para uma elaboração adequada.
Isso evita que uma eventual elaboração incorreta frustre o tratamento. Normalmente, em queixas/sintomas leves, o próprio cliente (se for bem instruído a respeito da psicanálise) será capaz de elaborar a origem de seu sintoma.

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Atos Falhos

 
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Instituto Somata · Atos Falhos
Atos falhos são enganos comportamentais e verbais que revelam uma manifestação da mente inconsciente. Geralmente se manifestam como uma palavra trocada no meio de uma frase ou como um comportamento inesperado. São diferentes de meros erros por possuírem uma ligação direta com desejos inconscientes.
Os tipos mais comuns de atos falhos são:
  • Atos falhos de linguagem –  trocar uma palavra por outra na hora de falar, ler ou ouvir;
  • Atos falhos na memória – esquecer de fazer algo que deveria fazer, esquecer um nome etc.;
  • Atos falhos no comportamento – pisar em falso, derrubar algo no meio de uma conversa, quebrar propositalmente algo etc.
Os atos falhos são considerados sintomas. São geralmente retorno de algo que foi recalcado.
Para entender melhor a engenhosidade da mente inconsciente na utilização de atos falhos, veremos adiante o artigo As sutilezas de um ato falho (Freud, 1935):
 
***Início do Artigo***
Eu estava preparando para uma amiga um presente de aniversário – uma pequena pedra preciosa trabalhada, para ser engastada num anel. Ela estava fixa no centro de um recorte de cartolina resistente, e neste escrevi as seguintes palavras: ‘Comprovante para entrega, à firma L., joalheiros, de um anel de ouro … para a pedra anexa, na qual está gravado um barco, com vela e remos.’ Contudo, no ponto em que ali deixei uma lacuna, entre ‘ouro’ e ‘para’ havia uma palavra que eu fora obrigado a riscar por ser inteiramente desnecessária. Era a pequena palavra ‘bis‘ [‘até’, em alemão]. Mas por que eu a teria escrito?
Ao ler toda a breve inscrição que havia feito, surpreendeu-me o fato de que continha a palavra ‘für‘ [‘para’] duas vezes, em rápida sucessão: ‘para entrega’ – ‘para a pedra anexa’. Isto pareceu feio, devia ser evitado. Então me ocorreu que ‘bis‘ tinha sido substituído por ‘für’, numa tentativa de evitar a deselegância estilística. Certamente era isto; era, porém, uma tentativa que se utilizava de meios extremamente inadequados.
A preposição ‘bis‘ estava muito fora de lugar nesse contexto e não tinha como ser substituída pelo necessário ‘für‘. Assim sendo, por que justamente ‘bis‘? Talvez a palavra ‘bis‘ não fosse a preposição indicativa de tempo-limite. Pode ter sido algo totalmente diferente – a palavra latina ‘bis‘ – ‘uma segunda vez’, que conservou seu significado em francês. ‘Ne bis in idem‘ é uma máxima da lei romana.
‘Bis! bis!‘ é o que grita o francês, quando deseja ver repetida uma apresentação. Assim, esta deve ser a explicação de meu absurdo lapso de escrita. Eu estava sendo advertido contra o segundo ‘für‘, contra uma repetição da mesma palavra. Alguma outra devia ser colocada em seu lugar. A fortuita identidade de som entre a palavra estrangeira ‘bis‘, que incorporava a crítica à fraseologia original, e a preposição alemã possibilitou a inserção de ‘bis‘ em lugar de ‘für‘ na forma de lapso de escrita.
Esse engano, todavia, atingiu seu objetivo, não ao ser efetuado, mas somente depois de ter sido corrigido. Tive de riscar o ‘bis‘, e com isto, por assim dizer, eliminei a repetição que me perturbava. Realmente digna de interesse essa variante do mecanismo de uma parapraxia! Senti-me muito satisfeito com essa solução.
Na auto-análise, porém, o perigo de fazer coisas incompletas é muito grande. Pode-se, com muita facilidade, ficar satisfeito com uma explicação parcial, atrás da qual a resistência facilmente pode estar ocultando algo que talvez seja mais importante.
Contei esta pequena análise a minha filha, e ela imediatamente viu como a coisa acontecera: ‘Mas o senhor já deu a ela uma pedra igual a essa, para um anel, anteriormente. Esta é provavelmente a repetição que o senhor quer evitar. As pessoas não gostam de dar sempre o mesmo presente.’ Isto me convenceu; havia realmente a objeção contra uma repetição do mesmo presente, não da mesma palavra. Tinha havido um deslocamento para algo banal com a finalidade de desviar a atenção de algo mais importante: uma dificuldade estética, talvez, em lugar de um conflito instintual. Pois foi fácil descobrir a outra seqüência. Eu estava procurando um motivo para não dar de presente a pedra, e esse motivo foi providenciado pela reflexão de que eu já havia dado o mesmo presente (ou um muito parecido).
Por que essa objeção devia ser ocultada, ou disfarçada? Logo vi por quê. Não tinha nenhuma vontade de me desfazer da pedra. Gostava muito dela e a queria para mim. A explicação para essa parapraxia foi encontrada sem maiores dificuldade. Na realidade, logo me ocorreu uma ideia consoladora: pesares desse tipo só aumentam o valor de um presente. Que espécie de presente seria este, se não se lamentasse um pouco dá-lo? Não obstante, o episódio possibilita que se perceba, mais uma vez, como podem ser compilados os processos mentais mais modestos e aparentemente mais simples. Cometi um lapso ao redigir umas anotações – coloquei ‘bis‘ onde devia escrever ‘für‘ -, percebi-o e o corrigi: um pequeno erro, ou antes, uma tentativa de erro, e assim mesmo encerrava tão grande número de premissas e de fatores dinâmicos. Com efeito, o erro não podia ter ocorrido se o material não fosse especialmente favorável.
***Fim do Artigo***
 
A princípio Freud verificou que utilizara a palavra bis pois havia repetido a palavra “para”. Em seguida, falou com a filha que propôs que a palavra bis foi utilizada porque Freud já havia dado uma pedra igual à mesma pessoa. Por fim, Freud percebeu que este ato falho só aconteceu porque ele não queria de fato dar a pedra.

Sonhos

 
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Instituto Somata · Sonhos
“Há alguns anos, dei como resposta à pergunta de como alguém se pode tornar analista: ‘Pela análise dos próprios sonhos’” (Freud, 1912)
 
Freud descobre e demonstra que os sonhos são sempre realizações imaginárias de desejos inconscientes reprimidos, mesmo que sejam desagradáveis ​​e pareça não haver realização de desejos;
Os sonhos são uma das principais vias de acesso ao inconsciente, pois quando dormimos a censura é relaxada, e é menos resistente que ao acordar. Assim, podemos ter acesso ao inconsciente e revelar o significado oculto no sonho. Isso trará alívio ao cliente e uma melhor compreensão do que está acontecendo com ele (ou com nós mesmos).
Há duas características importantes na formação dos sonhos que veremos a seguir:
  • Deslocamento
  • Condensação
Deslocamento
O Sonho (Le Rêve) – Henri Rousseau – pintura pós-impressionista
Freud notou que coisas importantes no conteúdo latente eram frequentemente representadas por coisas aparentemente insignificantes no conteúdo manifesto.
Um sonho pode parecer ser sobre uma coisa, mas os pensamentos oníricos podem mostrar que era realmente sobre outra coisa.
Por causa desse fenômeno, Freud disse que a importância relativa dos elementos do sonho poderia sofrer deslocamento. A emoção associada a uma ideia ou experiência é separada dela e ligada a outra.
Condensação
Em certo sentido, resultado do deslocamento. Vários elementos do sonho (imagens, figuras, ideias, temas etc.) são combinados em um.
A condensação pode ser observada em:
  • Duas imagens se sobrepõem: “O rosto que vi no sonho era ao mesmo tempo do meu amigo e do meu tio”.
  • Uma característica comum a dois ou mais elementos díspares: Gandhi e Hitler eram vegetarianos.
  • O manuseio de palavras ou nomes: palavras de duplo sentido, atos falhos etc.
A condensação é a razão pela qual não há correspondência nítida e um a um entre os elementos do conteúdo manifesto e o conteúdo latente.
É também por isso que o conteúdo manifesto é muito mais compacto do que o conteúdo latente. Um único fragmento de um sonho pode conter vários pensamentos oníricos latentes, até mesmo os contraditórios.
Revisão secundária
Embora muitos sonhos não pareçam “fazer sentido”, muitos outros parecem ser bastante coerentes e lógicos. Freud diz que é função da revisão secundária criar essa aparência de coerência narrativa: ela “preenche as lacunas da estrutura do sonho com fragmentos e remendos”.
Como o nome indica, a revisão secundária ocorre no final do processo de construção do sonho e pode ser basicamente considerada como a aplicação de processos de pensamento conscientes ao material do sonho.
Pode estar ligado a uma tendência do ego de tentar encobrir as inconsistências, fazendo com que as coisas pareçam ter sentido.
Nota: Aprenderemos sobre a interpretação dos sonhos no módulo 4.

Moral, amoral e imoral

 
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Instituto Somata · Moral, Amoral E Imoral
A psicanálise é uma disciplina amoral, portanto o seu exercício clínico também deve ser. Para entendermos o que isso significa, precisamos antes refletir sobre o que é moral.
Moral
Segundo o Cambrige Dictionarymoral pode ser entendida da seguinte maneira:
Relativo aos padrões de bom ou mau comportamento, justiça, honestidade, etc. em que cada pessoa acredita, ao invés de leis. Alguns exemplos:
  • É sua obrigação moral contar à polícia o que sabe.
  • Não faz parte do trabalho do romancista fazer um julgamento moral.
  • Ela foi a única política a condenar a lei proposta por motivos morais.
  • Ele tem convicções morais muito fortes.
  • Como você ousa dizer isso? Você não tem valores morais?.
Ou seja, moral diz respeito a valores pessoais de cada indivíduo sobre o certo e o errado. Esses valores são interpretações do material moral que o indivíduo recebe em seu desenvolvimento. Isto é, os valores dos criadores, escola, sociedade etc. ajudam a constituir a moral do indivíduo, porém não são determinantes, pois a subjetividade individual arrematará.
Tudo o que vai contra a moral do indivíduo será considerado imoral.
Mafalda – Autor: Quino
Imoral
A palavra imoral, por sua vez, significa aquilo que é entendido como moralmente errado (por uma ou mais pessoas):
    • um ato imoral;
    • comportamento imoral;
    • Criar mais um imposto seria imoral!
Charge – Autor: Amarildo
É importante notar que, mesmo que alguém julgue algo como imoral, isso não significa que aquilo seja realmente imoral. O julgamento do indivíduo não é uma externalização de uma lei universal, apenas de um entendimento próprio e particular.
Amoral
É o que não pauta sua conduta por princípios morais; estranho à moral; sem princípios morais. Em suma, é tudo o que não se utilizará de princípios morais para determinar se algo é bom ou ruim (ou certo ou errado), guiado assim a plena neutralidade de conduta.
Desta maneira é a psicanálise, uma disciplina amoral, pois não pauta sua conduta por qualquer princípio moral que seja. Em outras palavras, o(a) psicanalista não julga o conteúdo da fala do cliente, mantendo-se livre de amarras morais para que o processo terapêutico possa ter sucesso.

O que um psicanalista pode fazer

 
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Agora que já sabemos os primeiros fundamentos da teoria psicanalítica (setting, livre associação, atos falhos e sonhos), podemos definir claramente o que um psicanalista pode fazer no exercício de sua ocupação.
A psicanálise, como vimos na aula anterior, é uma disciplina amoral. Portanto o(a) psicanalista também deve ser amoral (ao menos durante o exercício da ocupação).
O que é permitido ao psicanalista durante uma sessão psicanalítica:
  • Caso seja a primeira sessão de análise do cliente, cabe ao psicanalista explicar como funciona o método de livre associação;
  • Uma vez que o cliente conheça o método de livre associação, caberá ao psicanalista somete ouvir o relato do cliente;
O que um psicanalista não pode fazer
 
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A seguir, a lista de coisas que o(a) psicanalista NÃO pode fazer:
  • Não pode orientar (faça isso, faça aquilo) – exemplos: “você deve pedir desculpas para a sua esposa” ou “pare de se culpar por seus problemas” ;
  • Não pode receitar remédios;
  • Não pode sugerir ao cliente que busque por auxílio de outros profissionais;
  • Não pode aplicar qualquer técnica que não seja a livre associação, sonhos e atos falhos para elaboração;
  • Não pode diagnosticar – exemplos: “você sofre de depressão”, “você é bipolar”, “você é neurótico”, “você é perverso” etc.
  • Não pode denunciar o cliente à polícia ou qualquer outro órgão (público ou não) – Isto é, independentemente do que se ouça dentro da clínica psicanalítica, o(a) psicanalista nunca deverá deixar que o relato do cliente saia da clínica. Caso não esteja confortável com o relato do cliente, caberá ao psicanalista ouvir tudo até o fim e sugerir o encerramento do tratamento sem dizer o motivo ao cliente;
  • Não pode gravar as análises.

