Capítulo 1

 A Tropeço da Primeira Página

Lino Britto era o glorioso — e único — editor da revista mais lida no litoral norte de São Paulo, publicação especializada em piadas , trocadilhos infames e horóscopos escritos por um papagaio de circo, aposentado. 

 

Aos 47 anos, Britto ostentava uma barriga de chope, uma calvice desalinhada e uma fé inabalável na força transformadora da risada… mesmo que ninguém mais risse.

 

Naquela segunda-feira cinzenta, ele tropeçou ao entrar na redação. Literalmente. Pisou numa pilha de tirinhas mal desenhadas, voou como um pombo assustado e aterrissou com a testa no teclado do estagiário, que estava mergulhado até o pescoço no jogo do tigrinho.
— "É o destino!", exclamou, erguendo-se com a dignidade de um apresentador de programa infantil demitido ao vivo.
Mas o tropeço não era nada comparado ao que viria a seguir.
Lino havia agendado, por engano, a publicação da “Edição Especial do Dia da Mentira” para 1º de março — não de abril. A edição já estava nas plataformas digitais, repleta de notícias falsas, como "Pato Donald se candidata à presidência" e "Cientistas descobrem que rir cura calvície". 

Leitores revoltados lotaram a caixa de e-mails da revista com insultos criativos, como “Seu palhaço de meia-tigela” e “Meu cachorro escreve piadas melhores”.
— "É marketing ousado!", tentou justificar Lino Britto numa reunião de emergência com a diretoria (que consistia apenas nele mesmo e um Antúrio, (planta carnívora) em estado terminal.

Seu fiel diagramador, Dudu, um ex-mímico que odiava palavras, apenas o encarava com olhos de pânico. Já Cremilda, a faz tudo que acredita fielmente em horóscopo, entrou bufando na sala e deu um esporro no editor, ao descobrir que Capricórnio teria um “romance tórrido com um alienígena do signo de Júpiter”.

 

A tragédia era certa. Mas Britto, com a persistência de um palhaço em chamas, decidiu que aquilo era apenas o começo. Anunciou, com a testa ainda vermelha do teclado:
— "Vamos transformar o erro numa revolução! 
A partir de agora, toda edição será... imprevisível!»
Silêncio total!. O Antúrio caiu do vaso....

 

 

Capítulo 2

 O Plágio e a Copeira Revoltada

O sol mal tinha nascido quando Lino Britto, ainda se recuperando da desastrosa edição do Dia da Mentira, recebeu uma notícia que o fez quase engolir o café com leite — mas não antes de cuspir uma parte na parede da redação. Um jornalzinho local da cidade vizinha, Risos da Hora, estava copiando descaradamente o conteúdo da Gargalhada Semanal. Piadas, tirinhas e até os trocadilhos infames estavam lá, mas com uma diferença crucial: eles eram... melhores.
— "Impossível!", exclamou Britto, sacudindo o celular com a página pirata na cara de Dudu. "Não há piada ruim que eu não possa fazer pior!
Dudu, como de costume, apenas gesticulou com os ombros e voltou a desenhar uma capa onde um hipopótamo dançava samba com um canguru. Mas Britto, não podia deixar essa afronta barata. Ele sabia que, mesmo sendo trapalhão, tinha uma reputação a zelar — ou ao menos, um ego inflado o suficiente para não permitir que fossem mais engraçados do que ele por acidente.


Enquanto tramava um plano mirabolante para desmascarar os plagiadores, o silêncio da redação foi interrompido por Cremilda, a ‘copeira’az tudo que, de forma inesperada, vinha carregando o peso emocional da redação. Ela entrou bufando, segurando uma cópia do horóscopo que ela mesma havia distribuído para a edição daquela semana.
— "Lino, eu não aguento mais ser de Capricórnio!", disse, com o olhar firme de quem estava prestes a mudar de vida — ou, pelo menos, de signo. "Quero mudar minha data de nascimento. Por que não nasci em abril? Quero ser de Áries, Lino! O horóscopo de Capricórnio sempre me promete desgraça. O último disse que eu encontraria um alienígena! 
O que isso quer dizer?
— "Cremilda, ninguém leva horóscopo a sério...", tentou argumentar Lino, Britto, mas foi interrompido.
— "Eu levo! E já conversei com o padre da igreja aqui do lado. Ele disse que mudar de signo não é pecado. Agora, se você não alterar a minha data de nascimento no horóscopo, eu faço greve de café!" ou pior: eu peço as contas e boto o Gargalhadas Semanal no pau.  