Psicanálise – Módulo 3

Bem-vindo(a) ao 3° módulo do curso de Formação Profissional em Psicanálise.
Neste módulo veremos como a civilização exerce papel fundamental no desencadeamento de neuroses nos indivíduos. Entenderemos que todo ser humano possui tendências específicas para tentar controlar a hostilidade e ansiedade. Além disso, veremos cada etapa do tratamento psicanalítico, do início ao fim.
Informações do Curso
Tempo estimado: 1-2 meses
 
AULA INAUGURAL
 
A civilização não apenas reprime e controla nossas pulsões, mas também gera novas necessidades que, quando não satisfeitas, desencadeiam as neuroses.
Estandarte de Ur – artefato sumério – a Suméria é uma das civilizações
mais antigas que se tem registro (região sul da Mesopotâmia)

 

Uma infância conturbada aumentará a hostilidade básica da criança diante de seus pais e cuidadores, intensificando assim suas tendências neuróticas e, consequentemente, criando um círculo vicioso de necessidades neuróticas.
Veremos que estamos todos sujeitos às demandas da nossa cultura, portanto a ansiedade é eternamente levada durante nossa vida.
Entenderemos como a resistência e a transferência influenciam o tratamento, assim como a maneira correta de lidar com a contratransferência. Além disso, veremos os tipos de elaboração e interpretação que podem ser usadas na clínica psicanalítica. Ou seja, aprenderemos o tratamento do início ao fim, passo a passo.
“[…] nossa civilização é em grande parte responsável por nossa desgraça e seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições primitivas.” (Freud, 1930)

 

Análise pessoal e atendimento supervisionado
 
As análises pessoais são obrigatórias a todos(as) que queiram se formar psicanalistas. Não é necessário fazer as análises pessoais no módulo 3, você pode fazer ao concluir os 4 módulos. No entanto, caso você queira ter uma formação rápida (6 meses), é importante que comece a fazer as análises obrigatórias durante o módulo 3 (ou ao finalizar o módulo 3).
As análises devem ser feitas durante o curso. Não serão aceitas análises feitas antes do período do curso.
O instituto também poderá solicitar a você que faça análises a qualquer momento, conforme regimento e contrato.
Se você já fez as análises pessoais (ou está fazendo):
  • Se você já fez as análises pessoais em nosso instituto (ou está fazendo) – ao final do módulo 3 você estará apto(a) a realizar o atendimento supervisionado. Mais informações abaixo;
  • Se você já fez as análises pessoais com psicanalista particular (ou está fazendo) – as análises pessoais com psicanalistas particulares só são aceitas se cumprirem com os requisitos estipulados no módulo 1 (Como e quando fazer as análises pessoais obrigatórias). Orientamos a leitura do módulo e aula supracitados para compreender os requisitos.
Se você ainda NÃO fez as análises pessoais:
  • Não é necessário ter pressa. Você deve fazer as análises pessoais quando achar que é o momento adequado.  Note, porém, que você só poderá iniciar o atendimento supervisionado caso as análises pessoais já tenham sido feitas. Também é importante saber que, caso o instituto solicite, você deverá fazer análises antes de dar continuidade aos estudos teóricos,
Quantas análises são necessárias?
  • Caso faça as análises em nosso instituto – 3 sessões necessárias;
  • Caso faça as análises com psicanalista particular – 5 sessões necessárias.
Nota: caso perceba-se a necessidade, o Instituto Somata e seus representantes poderão solicitar mais análises, conforme contrato e regimento. A necessidade se evidencia pela voracidade (conforme estudada no curso).
Frequência
É importante notar que, apesar de o nosso curso solicitar apenas três (3) sessões de análise pessoal para a formação, é sua obrigação enquanto psicanalista dar continuidade às análises pessoais enquanto exercer a atividade de psicanalista.
Isto é, considerando que o aprendizado sobre a mente humana nunca cessa (seja a nossa mente ou de nossos clientes) e os efeitos da contratransferência que ocorrerão durante a carreira de psicanalista, as análises pessoais constantes se tornam indispensáveis.
Atendimento supervisionado
O atendimento supervisionado só pode ser iniciado caso as análises pessoais obrigatórias já tenham sido feitas. Ao finalizar o módulo 3 e obter nota mínima (8.5) no exame final do módulo 3, você será inscrito(a) no módulo 4 e também no módulo de atendimento supervisionado onde encontrará todas as informações necessárias (o que fazer, como fazer etc.).

 

 Hostilidade Básica e Ansiedade Básica
Como vimos nos módulos anteriores, o desenvolvimento de uma psique saudável depende das interações da criança com o meio em que vive. Isto é: criadores/pais, irmãos, amigos e sociedade em geral (etc.). Desde o nascimento as pulsões do indivíduo vivem em conflito com as determinações da civilização.
A civilização (enquanto cultura) também desperta novas demandas na mente do ser humano, pois estabelece padrões (certo/errado, bom/ruim, bonito/feio etc.). As angústias e sofrimentos dos seres humanos serão, em sua totalidade, reflexo da cultura vigente naquele momento. Isto é, o ser humano em suas fases de desenvolvimento psicossexual deve reprimir o que é culturalmente condenável.
De acordo com Karen Horney (1937/1977, p.9), “chegamos à nossa concepção de normalidade por intermédio da aprovação de certos padrões de conduta e sentimentos dentro de um certo grupo, que impõe esses padrões a seus membros.”. Desta maneira, rodeado de modelos e padrões, o ser humano passa a potencializar tendências neuróticas.
“A civilização exige outros sacrifícios além do da satisfação sexual. ” (Freud, 1930)
Sob a influência da cultura, o ser humano guia sua existência orientado por dois princípios fundamentais: satisfação e segurança. Isso acontece pois “sentimentos e atitudes são moldados, num grau incrivelmente elevado, pelas condições em que vivemos, tanto culturais quanto individuais, inseparavelmente entrelaçadas.” (HORNEY, 1937/1977):
  • Satisfação – A gratificação, a busca por prazer;
  • Segurança – Uma necessidade criada socialmente (cultura): o ser humano não pode gozar da satisfação de todas as suas necessidades a menos que se sinta livre de temores.
     
    O Grito – Edvard Munch – movimento expressionista
O medo (a necessidade de segurança)
O medo sentido por todos os indivíduos é fator estritamente cultural. Horney explica  que as condições de vida de toda cultura dão lugar a certos medos. Podem ser ocasionados por perigos externos (natureza, inimigos), pelas modalidades das relações sociais (incitamento à hostilidade devido ao recalque, injustiça, frustrações), por oposição a tradições culturais (medo tradicional de demônios, de violação de tabus) independentemente de como se hajam originado.
Um indivíduo pode ser mais ou menos sujeito a esses medos, porém, de modo geral os medos atuam sobre todos os indivíduos que vivem numa dada cultura e ninguém pode escapar deles.
Hostilidade básica e Ansiedade básica
Quando as necessidades de satisfação e segurança não são devidamente satisfeitas na infâncias, a hostilidade básica e a ansiedade básica surgem.
  • Hostilidade básica: surge quando os criadores/pais não são capazes de satisfazer as necessidades da criança em relação à sensação de segurança e satisfação.
  • Ansiedade básica: hostilidade reprimida que leva à sensação de insegurança e apreensão.
O Eu (self)
eu real (self) é a essência do ser, seu potencial. Se alguém tem uma concepção precisa de si mesmo, é livre para realizar seu potencial. O eu real da pessoa saudável visa atingir sua autorrealização ao longo da vida.
eu ideal de uma pessoa surge quando suas necessidades não são devidamente atendidas na infância (como a hostilidade básica), quando a vida deixa de ser o que ela gostaria que fosse.
Assim o eu real é dividido em um eu ideal e um eu desprezado. O que a pessoa “deveria” ser é o seu eu ideal. Este eu ideal não é uma meta positiva, nem realista ou possível. O eu desprezado surge exatamente quando o eu ideal não pode ser concretizado. É o sentimento de que se é odiado por todos ao seu redor; o indivíduo passa a entender que esse ser odiado é o seu verdadeiro eu.
O indivíduo, portanto, oscila entre fingir ser perfeito e odiar a si mesmo. Horney chamou essa batalha interna de “tirania dos deveres” e “busca por glória”. Esses dois eus impossíveis impedem o ser humano de alcançar seu potencial. Quando as condições são favoráveis, o eu se desenvolve sadio e relativamente preparado para os medos da sociedade.
O eu real, portanto, é o repositório da “consciência saudável” (Horney, 1950, p. 131). Isto é, o eu real é “comum a todos os seres humanos, mas único em cada um” (p. 17), pois o eu real é uma fonte de valores que são obtidos no desenvolvimento humano, independentemente da cultura.

 

 Tendências Neuróticas
Todos os indivíduos possuem três tendências neuróticas que são usadas para combater (compensar) as ansiedades básicas.
As tendências neuróticas são padrões de comportamentos repetidos dentro da cultura/civilização:
Velho Triste (“No Portão da Eternidade”) – Van Gogh
  • Docilidade excessiva (mover-se em direção aos outros): essas necessidades podem fazer com que os indivíduos busquem afirmação e a aceitação dos outros;
  • Solidão e Isolamento (afastar-se dos outros): as necessidades neuróticas deste grupo podem criar hostilidade social e comportamento anti-social;
  • Hostilidade e Agressividade (mover-se contra os outros): as necessidades neuróticas deste grupo podem resultar em hostilidade e necessidade de controlar outras pessoas.
Os três (3) grupos de tendências neuróticas mencionados acima são tendências que existem em todas as pessoas. Todas as pessoas utilizam essas tendências em maior ou menor grau. Quando o indivíduo faz uso excessivo de uma das tendências acima, possivelmente terá uma agravada necessidade neurótica e desenvolverá uma neurose.
 
Necessidades Neuróticas
 
Cada estratégia (tendência neurótica) mencionada anteriormente contém algumas necessidades neuróticas conforme vemos a seguir.
As 10 necessidades neuróticas
Todo indivíduo utiliza as três estratégias (em direção, afastamento e contra os outros), mudando o foco e intensidade dependendo de fatores internos e externos.
Então, o que torna essas estratégias de enfrentamento neuróticas? Segundo Horney, é o uso excessivo de um ou mais desses estilos interpessoais.
1. A necessidade neurótica de afeto e aprovação
Esta necessidade inclui o desejo de ser amado, de agradar outras pessoas e atender às expectativas dos outros. Pessoas com esse tipo de necessidade são extremamente sensíveis à rejeição e críticas. Por isso temem constantemente a desaprovação.
2. A necessidade neurótica de um(a) parceiro(a) poderoso(a), que tome conta de tudo
A necessidade de viver centrado em um(a) parceiro(a). Pessoas com esta necessidade têm medo extremo de serem abandonadas por seus parceiros. Muitas vezes, essas pessoas atribuem uma importância exagerada ao amor e acreditam que ter um parceiro resolverá todos os problemas da vida. Costuma ser pessoas que têm pouca confiança em si mesmas.
3. A necessidade neurótica de restringir a vida dentro de limites específicos
Indivíduos com essa necessidade preferem permanecer discretos e despercebidos. Eles são pouco exigentes e se contentam com pouco. Evitam desejar coisas materiais, muitas vezes tornando suas próprias necessidades secundárias e subestimando seus próprios talentos e habilidades.
4. A necessidade neurótica de poder
Indivíduos com esta necessidade buscam o poder. Geralmente elogiam o poder, desprezam a fraqueza e controlam ou dominam outras pessoas. Essas pessoas temem limitações pessoais, desamparo e situações incontroláveis.
5. A necessidade neurótica de explorar os outros
Esses indivíduos veem os outros em termos do que pode ser ganho por meio da associação com eles. Pessoas com esta necessidade geralmente se concentram em manipular outras pessoas para conquistar os objetivos desejados, incluindo coisas como poder, dinheiro ou sexo. É comum que pessoas com esta necessidade neurótica temam ser exploradas por outras pessoas.
6. A necessidade neurótica de reconhecimento social e prestígio
Indivíduos com necessidade de prestígio sempre querem ser importantes e reconhecidos. Bens materiais, realizações profissionais e amizades são avaliadas com base no valor de prestígio social. Esses indivíduos frequentemente temem o constrangimento público e a perda de status social.
7. A necessidade neurótica de admiração pessoal
Indivíduos com necessidade neurótica de admiração pessoal são narcisistas e têm uma autopercepção exagerada. Eles querem ser admirados com base nessa visão própria imaginada, não em como realmente são.
8. A necessidade neurótica de ambição e realização pessoal
Tentar ter cada vez mais realizações é um resultado da insegurança básica. Indivíduos com esta tendência temem o fracasso e sentem uma necessidade constante de realizar mais do que outras pessoas. Geralmente precisam superar até mesmo seus próprios sucessos anteriores.
9. A necessidade neurótica de autossuficiência e independência
Esses indivíduos exibem uma mentalidade “solitária”, distanciando-se dos outros para evitar serem dependentes de outras pessoas. Ao mesmo tempo, conseguem evitar a solidão com antecipação do ato.
10. A necessidade neurótica de perfeição
Esses indivíduos lutam constantemente pela infalibilidade completa. Uma característica comum dessa necessidade neurótica é a busca por falhas pessoais para mudar rapidamente ou encobrir essas imperfeições percebidas.

 

Inveja do Pênis e Inveja do Útero
Karen Horney constatou no decorrer de sua carreira que de fato existe a inveja do pênis. No entanto, diferentemente do que se pensava, o fator desencadeante é a cultura.
Em “Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos” (1925), Freud apresenta a teoria de que as diferenças sexuais anatômicas inevitavelmente levam toda moça a invejar os rapazes por estes possuírem um pênis. Mais tarde, segundo Freud, a vontade de ter um pênis se transforma na vontade de possuir um homem por ser ele detentor de um pênis.
Judite decapitando Holofernes – Artemisia Gentileschi – pintura barroca
No entanto, ao fazer as afirmações acima, “Freud cede à tentação de sua época: fazer generalizações sobre a natureza humana para toda a humanidade, embora sua generalização provenha tão só da observação de uma área cultural específica” (Horney, 1937). Assim, a inveja do pênis constatada por Freud é um reflexo estrito de sua época que, na verdade, representava a inveja do poder do homem na sociedade (Horney, 1937) e não a vontade de possuir um pênis em si.
Além disso, Horney percebeu que há nos homens a inveja do útero. Isto é, o medo e a inveja dos homens do poder das mulheres de dar à luz e nutrir a vida. Isso leva os homens a reagirem buscando outras formas de poder; como físico ou político. Confirmou ainda que os homens sentem um impulso para o sucesso e para a tentativa de eternizar seus nomes para compensar a incapacidade de gerar e criar filhos.
Horney verificou que os homens experimentam a inveja do útero com mais força do que as mulheres experimentam a inveja do pênis. Isso é constatado ao verificar que os homens precisam menosprezar as mulheres mais do que as mulheres precisam menosprezar os homens. Melanie Klein também constata o mesmo com o complexo de feminilidade.
A inveja do útero é uma tendência psicossocial, assim como a inveja do pênis, ao invés de uma qualidade inerente ao ser humano.
Leitura complementar necessária: A personalidade neurótica de nosso tempo – Karen Horney

 

 Resistência
A resistência é a relutância geral do cliente em mudar seu comportamento e aceitar o processo terapêutico para o próprio crescimento pessoal. Essa resistência pode se desenvolver por uma miríade de razões, algumas conscientes e outras inconscientes. A resistência pode estar presente mesmo naquelas pessoas que declaradamente querem ajuda através do tratamento psicanalítico.
A defesa do Sampo (Sammon puolustus) – Akseli Gallen-Kallela
A resistência ao tratamento também pode ser entendida de uma maneira mais geral, não somente psicanalítica. Afinal, a resistência não é uma ocorrência incomum. Frequentemente a resistência é uma defesa pontual da mente inconsciente que acredita estar sendo atacada, dada a proximidade do psicanalista com o conteúdo reprimido ou recalcado.
Exemplos de maneiras pelas quais um cliente pode resistir à mudança no tratamento incluem:
  • Silêncio ou interação mínima com o(a) psicanalista;
  • Uso excessivo de palavras (verbosidade);
  • Preocupação com sintomas;
  • Conversa irrelevante;
  • Preocupação com o passado ou futuro;
  • Focar no(a) psicanalista ou fazer perguntas pessoais ao psicanalista;
  • Questionar ou duvidar do(a) psicanalista;
  • Falsas promessas ou esquecimento de fazer algo que havia se proposto a fazer;
  • Não aparecer em consultas ou desmarcar de última hora;
  • Não pagar as consultas.
Transferência
 
Instituto Somata · Transferência
A transferência ocorre quando um indivíduo pega as percepções e expectativas que formulou sobre uma pessoa (objetos do passado) e as projeta em outra pessoa. O individuo em questão então interage com a outra pessoa como se a outra pessoa fosse aquele padrão transferido. Freud descreve da seguinte maneira a constituições desses padrões:
“Deve-se compreender que cada indivíduo, através da ação combinada de sua disposição inata e das influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica — isto é, nas precondições para enamorar-se que estabelece, nos instintos que satisfaz e nos objetivos que determina a si mesmo no decurso daquela. Isso produz o que se poderia descrever como um clichê estereotípico (ou diversos deles), constantemente repetido — constantemente reimpresso — no decorrer da vida da pessoa, na medida em que as circunstâncias externas e a natureza dos objetos amorosos a ela acessíveis permitam, e que decerto não é inteiramente incapaz de mudar, frente a experiências recentes.” (Freud, 1912)
O padrão projetado na outra pessoa vem de um relacionamento na infância. Pode ser de uma pessoa real, como um pai, ou uma figura idealizada. O processo de transferência inclui também a transferência de poder e expectativas relacionadas ao padrão projetado.
Freud revela ainda que a transferência pode ser positiva ou negativa. A transferência positiva de sentimentos amistosos e afetuosos remontará a fontes eróticas:
[…] todas as relações emocionais de simpatia, amizade, confiança e similares, das quais podemos tirar bom proveito em nossas vidas, acham-se geneticamente vinculadas à sexualidade e se desenvolveram a partir de desejos puramente sexuais, através da suavização de seu objetivo sexual, por mais puros e não sensuais que possam parecer à nossa autopercepção consciente. Originalmente, conhecemos apenas objetos sexuais, e a psicanálise demonstra-nos que pessoas que em nossa vida real são simplesmente admiradas ou respeitadas podem ainda ser objetos sexuais para nosso inconsciente.
A transferência não é necessariamente prejudicial, mas pode ser uma forma de resistência do cliente ao tratamento. Se o cliente estiver projetando expectativas inadequadas ou irrealistas no terapeuta, ele ou ela pode não estar inteiramente aberto à mudança que o tratamento pode provocar.
Leitura complementar necessária: A dinâmica da transferência (1912) – Freud

 

Contratransferência
A contratransferência é a transferência dos padrões emocionais e comportamentais do(a) psicanalista sobre o cliente. Pode acontecer como resposta à transferência do cliente ou simplesmente pela falta de preparo técnico do próprio psicanalista.
A contratransferência surge quando o relato do cliente traz algum elemento que serve como gatilho para despertar emoções desafiadoras no(a) psicanalista. Normalmente situações que são familiares à vida do psicanalista têm grandes chances de servirem como gatilho para a contratransferência.
Um exemplo seria o caso de um psicanalista que também é pai e, dadas as características transferenciais do cliente, pode começar a tratar o cliente como se fosse o próprio filho. Sua prática no setting (ou seja, intervenções, elaborações e interpretações) se tornarão cada mais mais controladoras, impactando negativamente o processo terapêutico.
 The son of man – René Magritte
A contratransferência também pode surgir na incapacidade emocional do psicanalista em dar continuidade à terapia por crenças pessoais. Um exemplo seria a hipótese de um psicanalista de uma determinada religião se sentir moralmente confrontado por um cliente de outra religião, propondo assim elaborações imprecisas ou encerrando o tratamento antes que as demandas do cliente sejam atendidas.
Há também a possibilidade de que, dada a agressividade do depoimento do cliente (por exemplo, assassinato, estupro e outros crimes), o(a) psicanalista se sinta incapaz de dar continuidade ao tratamento.
Um psicanalista que mostra demasiado interesse em detalhes íntimos da vida do cliente, perguntando excessivamente questões que só dizem repeito ao cliente, também pode estar executando a contratransferência, tendo em vista que apenas os detalhes trazidos pelo próprio cliente são importantes. Um exemplo disso seria o(a) psicanalista que se interessa em como o cliente faz sexo, por exemplo, em vez de buscar a angústia do ciente.
Há casos em que o(a) psicanalista pode desenvolver afeto pelo cliente, estando então em plena execução de contratransferência, desfavorecendo totalmente o tratamento.
Um psicanalista que age de acordo com seus sentimentos em relação à pessoa que está sendo tratada (ou à situação dessa pessoa) estará gerenciando inadequadamente a contratransferência.
A postura de livre desinteresse sobre todo e qualquer cliente, desde o início, é a principal maneira de evitar a contratransferência. Além disso, enquanto psicanalista você também deverá estar sob análise constante, a fim de evitar resquícios e consequências da contratransferência desenvolvida durante a ocupação.
 
Elaboração
A elaboração (ou interpretação) é a comunicação verbal entre psicanalista e cliente na qual o(a) psicanalista propõe suas hipóteses sobre os conflitos inconscientes do seu cliente.
Geralmente, a elaboração do psicanalista ajuda o cliente a ver os mecanismos de defesa que estão sendo usados por ele e os contextos da utilização desses mecanismos. Também mostra a relação impulsiva contra a qual o mecanismo foi desenvolvido e, finalmente, a motivação do cliente para usar esse mecanismo (Otto Kernberg, 2016).
A Explicação (the explanation) – Jean Carolus
Há algumas classificações possíveis para a elaboração que ocorre dentro da clínica psicanalítica:
  • Esclarecimento – perguntas oportunas que esclarecerão o fato sob outras perspectivas, geralmente revelando as emoções e os seus motivos;
  • Confronto – o(a) psicanalista traz aspectos não verbais do comportamento do cliente à sua consciência;
  • Interpretação – a hipótese proposta pelo(a) psicanalista a respeito do significado inconsciente que relaciona todos os aspectos da comunicação do cliente (Kernberg, 2016).
Esclarecimento, confronto e interpretação são os principais aspectos da técnica interpretativa utilizada na psicoterapia psicanalítica. Em pacientes com neuroses graves (isto é, necessidades neuróticas agudas e/ou outros sintomas extremos), o esclarecimento e o confronto ocupam um espaço mais amplo do que a interpretação. Ou seja, as interpretações dos sentidos inconscientes do “aqui e agora” têm mais espaço do que as do interpretar as origens do sintoma.
Somente nos estágios mais avançados do tratamento são introduzidas interpretações além do “aqui e agora”, de modo a relacionar o comportamento passado com o presente. Além disso, as interpretações são mais eficazes quando apresentadas a um paciente emocionalmente preparado. Assim, o uso sequencial de esclarecimento e confrontação abre caminho para a interpretação.
Esclarecimento
O processo de esclarecimento é fundamental para o progresso da terapia. O “esclarecimento” significa fazer perguntas ingênuas e simples, solicitando mais informações sobre os pensamentos, sentimentos e comportamento do cliente – particularmente em relação a eventos que parecem incomuns, autodestrutivos ou parte de um padrão emergente.
Você deve desenvolver um tom neutro e um repertório de frases que demonstram interesse e empatia pelo cliente, não importando o quão estranhas as circunstâncias da narrativa do cliente pareçam para você.
Por exemplo, em vez de dizer: “Por que você mostrou ao seu filho essa imagem tão terrível com sangue e violência?“, você poderia dizer: “Você cogitou que mostrar uma imagem com conteúdo de violência poderia ser perturbador para o seu filho?
Explorar a resposta do cliente às situações é mais eficaz se feito em perguntas diretas (em vez de perguntas abertas), por exemplo:
  • “Você se sentiu devastada?”
Em vez de:
  • “Como você se sente sobre isso?”
Diante de uma pergunta direta (em vez de uma pergunta aberta) o cliente terá duas possíveis reações:
  1. O cliente pode entrar no processo terapêutico concordando com a afirmação: “Sim, é exatamente como me senti!”;
  2. Ou corrigirá a sua frase até que se sinta compreendido(a), gerando um caminho aberto para a livre associação e o processo terapêutico: “Bem, eu não diria que me senti devastada. Acho que ‘furiosa’ é a palavra certa”. 
Essa forma cuidadosa de explorar a narrativa do cliente transforma a fala superficial em algo significativo.
Confronto
“Confronto” em terapia não significa hostilidade ou agressividade como na linguagem leiga. Em vez disso, conota pontar comportamentos repetitivos que são prejudiciais ao cliente – e em muitos casos são comportamentos que ele(a) desconhece.
“Você percebeu que cada vez que você perde uma sessão, isso ocorre depois de falarmos sobre a morte da sua mãe? “
Forças poderosas (resistências) estão em ação dentro de uma pessoa para promover a auto-ilusão (incluindo negação, racionalização, evasão etc.). O confronto pode exigir certa insistência por parte do(a) psicanalista para mostrar a um cliente que um determinado comportamento deve ser encarado logicamente.
Interpretação
Como se faz uma interpretação? Considerando que o confronto envolve apontar comportamentos não adaptativos, interpretação significa colocar esses comportamentos em contexto de realidades mais profundas sobre o que leva o cliente a se comportar daquela forma.
As interpretações sempre deverão ter como base a teoria psicanalítica. Isto é, precisaremos considerar as pulsões naturais do indivíduo, seus desejos reprimidos e/ou recalcados, suas ansiedades básicas, suas tendências e necessidades neuróticas etc.
Além disso, veremos que é frequente na clínica o medo de castração. Manifesta-se de variadas formas no indivíduo adulto, geralmente como uma ansiedade atualizada, revestida de culpa e medo. Faz-se necessário, como de praxe, retroceder na narrativa do cliente e encontrar a origem da ansiedade. Muito frequentemente relacionada a eventos da fase fálica que o impediam de obter a gratificação necessária.