Uma frase das ameaças de Cremilda, deixou Lino atônito. Sem café, como ele funcionaria? Como qualquer editor funcionaria? Era uma ameaça mais grave do que a revista pirata ou um processo trabalhista. 
A pressão estava insuportável. Britto, num lampejo de genialidade misturado com pavor, fez uma promessa absurda: faria um horóscopo especial para Cremilda, um em que todos os signos eram positivos e cheios de sorte. Uma edição “feliz” e sem alienígenas.


Enquanto isso, na cidade vizinha,  o Risos da Hora continuava sua jornada de plágio impiedoso. E Britto sabia que, nas próximas semanas, além de lidar com uma copeira insatisfeita, teria que travar uma guerra de piadas com seu novo e misterioso rival.

 

Capítulo 3

 O Cripto Desastre de um Cético Cômico

Depois de dias remoendo a humilhação de ver suas piadas sendo copiadas com mais graça do que as originais, Lino Britto tomou uma decisão radical. Deitado no sofá da redação, com olheiras profundas e um saco de amendoim vencido, ele levantou-se num salto dramático:

— "Se as piadas não dão lucro... eu vou investir em criptomoedas!"

Dudu, o diagramador mímico, quase engasgou com a própria saliva. Cremilda largou a cafeteira no balcão com a expressão de quem ouvia um plano de assalto à NASA. Britto, no entanto, estava determinado. Viu um vídeo no YouTube de um coach com topete brilhante dizendo que investir em cripto era o caminho para a liberdade financeira — e, por que não, para salvar a Gargalhada Semanal da falência.

No mesmo dia, trocou o último salário atrasado por uma moeda digital obscura chamada RisoCoin, cujo slogan era: "Invista com humor, perca com estilo!".

Dois dias depois, o valor da RisoCoin caiu 98% após seu criador desaparecer com o dinheiro dos investidores e fugir para um país sem extradição. Lino Britto, que mal sabia o que era blockchain, entrou em pânico. Chegou na redação como um zumbi triste, com um cofrinho vazio e a dignidade mais desvalorizada que a própria cripto.

— “Chega de fugir!”, disse, batendo na mesa com um gibi velho. “Eu sou editor de uma revista de piadas ruins e... É isso o que sei fazer de pior!”

Inspirado por sua própria ruína financeira, Britto voltou ao centro da Gargalhada Semanal. Limpou o teclado, regou a planta (que milagrosamente ainda resistia) e convocou uma reunião de emergência com Dudu E Cremilda.

— “Vamos combater o Risos da Hora com criatividade, coragem e o que temos de melhor: absurdos, trapalhadas e horóscopos alienígenas!”

— “E café!”, completou Cremilda, já preparando uma garrafa dupla.

— “E silêncio expressivo”, sussurrou Dudu, fazendo uma pantomima de palmas.

Gustavo então bolou um plano para transformar a próxima edição na mais ousada da história da revista. Incluiria entrevistas com objetos inanimados, receitas enviadas por fantasmas e uma reportagem investigativa sobre a real origem das risadas enlatadas.

O humor, ele sabia, era sua ruína e sua salvação. E se o concorrente queria guerra, teria uma batalha de piadas onde o único limite era o senso do ridículo.

Capítulo 4

 O Ataque Extraterrestre (de Imprensa)

Era manhã de sexta-feira quando a bomba caiu na redação da Gargalhada Semanal. Lino Britto, com olheiras dignas de um urso panda desempregado, abriu o envelope anônimo deixado embaixo da porta. Dentro, estava a nova edição do Risos da Hora, o concorrente plagiador. Na capa, em letras garrafais e fluorescentes, lia-se:

“EXCLUSIVO: Editor de revista de piadas engravida alienígena do signo de Júpiter!”

Abaixo da manchete, uma montagem tosca mostrava Britto abraçado a uma criatura verde de três olhos, usando batom e um chapéu de cozinheira. A legenda?

“Amor interestelar: nosso humorista vai ser papai galáctico!”

Lino Britto empalideceu. O papel tremia em suas mãos. Suava mais que palhaço no metrô das seis. Cambaleou até sua cadeira giratória e caiu nela como quem aceita a própria extinção.

— “Eles... Eles usaram meu horóscopo contra mim!”, murmurou, em estado de choque.

Cremilda, que lia a matéria encostada no bebedouro, gargalhava tão alto que parecia um alarme de incêndio. Dudu sempre silencioso, estava literalmente rolando pelo chão da redação, rindo em mímica.

— “Chefe, você não avisou que ia ser papai!”, zombou Cremilda. “E com uma alienígena ainda por cima? Isso que é globalização cósmica!”

Britto, pasmo, só conseguia balbuciar:

— “Mas... mas isso é calúnia... e com efeitos especiais ruins!”

A matéria era uma peça de ficção descaradamente inspirada no horóscopo surreal que Lino Britto havia autorizado na edição passada, onde Capricórnio (signo de Cremilda) viveria um “romance intergaláctico”. O Risos da Hora havia pego a piada e a virado contra ele, transformando o editor numa celebridade de tabloide interplanetário.

Ele cogitou processar, fugir, mudar de nome, abrir uma barraquinha de cachorro-quente em Saturno... mas, estranhamente, havia algo mágico naquele caos. Pela primeira vez, sua própria equipe ria de verdade — e por causa dele. Ainda que fosse uma vergonha cósmica, era também... engraçado.

Inspirado por esse momento de riso genuíno, Britto levantou-se, apontou para a máquina de escrever quebrada e declarou:

— “Se querem guerra de absurdos, vão ter! Vamos preparar a edição da vingança: ‘O dia em que a alienígena revelou o verdadeiro pai!’”

— “E quem seria?”, perguntou Dudu, em gesto mudo.

— “O prefeito ou o padre! É claro!”, respondeu Btitto, piscando.

O riso, afinal, era a única arma com a qual sabia atirar — mesmo que no próprio pé.

 

Capítulo 5

 A Edição da Vingança (ou Quase Isso)

A redação da Gargalhada Semanal virou um campo de batalha criativa. Ainda abalado pela manchete cósmica do Risos da Hora, Lino Britto reuniu sua trupe para arquitetar a revanche editorial que mudaria o curso da guerra do humor do litoral.

— “Vamos lançar uma edição bombástica. Uma capa que vai fazer a concorrência engasgar com o próprio sarcasmo!”, disse Lino, de pé sobre uma pilha de almanaques antigos e restos de papel higiênico.

Cremilda apareceu com um caderno de receitas dos anos 80, jurando ter encontrado ali a solução para a manchete:

“Silvio Santos é o verdadeiro pai do filho da alienígena! Revelações da nave SBT-3000.”

Dudu, em silêncio teatral, desenhou a capa numa cartolina: Silvio Santos, de terno prateado, segurando um bebê com anteninhas e dando uma risada maligna, enquanto uma nave espacial lançava aviõezinhos de dinheiro.

— “GENIAL!”, gritou Lino, abraçando os dois com força suficiente para quase deslocar a coluna da copeira.

A equipe passou dois dias sem dormir, comendo salgadinhos mofados e redigindo as matérias mais absurdas da história da revista. Entrevistaram supostos especialistas em DNA galáctico (um era o sobrinho do porteiro) e conseguiram um “depoimento exclusivo” da alienígena, dublado por Cremilda com uma voz rouca e sotaque escocês.

No dia do lançamento, espalharam a edição por toda a cidade. Cartazes foram colados em postes, paradas de ônibus e até numa galinha empalhada em frente a Igreja Matrizl.

A reação? Instantânea.

A capa viralizou nas redes. Teóricos da conspiração abraçaram a história. Um programa de auditório cogitou entrevistar Britto ao vivo. E o Risos da Hora? Silenciou. Por uma semana inteira. Nenhuma piada. Nenhum deboche. Apenas um estranho editorial dizendo:

“Nem todo mundo está preparado para a verdade.”

Lino Britto, pela primeira vez, sorriu sem nervoso.
— “A guerra virou. E tudo graças a um bebê alienígena e a um velho apresentador de TV.”

Cremilda levantou um brinde com café frio. Dudu respondeu com um aplauso mudo e dramático. Estavam vencendo, não com lógica, mas com puro caos criativo.