 

Tratamento do início ao fim
Nesta aula veremos a estrutura básica de como deve ser o atendimento psicanalítico do início ao fim.
Como deve ser o tratamento psicanalítico
O tratamento psicanalítico deve ser uma ferramenta auxiliar para que o cliente possa encontrar alívio a suas angústias. Como já estudamos, o tratamento pode ser feito fisicamente ou remotamente (em chamadas, por exemplo), desde que não haja contato visual entre cliente e psicanalista durante a livre associação.
As sessões psicanalíticas seguem a seguinte ordem de eventos:
  1. Ao receber o cliente no dia e hora da sessão, o(a) psicanalista deve perguntar se é a primeira análise psicanalítica do cliente. Se afirmativo, explicar o método de livre associação. Caso contrário, o(a) psicanalista pode simplesmente receber o cliente, cumprimentá-lo e se abster de falar (esta conduta não é obrigatória, mas favorece o início mais rápido da livre associação). Em casos de chamada de áudio: aconselha-se a saudar o cliente e consultar se ambos estão se ouvindo;
  2. Durante as sessões o cliente deve executar a livre associação e o(a) psicanalista deve executar a atenção flutuante. Quando necessário, fazer intervenções solicitando esclarecimento (como visto na aula anterior). Pedidos de esclarecimento (perguntas) podem ser feitos logo na primeira sessão. Aconselha-se que não se faça muitas intervenções (perguntas), no máximo 5-10 por consulta;
  3. Caso seja a primeira sessão do cliente, ao fim da sessão o(a) psicanalista deverá sugerir ao menos 3 sessões (contando com a primeira) para analisar a possibilidade de tratamento.
  4. Sintomas leves e moderados exigem o mínimo de uma sessão por semana;
  5. Nunca fazer confrontos ou interpretações nas primeiras duas sessões;
  6. Confrontos, se necessários, podem ser feitos a partir da terceira sessão;
  7. Interpretações, se necessárias, podem ser feitas apenas após o 2 º (segundo) mês de tratamento;
Minerva e Saturno protegendo a Arte e a Ciência contra a Inveja e as Mentiras – Joachim von Sandrart
Duração do tratamento
A depender da abordagem de cada psicanalista, desde que siga os requisitos do setting analítico (Módulo 2). Há inúmeras abordagens possíveis, ficando a critério do psicanalista. A técnica que ensinamos no decorrer do curso funciona tanto com abordagens tradicionais (onde não se define um limite de tempo) quanto sob a roupagem de psicoterapia breve, definindo foco e tempo.
Sintomas que podem ser tratados
Nas 3 primeiras sessões você deverá verificar se o cliente apresenta algum dos seguintes sintomas:
  • Depressão
  • Transtornos de ansiedade
  • Dificuldades de relacionamento (social e sexual)
  • Dificuldades pós-traumáticas
  • Alterações de humor
  • Indisposição generalizada
  • Fobias
  • Comportamentos autodestrutivos
  • Irritabilidade
  • Transtornos compulsivos
Nota: apesar de os sintomas acima poderem ser tratados com psicanálise, você nunca pode prometer a cura ao cliente, mas sim o alívio do(s) sintoma(s) apresentado(s).
Quando encerrar o tratamento
Há duas circunstâncias que possibilitam o fim do tratamento:
  1. O cliente sente e relata melhoras nos sintomas que foram originalmente reportados;
  2. O cliente não relata melhoras, porém, devido ao tempo de tratamento, a resolução se torna perceptível ao psicanalista.
Em casos de sintomas leves é comum que o paciente sinta a diminuição dos sintomas após 4-5 sessões. Assim, ao perceber a melhora do cliente, o(a) psicanalista pode esclarecer ou confrontar. Neste sentido, o esclarecimento pode aparecer como uma pergunta que relaciona o presente e o passado do(a) cliente.
Por exemplo, um cliente hipotético que relate medo como principal sintoma na primeira sessão (medo de sair de casa, medo de ser agredido(a) etc.). No decorrer do tratamento, o cliente consegue se lembrar de eventos na infância em que teve medo, introjetando-os. Com o passar das sessões, o próprio cliente relata melhoras, dizendo que tem conseguido ignorar o medo e até mesmo esquecê-lo.
Isso sugere que o tratamento pode ser encerrado, ao menos no que diz respeito ao sintoma reportado inicialmente. Diante deste fato, o(a) psicanalista pode ao fim da sessão encerrar o tratamento, relacionando os eventos das relações arcaicas do cliente com os eventos do presente, ou seja, uma breve interpretação em forma de pergunta:
“Você consegue perceber que esse medo que você sente agora é o mesmo medo que você sentia naqueles momentos em que sua prima a(o) ameaçava na infância?”
Assim, caso não existam outros sintomas a serem tratados, o tratamento pode ser encerrado. Caso contrário, ou seja, caso o cliente reporte mais sintomas, deve então o tratamento continuar até que todos (ou a maioria) dos sintomas relatados tenham sido amenizados.
Há também a possibilidade de tratamentos que, apesar de longas durações, não fazem com que o(a) cliente perceba nenhuma melhora. Em casos assim, o(a) psicanalista deve primeiramente verificar seus métodos (se a técnica está correta e se o setting está sendo cumprido adequadamente). Caso as dúvidas persistam, o(a) psicanalista deverá procurar orientação quanto ao tratamento.
No entanto, caso o(a) psicanalista não tenha dúvidas acerca da técnica empregada, deverá analisar o todo e, diante dos relatos e narrativa do cliente, avaliar se houve ou não melhora. Se houve melhora, esclarecer e confrontar se necessário, assim o tratamento pode ser encerrado.
Se não houve melhora alguma após 4 meses de tratamento, isso pode significar que sinais da resistência do cliente foram ignorados. Em situações assim se aconselha que o(a) psicanalista busque orientação de um(a) supervisor(a) na resolução do caso.
Mesmo psicanalistas experientes poderão se deparar com casos onde o cliente não demonstra nenhuma melhora. Freud, ao vivenciar tal fato (com Elisabeth Von R, por exemplo), fez uma interpretação que per se foi capaz de trazer a melhora a ela.
Em suma, o tratamento psicanalítico visa libertar o cliente das amarras morais que o impedem de alcançar a felicidade e a plena satisfação.
Referências bibliográficas usadas para a estruturação de conteúdo desta aula:
  • Corey, G. (2001). Theory and practice of counseling and psychotherapy. (10ª ed.). Belmont, CA: Brooks/Cole Thompson Learning
  • Tori, C.D. & Blimes, M. (Fall 2002). Cross-cultural and Psychoanalytic Psychology: Psychoanalytic Theory.
  • Mitchell, S. & Black, M. (1995). Freud and Beyond: A History of Modern Psychoanalytic Thought

 

Instituto Somata · Homem dos Lobos
O caso do homem dos lobos é um importante porque aborda a teoria de desenvolvimento psicossexual e também a técnica de interpretação de sonhos.
O homem dos lobos (cujo nome verdadeiro era Sergei Pankejeff) foi levado pelo próprio médico a Freud em 1910 para tratar uma depressão totalmente debilitante e outras mazelas, como a incapacidade de evacuar sem a ajuda de enemas.
Durante o tratamento, Sergei descreveu o sonho que possibilitaria a resolução do caso e que também seria usado para a sua denominação:
Sonhei que era noite e que eu estava deitado na cama. De repente, a janela abriu-se sozinha e fiquei aterrorizado ao ver que alguns lobos brancos estavam sentados na grande nogueira em frente da janela. Havia seis ou sete deles. Os lobos eram muito brancos e pareciam-se mais com raposas ou cães pastores, pois tinham caudas grandes, como as raposas, e orelhas empinadas, como cães quando prestam atenção a algo. Com grande terror, evidentemente de ser comido pelos lobos, gritei e acordei. Minha babá correu até minha cama, para ver o que me havia acontecido. Levou muito tempo até que me convencesse de que fora apenas um sonho; tivera uma imagem tão clara e vívida da janela a abrir-se e dos lobos sentados na árvore. Por fim acalmei-me, senti-me como se houvesse escapado de algum perigo e voltei a dormir.” (Freud 1918)
O sonho do homem dos lobos pintado pelo próprio homem dos lobos – Acervo do Freud Museum em Londres
Por possuir elementos extremamente condensados e invertidos, Freud propôs o sonho revelava que Sergei teria testemunhado a cena primária. Do latim, o coitus more ferarum, ou o intercurso sexual à maneira das feras. Em suma, Sergei teria visto os pais tendo relações sexuais.
A cena, totalmente enigmática para Sergei, foi compreendida como um ato de violência do pai contra a mãe, porém ao mesmo tempo provocou excitação sexual, eclodindo assim em inúmeros sintomas na vida adulta.
Após 4 anos de tratamento, Freud considerou Sergei curado. No entanto, em 1926, Sergei volta a se tratar com psicanalistas por mais algumas décadas. Ao fim da vida na década de 1970, concede uma série de entrevistas que viriam a se tornar o livro chamado “conversas com o homem dos lobos” onde relata por fim que nunca se sentiu curado.
Posteriormente, outros psicanalistas como Maria Torok e Nicolas Abraham, propuseram que Sergei ocultou inúmeros eventos que aparecem cifrados na estruturação linguística do relato.
Assim, quando Sergei relatou imprecisamente se avistara 6 ou 7 lobos, ou “pack of six”, comum às matilhas, no caso, um grupo composto de 6 elementos, a sixter. Sixter então, um direcionamento de significado multi-linguistíco inconsciente a própria irmã, portanto sister.
Isso colocaria a irmã de Sergei no centro da trama objetal, e não o pai como Freud imaginara, dando significado completamente diferente.
O caso do homem dos lobos nos revela que é possível analisar um mesmo caso sob diversos prismas psicanalíticos diferentes, não havendo brecha para uma única verdade, mas sim para inúmeros saberes.

 

 Daniel Schreber
O caso de Daniel Schreber é importante pois revela como uma educação severa que exija obediência incondicional pode perturbar a sanidade da psique humana, abrindo caminho para a psicose.
Um dos exercícios corretivos criado por Moritz Schreber, pai de Daniel
Daniel nasceu em uma família alemã burguesa em 1842. Seu pai, médico e professor universitário, foi idealizar do que chamava de “exercícios corretivos sistemáticos”, método que visava corrigir não apenas a postura física das crianças, mas também o comportamento e a mente.
O sistema criado pelo pai de Daniel era severo. Incluía amarras de couro, coletes imobilizadores, tornozeleiras e diversos aparatos mecânicos para supostamente corrigir o comportamento e o caráter das crianças. Um dos aparatos, por exemplo, tentava impedir a masturbação. Além disso, o pai de Daniel praticava e aconselhava métodos nada convencionais para o estímulos nervoso das crianças, como por exemplo, colocar os bebés a partir dos 3 meses de idade em banheiras cheias de gelo.
Esse sistema pedagógico, a princípio, parecia ter funcionado para Daniel que se tornou doutor em direito ao se tornar adulto, adquirindo sucessivos progressos na carreira até se tornar presidente da corte de apelação legal da Saxônia.
Moritz tentava disciplinar o corpo e a mente das crianças
Certa feita, porém, aos 42 anos anos de idade, Daniel teve uma crise intensa diagnosticada como hipocondria grave. Nessa época, ficou meses sob o cuidado de um médico chamado Paul Flechsig.
Após se recuperar do quadro hipocondríaco, Daniel viveu 8 anos bem. Certa manhã, Daniel, acordou e pensou que seria prazeroso sucumbir ao intercurso sexual como se fosse uma mulher.
Esse pensamento, de querer fazer sexo como se fosse uma mulher, alarmou Daniel. Daniel não podia aceitar que tal ideia poderia ter surgido dele mesmo. Não achava possível que alguém como ele pudesse ter tais tipos de pensamentos de forma natural.
Assim Daniel começou a especular. Começou acreditando que estava sendo controlado à distância através de hipnose por um de seus médicos antigos, fato que o levaria a ter pensamentos inadequados.
Em seguida, começou a acreditar que seu médico Flechsig conseguia se comunicar com ele através da língua dos nervos que, segundo Daniel, era um sistema de comunicação que os seres humanos desconheciam.
Em dado momento, passou a suspeitar que as almas de centenas de pessoas tinham especial interesse nele e com ele se comunicavam através de raios divinos, fornecendo informações ou solicitando coisas dele.
Todas as crianças da família Schreber foram criadas sob o mesmo método de correção do pai
Por fim, Daniel acreditava que deus o estava transformando em uma mulher. Segundo Daniel, deus fazia isso enviando raios laser e homenzinhos pequenos para torturá-lo.
Em 1902 Daniel é dado como curado e lança o livro “Memórias de minhas doenças nervosas”. Vive bem até ser internado em um hospício novamente e morrer em 1911.
O irmão mais velho de Daniel se suicidou e sua irmã também enlouqueceu.
Freud não analisou Daniel diretamente, mas sim através dos relatos de seu livro. Constatou que Daniel tinha desejos sexuais reprimidos por seu pai e irmão que, dada a repressão cultural e rígida moralidade de sua época, foram negados mesmo em consciência, sendo esses desejos projetados em figuras externas inalcançáveis, tais como deus.
De acordo com a psicanalista Alice Miller, Daniel foi vítima da chamada pedagogia venenosa. Isto é, um rígido sistema de educação mental e moral incapacitante que envenena a saúde da psique e proíbe o indivíduo de manifestar os próprios desejos. Quando os manifesta, torna-se incapaz de controlá-los, deslocando-se para a psicose.