Na redação, o riso reinava. Mesmo que, no fundo, todos soubessem: a próxima tragédia cômica estava logo ali, virando a esquina.

 

Capítulo 6

 Amor, Café e Adultério no Subsolo

Era uma manhã aparentemente tranquila na redação da Gargalhada Semanal. O som das teclas antigas ecoava entre uma pilha de exemplares mofados e o aroma constante de café forte. Lino Britto, ainda saboreando o gostinho da vitória sobre o Risos da Hora, achava que nada poderia mais abalar sua já calejada sanidade.

Até que Cremilda apareceu.

Cremilda, a copeira, astrológica, bisbilhoteira e agora... apaixonada. Ela entrou na sala com a firmeza de quem carrega uma bomba e a leveza de quem acha que está apenas entregando um pão de queijo.

— “Chefe, preciso te contar uma coisa antes que a boca me estoure... Eu tô tendo um caso com o Seu Onofre, o motorista.”

Silêncio.

O relógio parou de fazer tic-tac. Dudu congelou no meio de uma pantomima. E o café... soltou uma fumaça amarelada, como se até ele soubesse que aquilo ia feder.

Lino Britto arregalou os olhos.

— “O Seu Onofre? O que tem bigode em forma de ponto de interrogação? Mas... Cremilda, ele é casado, com a dona Terezinha, aquela senhora que toca sanfona em velórios!”

— “Pois é”, respondeu Cremilda, mexendo o café como quem mistura encrenca com açúcar. “Mas o amor... o amor é um ônibus sem freio, e Onofre é meu motorista.”

Britto massageou as têmporas. Tinha enfrentado plágios, criptomoedas fantasmas e um escândalo intergaláctico. Mas escândalo de verdade, com nomes reais, aliança no dedo e sanfona envolvida... isso era outro nível.

— “Você tem noção do que pode acontecer? Se a dona Terezinha descobrir, ela transforma essa redação numa quadrilha junina de cemitério!”

— “Chefe, eu só queria que você soubesse. E que escrevesse nosso horóscopo com mais Vênus e menos Marte. Tô vivendo um amor proibido, mas bonito.”

Nesse momento, Dudu escreveu algo no quadro branco:
“Seu Onofre e o Caso do Café Amargo – próxima matéria de capa?”

Lino Britto, contra todo bom senso, sorriu. A desgraça, quando bem editada, vendia bem. E se a vida queria empurrá-lo ladeira abaixo, que fosse com manchete escandalosa e cheiro de café traído.

— “Tá bom, Cremilda. Mas se a dona Terezinha aparecer armada com a sanfona, você atende.”

E assim, mais uma vez, o caos virou pauta. E a redação seguia firme, entre gargalhadas, ruínas e paixões com ponto final em forma de bigode.

 

Capítulo 7

 A Piada Maldita e o Xixi da Revelação

Depois do escândalo com Seu Onofre e da quase tragédia causada por uma sanfona voadora, Gustavo achava que o universo já tinha lhe jogado tudo. Ingênuo.

Inspirado por uma revista bolorenta dos anos 90, decidiu lançar o Concurso da Piada Maldita.
— “É o momento! O Brasil precisa rir... ou processar a gente de vez!”, declarou, empolgado.

A proposta era simples: enviar a pior piada possível. Tão ruim que fizesse rir por desespero ou chorar de raiva. A premiação: uma caneca personalizada com a frase “Morri de vergonha e ainda ri”.

Enquanto isso, Cremilda andava estranha. Esquecia o açúcar do café, passava pano no ventilador, olhava pro teto e suspirava.
— “Tem alguma coisa errada com a copeira”, sussurrou Britto
— “Ou certa demais...”, respondeu Dudu, dramático como sempre.

Em paralelo, as piadas começaram a chegar: trocadilhos com múmias veganas, pinguins deprimidos e até uma envolvendo um padre, um drone e um bidê.

A escolhida, no entanto, causou uma pequena guerra civil nas redes sociais:

“Por que o pombo não vai à igreja? Porque até ele sabe que não se caga onde se reza.”

A publicação fez com que Lino Britto recebesse ameaças de exorcismo por carta registrada. Um protesto se formou em frente à redação, liderado por um pastor, dois escoteiros e um pombo batizado de Anacleto.

Mas foi aí que o caos se multiplicou.

Na hora do café da manhã, Cremilda se aproximou com uma bandeja tremendo. Olhou Lino Britto nos olhos e, com a calma de quem vai derramar o apocalipse em xícaras:

— “Chefe... acho que tô grávida.”

Silêncio.

Dudu, deixou cair um sachê de açúcar e engasgou com o pão de queijo. Britto piscou sete vezes antes de responder:

— “Do... Seu Onofre?”

Cremilda desviou o olhar.

— “A lua estava em Vênus. E eu... tava vulnerável.”

Lino encostou-se à impressora.

— “Cremilda... a gente tá sendo processado por um pombo e agora talvez tenhamos um bebê de motorista vindo aí. Você tem noção da manchete que isso rende?”

Ela assentiu, segurando firme a bandeja.

— “Tem. E pode apostar que vai vender horrores.”

 

Capítulo 8

 Entre Céu, Cafés e Covardias

Nada ia bem.

Na redação da Gargalhada Semanal, a máquina de xerox tossia como um fumante de 90 anos, o estoque de papel higiênico virou bloco de anotações, e a luz da sala do Lino Britto piscava como se quisesse sair correndo.

Cremilda, a copeira mais dramática da história da imprensa nacional, andava em círculos pela copa segurando um teste de gravidez ainda lacrado. Lera a bula quatro vezes, consultou seu horóscopo em três sites diferentes e até tirou cartas de tarô com uma amiga pelo WhatsApp.

— “Não é só um teste, chefe… é o destino em forma de plástico.”

— “Cremilda, é só um palitinho com química! Você vai urinar ou prefere pedir uma audiência com o Ministério da Saúde?”

Ela o ignorou.

Mais tarde, a bomba explodiu: Seu Onofre, o motorista, pediu demissão.
— “Preciso pensar na minha vida, Lino. A Terezinha me ameaçou com a sanfona. Não aguento mais conviver com essa Kombi sem freio e agora a Cremilda  falando em bebê de Aquário. Não tenho condições psicológicas! Eu sou de Capricórnio. Isso não pode dar certo.
”Lino Britto o olhou com cara de quem perdeu o pouco juízo que restava.
— “Você me deixa com uma copeira "quase"grávida, um escândalo de bastidores e sem motorista. Como vou buscar os folhetins no Sebo do Seu Nestor agora?”

Mas a cereja do caos veio no fim da tarde, quando um envelope cerimonioso chegou com o selo dourado da Paróquia São Miguel Arcanjo dos Últimos Risos.

— “A Igreja quer uma reunião com o senhor Lino Britto, para discutir os limites do humor e o respeito às instituições divinas.”

Dudu leu em voz alta, já rindo.

— “Vai virar debate teológico! Humor versus Céu!”

— “Se a gente for excomungado, podemos publicar isso?”, perguntou  Dona Maricota, com uma vassora na mão e um balde na cabeça,

Cremilda, em silêncio, segurava o teste de gravidez com tanto cuidado que parecia carregar um santo em miniatura.

— “E se der positivo?”, murmurou ela.

Lino espondeu, cansado e cínico:

— “Aí eu viro padrinho. E começo uma nova revista: Cólica Semanal.”

Todos riram. Ou quase. Porque, mesmo na desgraça, riso ainda era o que os mantinha vivos.

 