 

Surrealismo e a mente inconsciente
Enquanto a psicanálise estuda como as atividades da mente inconsciente influenciam o comportamento humano, o surrealismo propõe a verdadeira expressão da mente inconsciente através da arte.
Por esta razão, aprender as técnicas surrealistas é uma maneira eficiente lapidar o próprio entendimento a respeito do funcionamento da mente inconsciente.
Em 1924 André Breton publica o primeiro Manifesto do Surrealismo (Manifeste du Surréalisme) no qual define o movimento como “automatismo psíquico em estado puro, pelo qual se propõe expressar – verbalmente, por meio da palavra escrita, ou de qualquer outra forma – o funcionamento efetivo do pensamento. Ditado pelo pensamento, na ausência de qualquer controle exercido pela razão, isento de qualquer preocupação estética ou moral.”.
A Persistência da Memória – Salvador Dalí – obra surrealista
Técnicas surrealistas
O surrealismo possui inúmeras técnicas que favorecem a inspiração artística e também a livre expressão da mente inconsciente. Essas técnicas podem ser usados a nosso favor, seja para o autoconhecimento ou para aplicação na prática psicanalítica (interpretação e clínica infantil, por exemplo).
Algumas técnicas surrealistas são:
  • Automatismo;
  • Bulletismo;
  • Caligrama;
  • Cubomania.
1. Automatismo
O automatismo é uma das técnicas mais importantes do surrealismo, pois propõe a expressão humana sem a interferência da autocensura. Consiste em escrever, pintar ou desenhar de maneira automática, sem refletir, tudo o que vier à mente.
2. Bulletismo
Técnica criada por Salvador Dalí. Consiste em jogar/disparar tinta sobre uma superfície branca e em seguida desenhar a partir da figura formada pelo disparo. A interpretação inicial da mente que ocasiona o resto da pintura será uma leitura precisa da mente inconsciente.
Caligrama de Guillaume Apollinaire
3. Caligrama
Técnica que utiliza palavras para criar imagens. As palavras vão sendo dispostas e alinhadas de maneira a permitir o surgimento de uma imagem. O conteúdo manifesto da obra apresentará inúmeros elementos latentes, demonstrando a comunicação direta com a mente inconsciente.
4. Cubomania
Técnica na qual se recorta uma imagem/figura em vários pedaços quadrados e depois se organiza novamente cada um dos quadrados de forma automática e/ou aleatória. Isso permite a plena manifestação inconsciente.
Obras surrealistas e sonhos
Interpretar obras surrealistas é como interpretar sonhos. Uma vez que a pintura surrealista é a plena expressão da mente inconsciente, ela terá passado pelos mesmos processos de “criação” de um sonho, isto é: deslocamento, condensação, revisão secundária etc. Esta mesma abordagem é feita quanto aos desenhos das crianças, considerados manifestações semelhantes às oníricas.
A Lâmpada Filosófica – René Magritte – obra surrealista
Técnicas contemporâneas
O automatismo surrealista pode ser facilmente aplicado atualmente. A técnica de escrita automática, por exemplo, que antigamente era feita com caneta e papel, pode hoje em dia ser feita no teclado do computador. Basta digitar com a liberdade do pensamento.
O desenho automático, da mesma maneira, pode tanto ser feito em um computador quanto em um smartphone. Há inúmeros aplicativos de desenho que podem ser usados para este fim nos celulares. Da mesma maneira que a escrita automática, o desenho automático exige apenas a plena liberdade artística.
A expressão da mente inconsciente: livre associação, surrealismo e referências históricas
Freud cita que a livre associação foi influenciada pelo trabalho de inúmeros pensadores e escritores. Em nota de rodapé de A Interpretação dos Sonhos, Freud menciona Johann Shciller como um dos precursores da livre associação.
Além disso, Freud menciona (Ernest Jones, 1953) posteriormente as grandes influências que absorveu de Ludwing Börne, um de seus escritores favoritos.  A obra de Börne chamada Como se tornar um escritor original em três dias (How to Become an Original Writer in Three Days) teria dado a Freud o embasamento necessário para a criação da livre associação. Börne escreve o seguinte:
E agora, aqui está a aplicação prática que prometi a você: pegue uma pilha de papel e escreva. Escreva tudo o que passa pela sua mente por três dias consecutivos sem hesitação nem hipocrisia. Escreva o que você pensa sobre si mesmo, o que você pensa sobre sua esposa, o que você pensa sobre guerra com os turcos, o que você acha de Goethe, do julgamento de Fonk, do último Julgamento, de seus superiores. No final dos três dias você dificilmente será capaz de acreditar nos pensamentos novos e inéditos que surgiram para você. E é assim, meus amigos, como se torna um escritor original em apenas três dias!” (Börne, 1823)
Sugestão de leitura: Manifesto do Surrealismo – André Breton

Aula Inaugural

 
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No módulo 1 nós aprendemos sobre a formação da mente humana desde o nascimento. Estudamos como a mente do bebê desenvolve, através do ego arcaico, mecanismos de defesa que visam manter a integridade da psique diante do novo mundo.
No módulo 2 estudamos as fases de desenvolvimento psicossexual, seus conflitos e fixações. Vimos também como o esclarecimento das crianças é importante a fim de evitar traços de psicose e para evitar que o desenvolvimento intelectual seja lento. Além disso, nos aprofundamos nos mecanismos de defesa utilizados por todos nós em uma eterna tentativa de evitar a angústia.
No módulo 3 vimos como as demandas não atendidas geram ansiedades básicas que são compensadas com necessidades neuróticas, fazendo com que todos os indivíduos sejam, por excelência, neuróticos em maior ou menor grau. Estudamos o tratamento psicanalítico (adulto) do início ao fim e aprendemos como esclarecer, confrontar e interpretar.
Neste módulo, veremos que apesar de o nosso desenvolvimento psicossexual terminar na fase genital (por volta dos 12 anos), nosso desenvolvimento psicossocial continua ocorrendo por toda vida, gerando inúmeros conflitos diante da cultura. Estudaremos como se forma a identidade do ego de cada indivíduo diante das exigências comportamentais da cultura.
Estaremos nós fadados a adiar nossa satisfação eternamente em nome da civilização? Bons estudos.

 

Formação da Identidade do Ego

Todo indivíduo se manifesta socialmente conforme sua percepção da própria identidade do ego. A identidade do ego é desenvolvida a partir de um processo multidimensional repleto de fatores sociais culturais e da própria subjetividade da psique do indivíduo. Isto é, o ego não lida apenas consigo mesmo na existência da mente, mas também com ID e superego. Assim como o indivíduo que constantemente está imerso em sua cultura, absorvendo padrões e comportamentos pré-definidos.
No livro Identidade, Juventude e Crise (1968), Erik Erikson detalha algumas características que definem o conceito de identidade do ego:
  1. A percepção do ego de continuidade temporal e espacial. Característica sine qua non para a identidade do ego;
     
    Autorretrato triplo – Norman Rockwell
  2. A configuração de elementos positivos e negativos na mente do indivíduo que unifiquem suas experiências de interação com o mundo social. Esses elementos vêm de uma infinidade de fontes e formam “uma configuração que é gradualmente estabelecida pela sucessiva síntese e re-síntese do ego. É uma configuração que está gradualmente integrando necessidades pulsionais (vida e morte), capacidades, processos de identificação, defesas efetivas (mecanismos de defesa), sublimações e papéis consistentes.“. (Erikson, 1968a, p.163)
Desta maneira, essas características definem a identidade do ego como um senso de continuidade temporal e espacial do eu sendo constantemente influenciado pela sociedade e cultura em sua ininterrupta formação. De acordo com Erik Erikson, o desenvolvimento e a manutenção do senso de identidade do ego depende da qualidade de reconhecimento e suporte que o ego recebe do meio social.
Quanto maior o senso de identidade do ego, mais unificada é a personalidade e mais integrada é a personalidade com o mundo social. Consequentemente, mais consistente será a saúde mental do indivíduo.
A formação da identidade do ego é constante e acontece do início ao fim da vida do indivíduo, sem nunca parar. Todas as interações com meio, no decorrer de toda a vida, irão influenciar a formação da identidade do ego.

 

Desenvolvimento Psicossocial

A cultura estabelece padrões comportamentais que geram conflitos em todos os seres humanos durante a vida. Assim como os conflitos que já estudamos nas fases de desenvolvimento psicossexual, o ser humano também precisa lidar com conflitos psicossociais que ocorrem em oito fases diferentes. Os conflitos psicossociais consistem na capacidade (ou incapacidade) de desenvolvimento de determinadas qualidades exigidas pela sociedade.
Quando o indivíduo consegue lidar adequadamente com o conflito, conseguirá seguir para a próxima fase com a força necessária que o ego precisa para desenvolver a própria identidade. Caso falhe e não consiga resolver esses conflitos de maneira eficiente, não conseguirá desenvolver as habilidades necessárias para reforçar seu próprio senso de eu e identidade de ego.
  1. Confiança X Desconfiança
  2. Autonomia X Vergonha e Dúvida
  3. Iniciativa X Culpa
  4. Realização X Inferioridade
  5. Identidade X Confusão de Papel
  6. Intimidade X Isolamento
  7. Produtividade X Estagnação
  8. Integridade X Desesperança
1. Confiança x Desconfiança
A primeira fase ocorre entre o nascimento e 1 ano de idade e é a fase mais fundamental da vida. Como um bebê é totalmente dependente, o desenvolvimento da confiança se baseia na confiabilidade e na qualidade dos cuidadores da criança.
Neste ponto do desenvolvimento, a criança é totalmente dependente de cuidadores adultos para tudo. Dependem de comida, amor, calor, segurança e nutrição. Se um cuidador deixar de oferecer cuidado e amor adequados, a criança sentirá que não pode confiar ou depender dos adultos em sua vida.
Quando a criança desenvolve a confiança com sucesso, ela se sente segura e protegida no mundo. Cuidadores inconsistentes, emocionalmente instáveis ou despreparados contribuem para sentimentos de desconfiança nas crianças sob seus cuidados. O fracasso em desenvolver confiança resultará em medo e na crença de que o mundo é inconsistente e imprevisivelmente ruim.
2. Autonomia x Vergonha e dúvida
A segunda fase ocorre entre os 2 e 3 anos de idade e se concentra no desenvolvimento de um senso maior de controle pessoal. Neste ponto do desenvolvimento as crianças estão ganhando um pouco de independência, estão aprendendo a realizar ações básicas por conta própria e tomando decisões simples a respeito do que preferem. Ao permitir que as crianças façam escolhas e ganhem controle, os cuidadores ​​podem ajudar as crianças a desenvolverem o senso de autonomia.
O conflito desta fase consiste desenvolver um senso de controle pessoal sobre as habilidades físicas e um senso de independência. Aprender a utilizar o banheiro, ou seja, o controle de evacuação, desempenha um papel importante no desenvolvimento do senso de autonomia das crianças. Como Freud, Erikson verificou que a maneira como as crianças aprendem a usar o banheiro é parte vital desta fase. Aprender a controlar as funções corporais leva a uma sensação de controle e independência.
O sucesso durante esta fase de desenvolvimento psicossocial leva a sentimentos de autonomia; o fracasso resulta em sentimentos de vergonha e dúvida a respeito de si mesma.
3. Iniciativa x Culpa
A terceira fase do desenvolvimento psicossocial ocorre entre os 3 e 5 anos de idade. Nesse ponto do desenvolvimento psicossocial, as crianças começam a afirmar seu poder e controle sobre o mundo por meio de brincadeiras e outras interações sociais.
O principal conflito desta fase reside em exercer controle sobre o meio. O mundo ao redor das crianças, agora contemplando breves experiências sociais, exigirá o controle ou submissão.
As crianças que têm sucesso nesta fase sentem-se capazes de enfrentar as disputas de poder existentes no mundo. Isto é, adquirem um senso de propósito. Aqueles que não conseguem adquirir essas habilidades ficam com um sentimento de culpa, dúvida e falta de iniciativa. A culpa surge justamente pela reprovação dos cuidadores. As crianças que tentam exercer muito poder experimentam desaprovação, resultando em um sentimento de culpa. O contrário também pode ser igualmente maléfico, o poder que não é limitado pelos cuidadores.
4. Indústria x Inferioridade
A quarta fase psicossocial ocorre durante os 5 e 11 anos de idade (até o início a puberdade). Por meio das interações sociais, as crianças começam a desenvolver um senso de orgulho por suas realizações e habilidades.
As crianças precisam lidar com novas demandas sociais e acadêmicas que são estabelecidas pela sociedade, regida pela cultura em vigor. O sucesso leva a um senso de competência, enquanto o fracasso resulta em sentimentos de inferioridade.
As crianças que são encorajadas e elogiadas pelos pais e professores desenvolvem um sentimento de competência e crença em suas próprias habilidades, sentindo-se prontas para os desafios da sociedade. Já as crianças que recebem pouco ou nenhum incentivo dos cuidadores, professores ou colegas duvidarão de suas habilidades para ter sucesso.
5. Identidade x Confusão de Papel
Esta fase ocorre durante a adolescência (na época em que se possibilita a moratória psicossocial), entre os idades de 12 e 18 anos. Nesta fase o adolescente precisará fundamentar a sua identidade de ego através dos seus anseios que poderão ou não ser correspondidos pela cultura. De acordo com Erikson (1950), neste estágio da vida os jovens se preocupam principalmente com o que aparentam aos olhos dos outros comparado com o que sentem que são.
Se o adolescente tem liberdade para explorar quem ele é e quem ele quer ser, conseguirá decidir por si próprio onde pode se encaixar no mundo. No entanto, caso os pais/cuidadores tentem fazer com que o adolescente se conforme com noções pré-estabelecidas do que “deve fazer” ou “deve ser”, o adolescente sentirá turbulência e desencadeará uma crise de identidade.
De acordo com Erikson, é normal que pessoas dessa idade (12-18) tenham uma sensação de conflito ou mesmo de alienação, mas com o apoio adequado dos cuidadores elas podem decidir sobre uma identidade que seja adequada para seus próprios anseios. Isso inclui tomar decisões sobre o que estudar, que tipo de ocupação a seguir, postura política etc.
6. Intimidade x Isolamento
Entre as idades de 18 e 35 anos as prioridades psicossociais de um indivíduo são: amor, relacionamentos, amizades e fortalecimento dos laços familiares .
Nesta fase as pessoas costumam procurar alguém com quem elas podem ter um relacionamento romântico e, preferencialmente, com quem possam viver. Ao mesmo tempo, é também é importante manter laços estreitos com amigos.
Se uma pessoa não cria nem mantém algum desses vínculos, corre o risco de sentimentos crônicos de solidão e vazio.
7. Produtividade x Estagnação
Entre as idades de 35 e 64 todos precisam sentir que estão trabalhando para um propósito maior. Isso pode assumir a forma de criar uma família, construir uma carreira ou servir uma visão social ou política. Caso contrário, sentimentos de arrependimento e uma sensação de estagnação podem surgir. Isso pode dar brecha para o surgimento de ressentimento e depressão.
Quanto mais repressões e recalques a cultura tiver ocasionado em um indivíduo, mais esse indivíduo tenderá a reproduzir todos os pressupostos culturais para o seu comportamento. Isso significa que um dos meios mais comuns de desenvolver um senso de propósito (ou sentir-se como se estivesse “retribuindo” aos mais jovens) costuma ser por meio da geração de filhos e da criação de família. Há, no entanto, inúmeras outras formas de alcançar o propósito, tal como a transmissão de conhecimento.
Aqueles que são bem-sucedidos nesta fase sentirão que estão contribuindo para o mundo sendo ativos em seu meio. Aqueles que não conseguem atingir essa habilidade se sentirão improdutivos e separados do mundo.
8. Integridade x Desesperança
A fase psicossocial final ocorre durante a velhice e se concentra na reflexão sobre a vida. Nesse ponto do desenvolvimento, as pessoas olham para trás, para os acontecimentos de suas vidas e determinam se estão felizes com a vida que viveram ou se se arrependem das coisas que fizeram ou não.
Os adultos mais velhos precisam ser capaz de sentir uma sensação de realização ao pensarem na própria história de vida. O sucesso nesta fase leva a sentimentos de sabedoria, enquanto o fracasso resulta em arrependimento, amargura e desespero.
Nesta fase as pessoas refletem sobre os acontecimentos de suas vidas e fazem um balanço. Quem considera que teve uma vida bem vivida, se sentirá satisfeito e pronto para enfrentar o fim da vida com uma sensação de paz.
No entanto, se o indivíduo analisa a própria vida e sente majoritariamente arrependimento, sentirá medo de que sua vida acabe sem que possa ser feliz. Geralmente teme a morte de forma aguda.
Leitura necessária para sucesso no exame final: As 8 idades do homem (capítulo do livro “Infância e Sociedade”) – Erik Erikson

 

Moratória Psicossocial

“Atuariam alguns de nossos jovens de um modo tão manifestamente confuso e gerador de confusão se eles não soubessem que estão passando, supostamente, por uma crise de identidade?” (Erikson, 1968)
A moratória psicossocial é quando há uma pausa na “vida real” do indivíduo para buscar ativamente sua identidade.
Vênus ao espelho – Diego Velázquez
Erik Erikson observou que é um período de tempo “durante o qual o indivíduo, por meio da experimentação de papéis livres, pode encontrar um nicho em alguma seção de sua sociedade, um nicho que está firmemente definido e, ainda assim, parece ser feito exclusivamente para ele” (Erikson, 1956).
Durante a moratória psicossocial, a pessoa tem a oportunidade de experimentar múltiplas identidades e / ou papéis antes de se comprometer firmemente com um. É também a fase onde se consolida o senso de ética e moral.
A moratória psicossocial geralmente ocorre no final da adolescência. Dependendo da intensidade desta experiência, o adolescente pode ter uma “crise de identidade”, termo criado por Erikson.
Se uma pessoa não assumir compromisso com uma identidade ou função após o período de moratória (ou se não tiver a chance de fazer uma moratória), ela correrá um alto risco de desenvolver confusão sobre sua identidade e seu papel na sociedade. (Erikson, 1956)

 

Diagrama Epigenético

O digrama epigenético criado por Erikson tem a finalidade de mostrar graficamente as fases humanas de desenvolvimento psicossocial. Os dois pressupostos básicos do digrama epigenético são:
  1. A personalidade humana se desenvolve em princípio de acordo com etapas predeterminadas na disposição do indivíduo em crescimento para se deixar erigir no sentido de um raio social cada vez mais amplo, para se tornar ciente dele e para interatuar com ele;
  2. A sociedade, em princípio, tende a se constituir de tal modo que satisfaça e provoque esta sucessão de potencialidades para a integração e de tentativas para salvaguardar e ativar a proporção adequada e a sequência apropriada de sua abrangência. Nisso consiste a manutenção do mundo humano.
 
Nota: caso precise, o diagrama abaixo pode ser melhor visualizado no arquivo disponibilizado na aula “Desenvolvimento Psicossocial” (As 8 idades do homem, página 27 do PDF ou 252 do livro Infância e Sociedade)

 

O Desejo

Freud diz em “A interpretação dos sonhos” que sonhos são realizações de desejos:
“Não são, portanto, destituídos de sentido, não são absurdos. Pelo contrário, são fenômenos psíquicos de inteira validade, realizações de desejos.” (Freud, 1900)
Portanto, precisamos entender o que são desejos para que sejamos capazes de identificá-los nos sonhos.
Um desejo envolve proibição
O que são desejos? Se uma criança deseja tomar um sorvete, é porque ela pediu um sorvete e foi provavelmente informada que não poderia obtê-lo.
Por exemplo, um desejo pode se criar da seguinte maneira:
– Quero um soverte (diz a criança);
2 – Não! (diz o pai da criança);
3 – Eu queria um sorvete… (deseja a criança).
Morfeu e Íris – Pierre-Narcisse Guérin, 1811
Os sonhos das crianças costumam exibir o caráter realizador de desejos dos sonhos de uma forma mais clara.
Em uma carta enviada a Wilhelm Fliess em 1897, Freud relata um sonho que Anna Freud teve com morangos quando tinha 19 meses de idade:
“Posso citar, a esta altura, um dos sonhos mais infantis de toda a minha coleção. Minha filha mais nova, então com dezenove meses de idade, tivera um ataque de vômitos certa manhã e, como consequência ficara sem alimento dia inteiro. Na madrugada seguinte a esse dia de fome nós a ouvimos exclamar excitadamente enquanto dormia: “Anna Freud, molangos, molangos silvestres, omelete pudim!”
O desejo de Anna é explicado por Freud da seguinte maneira:
“Naquela época, Anna tinha o hábito de usar seu próprio nome para expressar a ideia de se apossar de algo. O menu incluía perfeitamente tudo o que lhe devia parecer constituir uma refeição desejável. O fato de os morangos aparecerem nele em duas variedades era uma manifestação contra os regulamentos domésticos de saúde. Baseava-se no fato, que ela sem dúvida havia observado, de sua ama ter atribuído sua indisposição a uma indigestão de morangos. Assim, ela retaliou no sonho contra esse veredicto indesejável.”

 

Interpretação dos Sonhos

Devemos entender claramente a esta altura que não faz parte da abordagem psicanalítica explorar o contexto espiritual, místico e preditivo que possa ou não existir nos sonhos. A interpretação dos sonhos na psicanálise é uma ferramenta que auxilia na descoberta de conteúdos psíquicos (ideias latentes ligadas a emoções e pulsões reprimidas) dentro da mente inconsciente que, quando revelados, podem aliviar demais sintomas.
Não existe um “dicionário dos sonhos” na psicanálise
Normalmente a abordagem popular para os sonhos é interpretá-los com a ajuda de um dicionário fixo de símbolos, por exemplo: “Se você sonha com X, significa Y.” ou algo como “uma casa representa sua mente, voar representa ambição” e assim por diante.
Todos os elementos do sonho são “simbólicos”, mas têm significados únicos que só podem ser descobertos por meio das associações da pessoa que sonhou.
Mulher dormindo e um gato – Władysław Ślewiński
Sonhos têm significados
A ciência da época de Freud considerava os sonhos sem sentido. Aliás, a teoria de que os sonhos são apenas subprodutos aleatórios do funcionamento do cérebro durante o sono REM ainda é mantida por alguns cientistas até hoje.
É também a teoria que às vezes invocamos para nos tranquilizar quando um sonho nos oprime com seu significado: ‘Foi apenas um sonho!’
Para Freud, todo sonho tem significado, não importa o quão absurdo pareça ou quão pouco nos lembremos dele.
A origem dos desejos
“Todo o material que compõe o conteúdo de um sonho é derivado, de algum modo, da experiência, ou seja, foi reproduzido ou lembrado no sonho – ao menos isso podemos considerar como fato indiscutível. ” (Freud, 1900, página 19)
Enquanto alguns dos desejos latentes dos sonhos são extraídos de experiências recentes, outros datam da infância.
Portanto, os sonhos têm duas fontes para sua construção:
  • Acontecimentos no presente – Resíduos dos dias anteriores. Isto é, pequenas contrariedades ou desejos não realizados que não pudemos dar conta recentemente;
  • Acontecimentos de um passado distante – desejos da infância que foram reprimidos.
Os desejos de infância constituem a base para os desejos mais recentes
Exemplo:
Um homem sonha que está dirigindo um ônibus. A associação livre traz à tona o seguinte conteúdo latente:
  • “Perdi o ônibus ontem e estava atrasado para uma entrevista de emprego”
  • “Minha mãe costumava reclamar que meu pai provavelmente se atrasaria ‘para o próprio enterro’”
Assim, pelo menos dois desejos latentes foram empilhados um em cima do outro: um desejo recente (de ter chegado a tempo para a entrevista) e um desejo de infância (de não chegar “atrasado para o meu próprio enterro” como meu pai).
Seria típico da lógica do sonho descobrir um desejo ainda anterior, em contradição com o segundo: o desejo de estar “no assento do motorista” (estar no lugar do pai).
O método de Freud para interpretar sonhos
O método de interpretação de sonhos é muito fácil em sua execução técnica. Em vez de dizer aos clientes o que você acha que seus sonhos significam, você os convidará a dizer o que quer que venha à mente em relação a cada elemento do sonho. Assim, cada sonho é único e o significado de um determinado elemento para uma pessoa será diferente para outra que sonhe a mesma coisa.
Freud encorajava seus clientes a relaxar suas faculdades críticas e a evitar reter pensamentos que pareciam desagradáveis, triviais ou ridículos. Ou seja, pedia que os clientes executassem a livre associação para cada elemento no sonho.
Por exemplo:
Eva, uma estudante, compartilha um sonho com seu psicanalista no qual ela está no banco de trás de um carro em movimento sem motorista. O semáforo à frente fica vermelho e ela não consegue parar o carro.
O psicanalista ajuda Eva a quebrar o conteúdo manifesto nos seguintes símbolos:
  • Carro em movimento;
  • Banco traseiro;
  • Luz vermelha;
  • Perda de freios.
Por meio do processo de associação livre, Eva compartilha tudo o que vem à mente ao pensar sobre cada símbolo. O psicanalista interpreta essas associações e oferece significados potenciais.
Eva e seu psicanalista concordam que o sonho representa o conflito inconsciente que ela sentiu ao escolher uma carreira. Ela revela que seus pais diziam a ela quando criança que ela iria estudar medicina, no entanto Eva se lembra que queria ser escritora e a ideia de ser médica a aterrorizava.
O psicanalista sugere que o carro está a caminho de um futuro que ela não deseja.  Até que ela se sente no banco do motorista, ela não será capaz de pará-lo.
Essa interpretação se encaixa para Eva que decide então contar aos pais sobre sua própria decisão.
Leitura obrigatória: A Interpretação dos sonhos (Obra completa – Volume I e II) – Sigmund Freud

 

Clínica psicanalítica infantil – setting

Sigmund Freud chocou muitos, tanto dentro quanto fora da sua área, ao falar com pacientes sobre as fantasias sexuais inconscientes, impulsos agressivos e conflitos internos existentes dentro de cada um. Com base nos fundamentos de Freud, Melanie Klein passou a moldar o curso da história psicanalítica, mostrando que tais intervenções poderiam ser tão poderosas e eficazes no trabalho clínico com as crianças quanto é com os adultos. Uma de suas principais contribuições, como vimos no decorrer do ocurso, foi iluminar as fases iniciais da vida psíquica, explorando o mundo emocional de bebês e crianças pequenas.
O início do tratamento psicanalítico infantil
No módulo 2, vimos que em 1909 Freud relatou o desenvolvimento emocional do Pequeno Hans, uma criança que tinha fobia de cavalos. Sob a orientação de Freud, o pai de Hans gradualmente entendeu essa fobia como uma comunicação das ansiedades inconscientes do menino, reveladas por meio de suas palavras e suas brincadeiras. Depois de descrever cuidadosamente para o filho a raiz dessas ansiedades, Hans sente um grande alívio e sua fobia é resolvida.
Freud, como muitos outros na época, era cético em relação a levar crianças muito pequenas para análise, sentindo que não se poderia esperar que elas se abrissem com outra pessoa que não seus próprios pais. Melanie Klein, no entanto, levou adiante sua crença de que pacientes infantis se beneficiariam tanto quanto os adultos se tivessem seus conflitos e ansiedades inconscientes compreendidos e interpretados.
Na verdade, Klein acreditava que as crianças seriam mais capazes de entrar em contato com estados mentais infantis do que os adultos, uma vez que estavam mais perto das experiências cruas da infância. Dez anos depois da publicação do Pequeno Hans, Klein estava aceitando crianças pequenas como pacientes analíticos.
Neurose de transferência nas crianças
Para que o tratamento psicanalítico tenha sucesso, como já estudamos, é essencial que a neurose de transferência tenha se estabelecido positivamente. Klein (1932) constata que “as crianças podem, perfeitamente, produzir uma neurose de transferência e que, exatamente como no caso dos adultos, surgirá uma situação transferencial desde ·que empreguemos um método equivalente à análise de adultos, i. e., que evitemos qualquer medida pedagógica e que analisemos a fundo os impulsos negativos dirigidos contra o analista.” (Psicanálise da Criança, página 20).
Método – Como deve ser a análise infantil
Na análise infantil a criança não usa a livre associação como na clínica psicanalítica de adultos. De acordo com Melanie Klein no livro Psicanálise da Criança de 1932, “o caráter primitivo do psiquismo infantil requer uma técnica analítica especialmente adaptada à criança, e vamos encontrá-la na análise lúdica. Por meio desse método obtemos acesso às fixações e experiências mais profundamente recalcadas da criança, o que nos possibilita exercer uma influência radical em seu desenvolvimento. A diferença, porém, entre os nossos métodos analíticos e a análise dos adultos é puramente de técnica e não de princípios. A análise da situação transferencial e das resistências, a remoção das amnésias infantis e dos efeitos da repressão, assim como a revelação da cena primária,· fazem parte da análise lúdica. Portanto, ela não somente está em conformidade com as normas dó método de psicanálise para adultos, como também leva aos mesmos resultados.”.
A criança expressa suas fantasias, desejos e experiências de uma forma simbólica, através de jogos, brinquedos, desenhos etc. Ao fazê-lo, utiliza os  mesmos modos arcaicos e filogenéticos de expressão dos sonhos, ou seja, a mesma linguagem com que já nos familiarizamos nas aulas anteriores.
Desta maneira, o espaço de análise infantil deve conter brinquedos que possibilitem a plena expressão da criança. Melanie Klein (1932) descreve seu setting da seguinte maneira:
Sobre uma mesinha baixa em minha sala de análise há vários brinquedos de tipo primitivo: pequenos homens e mulheres de madeira, carroças, carruagens, automóveis, trenzinhos, animais, cubos .e casas, além de papel, tesouras e lápis. Mesmo uma criança normalmente inibida no jogo e na brincadeira lançará pelo menos um olhar aos brinquedos ou tocará neles, permitindo um primeiro vislumbre de sua vida complexiva, pela maneira como começa a brincar com eles ou os deixa de lado, ou por sua atitude geral em relação aos mesmos.
Tratamento
Klein relata que o tratamento infantil segue o mesmo protocolo do atendimento adulto. Isto é, será necessário fazer esclarecimentos, confrontos e, especialmente, interpretações. A diferença, novamente, é que não se usa a livre associação, mas sim artefatos que possibilitem a expressão lúdica da criança.
Como vimos no caso Fritz, Klein demonstra que o esclarecimento sobre a realidade é fundamental para que o desenvolvimento intelectual das crianças progrida. Isso significa tornar consciente os limites do princípio de realidade e propiciar que a criança entenda as próprias emoções.
Como exemplo, Klein relata que é importante permitir que surjam as críticas que a criança tenha, justificadas ou não, sobre os próprios pais. As razões para isso podem ser facilmente compreendidas. O levantamento da repressão dos sentimentos hostis é necessário para a análise; além disso, um relacionamento baseado na idealização é inseguro; quando os pais são de fato percebidos, e a criança se permite vê-los, sob uma luz mais realista, a idealização diminui e pode surgir a tolerância e o alívio de sintomas.
Não se pode analisar plenamente as fantasias infantis sem permitir que venham à tona também os ressentimentos reais contra os pais. A relação com os pais melhora consideravelmente quando tanto as críticas em relação a eles como as fantasias associadas a esses ressentimentos são analisadas.
As primeiras angústias e os sentimentos de culpa da criança têm sua origem nos impulsos agressivos relacionados ao conflito edípico.
Klein reporta que em um caso em que a repressão, favorecida pelo meio, foi tão longe a ponto de não existir um nome para os órgãos genitais ou para as funções fisiológicas, o(a) psicanalista tem que introduzir palavras para designá-los. Sem dúvida a criança sabe que possui um genital, como sabe que produz urina e fezes, e as palavras introduzidas farão a associação com esse conhecimento. Da mesma forma, a expressão para o ato sexual deve ser introduzida começando pela descrição do que a criança na verdade inconscientemente supõe que seus pais façam. No caso de Richard, por exemplo, Klein foi gradualmente usando a expressão “relações sexuais” e mais tarde, também, “ato sexual”.
Para aprendermos o tratamento infantil do início ao fim, tomaremos como base o tratamento de Richard, apresentado no livro “Narrativa da Análise de uma criança”. É descrito por Klein da seguinte maneira:
“Richard tinha dez anos quando iniciei sua análise. Seus sintomas haviam-se desenvolvido a tal ponto que o impossibilitaram de frequentar a escola depois dos oito anos de idade, quando a deflagração da guerra em 1939 aumentou suas ansiedades. Tinha muito medo de outras crianças e isso contribuiu para que cada vez mais evitasse sair sozinho. Além disso, desde seus quatro ou cinco anos, uma inibição progressiva de suas faculdades e interesses vinha causando grande preocupação a seus pais. Além desses sintomas, era bastante hipocondríaco e freqüentemente sujeito a estados de espírito depressivos. Tais dificuldades transpareciam em seu semblante: parecia muito preocupado e infeliz. Às vezes, entretanto — e isso se tornou marcante durante as sessões de análise —, sua depressão dissipava-se, e subitamente seus olhos enchiam-se devida e de brilho, transformando completamente sua fisionomia.”
Leitura necessária para sucesso no exame final do curso: Narrativa da Análise de uma Criança – Melanie Klein

 

Desenhos

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As crianças sempre expressarão suas angústias, ansiedades, agressividade, conflitos, desejos e experiências através das brincadeiras, desenhos e outras atividades que permitam a livre manifestação do conteúdo inconsciente e consciente.
No caso de Richard, Klein explica a ele como seus desenhos revelam os dramas intensos acontecendo em diferentes camadas de sua mente. Por meio da descrição cuidadosa das lutas internas do garoto, Klein se mantém em contato direto tanto com as preocupações conscientes quanto com as fantasias inconscientes; tanto a agressão quanto o desejo de Richard de proteger seus entes queridos. Segundo Klein, a tarefa de todos nós, desde a infância, é navegar por esses sentimentos conflitantes de amor e ódio.
Desenho de Richard feito na décima segunda sessão de análise com Melanie Klein
Com o material psíquico obtido der Richard durante as sessões de análise, Klein interpreta o desenho acima da seguinte maneira:
“Mrs. K. interpretou também que a estrela-do-mar faminta, o bebê, era ele mesmo; a planta, o seio da Mamãe do qual desejava alimentar-se, Quando se sentiu como um bebê voraz, que queria a mãe todinha para ele e não podia tê-la, ficou com raiva e ciúmes e sentiu que atacou ambos os pais. Isso estava representado pelo submarino U, que iria “provavelmente” atacar o navio. Também sentia muitos ciúmes de John porque, sendo um paciente de Mrs K., recebia tempo e atenção dela. A análise aqui representava ser alimentado. Havia dito que tudo o que se passava debaixo d’água não tinha nada a ver com a parte superior. Isso significava que a voracidade, os ciúmes, e a agressividade não eram conhecidos por uma parte de sua mente, mantinham-se inconscientes [O inconsciente excindido do consciente e subsequentemente reprimido]”

 

Brinquedos

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Richard sofre de uma enorme ansiedade, teme constantemente que aconteçam desastres que afetem as pessoas que ele ama – incluindo a própria Klein. Como muitas crianças que procuram psicoterapia, em suas brincadeiras, Richard frequentemente representa cenas que terminam em catástrofe. Aqui está um extrato do meio de sua análise:
“Richard reuniu os bonequinhos em diversos grupos: havia dois homens juntos, depois uma vaca e um cavalo no primeiro vagão, e um carneiro no segundo. A seguir dispôs as casinhas de modo a formarem um “vilarejo e uma estação”. Movimentou o trem em volta e dentro da estação. Como tinha deixado muito pouco espaço, o trem derrubou as casas, que ele reergueu. Empurrou o outro trem (o que ele chamava de “elétrico”) e seguiu-se uma colisão. Ele ficou muito perturbado e fez com que o trem “elétrico” atropelasse tudo. Os brinquedos ficaram amontoados, e referiu-se a eles como uma “bagunça” e um “desastre”. No final, somente o trem “elétrico” estava de pé.”
Depois disso, Klein fala com Richard sobre o que ele sente como uma catástrofe interna, causada por sua própria raiva e destrutividade. Ela viu sua angústia como uma indicação de um profundo desespero de que seus sentimentos violentos e odiosos em relação a um objeto amado dentro de sua própria mente levaram a um dano terrível, e que ele não teria amor ou recursos internos suficientes para corrigir as coisas.
Todas as crianças têm a tendência de temer, no fundo, que, quando coisas ruins acontecem, a culpa seja delas. Klein entendeu isso como um estado mental confuso, no qual a culpa por seus próprios pensamentos e sentimentos agressivos se soma a danos reais a eles próprios ou a membros de sua família. Para alguns, como Richard, isso leva a uma ansiedade tão intensa que se tornam inibidos em áreas importantes de sua vida.

 

Caso Ruth

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O caso Ruth é importante porque mostra como a resistência inicial da criança pode ser superada com a aplicação correta da técnica de interpretação.
Melanie Klein descreve Ruth como uma criança de quatros anos e meio cuja ambivalência se evidenciava, por um lado, numa extremada fixação à mãe e a algumas outras mulheres e, por outro, numa antipatia violenta por outro grupo de mulheres, geralmente estranhas. Não conseguira habituar-se, quando ainda pequenina, a uma nova babá, e era-lhe muito difícil fazer amizade com outras crianças. Além de uma indiscutível ansiedade, que frequentemente eclodia em crises angustiosas, e de vários outros sintomas neuróticos, era muito tímida.
Abaixo reproduzimos na íntegra o caso de Ruth, trecho extraído do livro Psicanálise da Criança com tradução do Instituto Somata:
*Início do Artigo*
Em sua primeira sessão analítica recusou-se terminantemente a ficar a sós comigo. Resolvi, então, permitir a presença de sua irmã mais velha (ver nota 1 abaixo). Eu tinha a intenção de obter uma transferência positiva na esperança de poder, eventualmente, trabalhar a sós com ela; mas todas as minhas tentativas, como brincar com ela, encoraja-la a falar, revelaram-se vãs.
Nota 1 de Melanie Klein: Na realidade sua meia-irmã. Contando cerca de vinte anos mais do que Ruth, era uma moça muito inteligente que também fora analisada. Tive mais um caso no qual fui obrigada a permitir a presença de uma terceira pessoa. Em ambos os casos isso foi realizado em circunstâncias excepcionalmente favoráveis, mas devo dizer que, por várias razões, jamais recomendaria tal procedimento, a não ser como último recurso.
Ao lidar com seus brinquedos ela se dirigia principalmente à irmã ·(embora esta última procurasse eclipsar-se o mais possível), ignorando-me por completo. A própria, irmã chegou a dizer-me que meus esforços eram baldados e que eu não tinha a menor possibilidade de conquistar a confiança da menina, ainda que passasse com ela semanas inteiras ao invés de horas isoladas. Vi-me, portanto, obrigada a tomar outras medidas; que vieram uma vez mais comprovar a eficácia da interpretação para reduzir a angústia do paciente e sua transferência negativa.
Um dia em que Ruth estava, como sempre, empenhada em prestar atenção exclusivamente à irmã, desenhou um copo de vidro coberto por uma espécie de tampa, dentro do qual havia pequenas bolinhas. Perguntei-lhe para que servia a tampa, mas ela não me respondeu. Quando a irmã lhe repetiu a pergunta, disse que era “para evitar que as bolinhas rolassem para fora”. Ela antes disso remexera na bolsa da irmã, e depois a fechara muito-bem, “para que nada caísse fora”. Fizera o mesmo com a carteira dentro da bolsa, a fim de manter as moedas seguramente fechadas.
Ademais, o material que ·ela agora me fornecia já se tornara bastante claro nas- horas precedentes. Decidi arriscar-me. Disse a Ruth que as bolinhas do copo, as moedas da carteira e o conteúdo da bolsa significavam bebês no interior de sua mamãe e que ela queria conservar tudo muito bem fechado a fim de não ter mais irmãos e irmãs. O efeito de minha interpretação foi assombroso. Pela primeira vez Ruth voltou sua atenção para mim e começou a brincar de uma maneira diferente e menos constrangida.
Não obstante, ainda não foi possível fazê-la permanecer a sós comigo, visto reagir a essa situação com crises de angústia. Como percebi que a análise estava diminuindo firmemente sua transferência negativa em favor de uma positiva, decidi continuar admitindo a presença da irmã. Três semanas depois  a irmã adoeceu repentinamente, e vi-me ante a alternativa de interromper à análise ou arriscar uma crise de angústia. Como consentimento de seus pais, optei pela segunda alternativa.
A criada entregou-me a garotinha na sala de espera e retirou-se, apesar de suas lágrimas e gritos. Nessa situação extremamente penosa tentei novamente acalmar a menina de maneira não-analítica e maternal, como qualquer pessoa o faria. Procurei çonsolá-la, alegrá-la e fazê-la brincar comigo, mas em vão. A única coisa que consegui foi -fazer com que me seguisse à sala de análise. Mas ficou lívida e desatou a berrar, presa de intensa crise de angústia.
Enquanto isso, sentei-me à mesinha de brinquedos e ·comecei a brincar sozinha (ver nota 2 abaixo), mas descrevendo tudo o que fazia à garotinha apavorada, que sentara a um canto da sala. Seguindo uma inspiração súbita, tomei como tema de meu jogo o material que ela própria produzira na sessão precedente. No final desta, ela brincara com a pia do lavatório alimentando as bonecas com enormes jarras de leite. Fiz o mesmo.
Nota 2 de Melanie Klein: Em casos especialmente difíceis emprego esse expediente técnico pata conseguir iniciar a análise. Constatei que quando as crianças manifestam sua angústia latente mostrando-se inteiramente inacessíveis geralmente é útil que eu lance uma palavra de estímulo, começando eu mesma a brincar. Aplico esse método dentro dos mais estreitos limites. Posso, por exemplo, construir algumas cadeiras com cubos e colocar algumas figuras perto delas. Algumas crianças verão nisso uma escolinha e prosseguirão o jogo nessa base; outras dirão que é um teatrinho e farão as figuras agirem de acordo, e assim por diante.
Coloquei uma boneca para dormir, disse a Ruth que ia lhe dar alguma coisa para comer e perguntei o que é que ela achava que deveria dar. Ela interrompeu os gritos para responder “leite”, e notei que fez um movimento em direção à boca com os dois dedos que tinha o hábito de chupar antes de dormir; mas retirou-os rapidamente. Perguntei se não gostaria de chupá-los e ela disse: “Sim, gostaria muito”.
Compreendi que ela queria reconstituir a situação que se repetia em sua casa todas as noites; portanto, deitei-a no divã e; a seu pedido, cobri-a com uma colcha. Incontinente, ela começou a chupar os dedos. Continuava muito pálida e havia fechado os olhos, mas estava visivelmente mais calma e parara de chorar. Enquanto isso continuei brincando com as bonecas, repetindo o jogo da sessão anterior.
Quando coloquei uma esponja molhada ao lado de uma delas, como Ruth havia feito, recomeçou a gritar, dizendo: “Não, ela não pode ficar com a esponja grande, essa não é para crianças, só para gente grande!” (Devo salientar que nas duas sessões precedentes ela havia produzido abundante material concernente à inveja que sentia de sua mãe.). Passei a interpretar esse material em conexão com seu protesto contra a esponja grande (que representava o pênis de seu pai).
Mostrei-lhe detalhadamente como ela invejava e odiava sua mãe porque esta havia incorporado o pênis de seu pai durante o coito, e como ela queria roubar o pênis e os bebês de dentro de sua genitora e matá-la. Expliquei-lhe que a razão de seu medo era porque acreditava na possiblidade de morte de sua mãe ou temia ser abandonada por ela.
Naturalmente tomei o cuidado de começar essas interpretações dirigindo-me à boneca – fazendo de conta que era esta quem estava chorando de medo e que eu lhe explicava os motivos – para depois dirigir-me diretamente a Ruth. Desta maneira, consegui estabelecer completamente a situação analítica. Ruth, no meio tempo, começou a se acalmar. Abriu os olhos e permitiu que eu aproximasse do divã a mesinha com os brinquedos. Continuei a brincar e a interpretar, agora ao seu lado.
Dentro em pouco ela sentou-se e começou a observar minha brincadeira com crescente interesse, chegando, inclusive, a participar dela. Quando, terminada a sessão, a criada veio buscá-la, ficou pasma ao encontrá-la alegre e bem disposta e ainda mais ao vê-la despedir-se de mim de maneira amistosa e até mesmo afetuosa.
É verdade que no princípio da sessão seguinte, quando a criada tornou à deixá-la, Ruth demonstrou alguma angústia; mas desta feita não teve nenhuma de suas crises habituais e não irrompeu em choro. Refugiou-se imediatamente no divã e deitou-se como no dia anterior, chupando os dedos de olhos fechados. Pude sentar-me ao seu lado e continuar naturalmente a brincadeira da sessão precedente. Toda a sequência de acontecimentos do dia anterior foi “recapitulada, mas de forma abreviada e atenuada. Ao fim de poucas sessões desse tipo, as coisas haviam progredido a tal ponto, que a pequenina só denotava alguns traços de angústia no princípio da sessão  analítica.
Resolução do caso
A análise de Ruth mostrou que suas crises de angústia eram uma repetição dos intensos pavores noturnos (ver nota 3 abaixo) que a haviam acometido aos dois anos de idade. Sua genitora achava-se grávida naquela época e o desejo da menina de roubar o novo bebê do corpo de sua mãe, feri-lo e matá-lo haviam suscitado nela um intenso sentimento de culpa, em consequência do qual se tornou fortemente fixada à mãe. Dizer boa noite antes de dormir significava dizer adeus para sempre. Em consequência de seus desejos de roubar e matar sua genitora, tinha medo de ser abandonada por ela para sempre.
Nota 3 de Melanie Klein: Em seu artigo  “The Genesis of Agoraphobia” (1928) , Helene Deutsch assinala que o medo da morte da mãe, baseado em vários desejos hostis contra a mesma, é uma das formas mais comuns da neurose infantil e está intimamente relacionada com o medo de ser separado dela e sentir saudades.
*Fim do Artigo*

 

 

Revisão

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Referências:
– https://miesperanza.jusbrasil.com.br/artigos/267362613/o-amparo-legal-a-psicanalise-e-aos-psicanalistas-no-brasil
– CASTELO-BRANCO, Fernando; Afídio, in “Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira da Cultura, Edição Século XXI”, Volume I, Editorial Verbo, Braga, Janeiro de 1998
– DARWIN, Charles, A origem das espécies – Tradução de Carlos Duarte e Anna Duarte, 1ª edição.
– RAMEL, Gordon, Gordon’s Aphid Page – acesso a 14 de março de 2009
– McGAVIN, George C., “Bugs of the World”, Facts on File, Nova Iorque, 1993, ISBN 0816027374

 

O que é Plágio

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Instituto Somata · O que é Plágio
Plágio é quando apresentamos a ideia de outra pessoa como se fosse nossa própria ideia, sem qualquer citação.
Por exemplo:
Suponhamos que você esteja fazendo o exame final e se confronte com o seguinte enunciado: “Explique a teoria de Melanie Klein”.
Apesar de você conhecer a teoria de Melanie Klein, nesta situação hipotética você decide fazer uma pesquisa na Internet para fortalecer o seu conhecimento. Durante a pesquisa, você encontra um site que acaba por considerar uma ótima fonte e, então, decide copiar o texto do site e colar no exame final como uma resposta sua. 
Nessa situação estaríamos diante de dois problemas: 
  1.  A resposta não foi escrita com as próprias palavras, conforme solicitado por nossa instituição;
  2.  O conteúdo da resposta foi copiado de um site e não foi feita nenhuma citação de sua fonte ou autoria, caracterizando um plágio. 
Ainda analisando o mesmo caso: suponhamos que você não copie nenhum conteúdo da internet, mas decida ler os livros de Melanie Klein para ter mais base para sua resposta. Durante a leitura, você encontra um trecho no livro que responderia perfeitamente ao que é pedido pelo enunciado. Você decide então copiar o trecho do livro para apresentá-lo como uma resposta.
Os mesmos problemas encontrados no primeiro caso seriam revelados no segundo caso. Copiar o trecho de qualquer lugar (livro, revista, internet etc.) sem citação do autor é considerado plágio.
Abaixo apresentamos algumas perguntas e respostas para melhor entender o plágio.
Copiei apenas quatro palavras e não citei o autor. É plágio?
Sim. Mesmo que você não tivesse copiado nenhuma palavra, mas tivesse apresentado a ideia do autor como se fosse sua (com outras palavras) e não citasse a fonte, seria considerado plágio.
Copiar uma, duas, três palavras ou mais sem citar a fonte (autor ou lugar de onde foi tirado), é plágio. 
Como evitar o plágio?
Para evitar o plágio você deve citar o nome do autor sempre que copiar um texto que foi escrito por outra pessoa. Caso não cite o autor, deve citar a fonte de onde o texto foi retirado. 
Como responder corretamente as perguntas do exame final?
Nossa instituição não permite o plágio. Esta prática é punida com a expulsão. Desta forma, no exame final não é permitido usar textos de outras fontes sem seus devidos créditos.
Também é importante notar que as perguntas do exame final devem ser respondidas com pelo menos 85% de elaboração própria. Ou seja, no mínimo 85% da resposta deve ser escrita com suas próprias palavras (e não citações). As citações não devem representar mais do que 15% da resposta. 
Isto é, caso sua resposta tenha 50 palavras (que é o mínimo exigido por nossa instituição), ao menos 42 palavras deverão ser estruturadas autoralmente.
Exemplo de como evitar o plágio:
No livro Inveja e Gratidão, Melanie Klein diz o seguinte:
“A inveja é um fator muito poderoso no solapamento das raízes dos sentimentos de amor e de gratidão, pois ela afeta a relação mais antiga de todas, a relação com a mãe.”.  (1957)
Caso você queira utilizar a frase acima em sua resposta, você deverá se certificar dos seguintes itens:
  • No mínimo 85% da resposta deve ser composta com suas próprias palavras;
  • A citação não deve ocupar mais do que 15% da resposta;
  • A citação deverá apresentar o nome do autor e, deverá distinguir as palavras do mesmo através da utilização de aspas. 
Exemplo de resposta autoral com a utilização do trecho de Melanie Klein:
Os sentimentos de amor e de gratidão, de acordo com Klein (Inveja e Gratidão, 1957), podem ser solapados pela inveja, “pois ela afeta a relação com a mãe”, que é explicada pela autora como “a mais antiga de todas”. Assim, é necessário que a criança tenha uma relação de qualidade com o objeto, a fim de evitar que a inveja excessiva interfira não apenas na gratificação oral, mas na própria relação com a vida
 Na resposta acima, apenas as frases entre aspas foram efetivamente copiadas do texto original, enquanto o resto do texto foi criado com base na teoria da autora. 
Desta mesma maneira devem ser suas respostas no exame final.
Como fazer citações no exame final?
Caso você copie um trecho do(a) autor(a) e cole na sua resposta, você deve utilizar aspas antes e depois do trecho. O nome do autor deve aparecer entre parênteses antes ou depois do trecho utilizado.
Caso você parafraseie o(a) autor(a), isto é, mencione a ideia, você deve mencionar o nome do(a) autor(a) e dizer que a ideia pertence a ele(a). O ano da referência (ou seja, de onde você tirou a ideia) deve ser apresentado entre parênteses. Exemplo:
De acordo com Sigmund Freud (1930), o sofrimento só existe porque há uma civilização.
Caso você copie trechos de algum site na internet, deverá utilizar aspas antes e depois do trecho. Deverá, em seguida, colocar a URL do site de onde os trechos foram copiados. A URL deve estar entre parênteses. Exemplo:
No livro mal-estar na civilização Freud fala sobre o que “vê como o importante choque entre o desejo de individualidade e as expectativas da sociedade” (https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mal-estar_na_Civiliza%C3%A7%C3%A3o). Isto é, um choque que dificilmente poderá ser resolvido enquanto existir cultura.
Leitura adicionais para entender o que é plágio:
https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/dicas/o-que-significa-plagio
https://querobolsa.com.br/revista/plagio-academico-o-que-e-e-por-que-e-considerado-crime