Capítulo 09

  Amém ou Amordaça
A sala de reuniões da Gargalhada Semanal cheirava a café, desespero e desinfetante vencido. Lino Britto ajeitava o colarinho da camisa emprestada de Dudu, que estava dois números acima e deixava ele com cara de cantor de banda de baile dos anos 80.
— “Você tá apresentável?”, perguntou Maricota, passando um pano encardido na mesa .
— “O padre veio conversar, não canonizar. Vai dar tudo certo.”
Mas Lino não acreditava nem em horóscopo chinês naquele dia.
O Padre Alcebíades chegou pontualmente às 10h, acompanhado de uma assistente paroquial chamada Irmã Dolores 
— mulher magra, de coque apertado e olhos de raio-X.
— “Viemos em espírito de paz”, disse o padre, sentando-se com a solenidade de um juiz do STF. - “Mas também viemos com dor no coração. - ”Gustavo fingiu um sorriso diplomático.
— “A piada do pombo foi uma metáfora... artística.”
— “O pombo não era o problema”, respondeu Alcebíades. “É o conjunto da obra. O humor precisa de limites, filho. Até Cristo fez graça, mas nunca humilhou. - ”Irmã Dolores completou:
— “O Senhor multiplicou pães, não trocadilhos.” - Gustavo pigarreou.
— “Entendo. E peço desculpas. Podemos... incluir uma seção de piadas edificantes. Algo como ‘O Evangelho Segundo o Riso’?”
O padre pensou, coçou o queixo e respondeu:
— “Se houver respeito... podemos rir juntos.”
Enquanto isso, do lado de fora da sala, Cremilda encarava o teste de gravidez como quem encara um leão-marinho numa viela escura.
— “Não tô pronta. A lua ainda tá em Capricórnio. Não é um bom dia pra descobertas existenciais.”
Dudu suspirou:
— “Cremilda, você tá atrasada há quase um mês. Se demorar mais, a criança nasce e já pede café com chocolate.”
Ela se virou, firme:
— “Vou fazer esse teste quando o universo me der um sinal.”
E no exato momento em que disse isso, a luminária da sala de reuniões explodiu com um estalo seco. Um curto-circuito iluminou a imagem de São Genésio — padroeiro dos comediantes — pendurada na parede.Silêncio geral.
— “Pronto”, murmurou Dudu. “Acho que o sinal chegou.”Cremilda olhou pro céu, depois pro palitinho. E o guardou de novo na bolsa.
— “Só mais um dia…”
Na sala ao lado, o padre aceitava um café e dizia:
— “Com açúcar, por favor. Afinal, o mundo já tá amargo demais.”

 

Capítulo 10 

Santidade, Suspeitas e o Jaleco do Destino
Cremilda acordou com o pressentimento de que aquele seria o dia. O céu amanheceu cinza, os pombos não voaram, e a cafeteira queimou o café logo na primeira passada.
Enquanto isso, Lino Britto tentava lidar com as consequências da reunião com o padre Alcebíades, que saiu da Gargalhada Semanal com a testa franzida e uma promessa enigmática:
— “Nos vemos no altar, filho.”
— “Isso é uma ameaça ou convite pra casamento?”, murmurou Maricota.
No escritório, Cremilda encarava o teste de gravidez pela 37ª vez.
— “Hoje sim”, murmurou, e entrou determinada no banheiro da redação.
De repente, uma explosão.
Não era figurativa — o micro-ondas da copa, entalado com um pastel congelado de 2018, decidiu que não aguentava mais viver. BUMMMMMMM!
Fumaça. Gritos. Dudu coberto de milho estourado. Lino gritando “foi terrorismo gastronômico!” E de dentro do banheiro, saiu Cremilda, suada, tremendo, segurando o teste como quem segura o Santo Graal:
— “NEGATIVO! O TESTE DEU NEGATIVO!”
Todos aplaudiram. Até o pombo Anacleto pousou na janela em sinal de paz.
Mas a dúvida persistia. Então, Maricota marcou uma consulta com o único profissional capaz de apaziguar o coração inquieto de Cremilda: 
Dr. Auro — ginecologista, astrólogo de rodapé de jornal e ex-figurante de novela bíblica.
Baixinho, barrigudo, usava um jaleco tão branco quanto suspeito, claramente comprado numa loja de fantasias e uma barriga postiça, que era pra passar confiança às pacientes, mas a voz era tão doce que se tornava enjoativa em segundos.
— “Minha querida Cremilda… sua gravidez é apenas psicológica. Isso é apenas… carencia de afeto, cálcio e, talvez, umas férias no litoral norte.”
Ela chorou. Não de tristeza, mas de alívio.
No mesmo dia, o editor recebeu um envelope:

“Convite Oficial:  Missa de Reparação – Domingo, 8h. Traje formal. Confissão opcional.”Assinado: Padre Alcebíades.
— “Ele quer que eu vá me redimir no altar…” — disse Lino às gargalhadas
— “Vai lá”, disse Dudu. “Leva Cremilda. Ela precisa agradecer.”
— “E você?”, perguntou Lino Britto.
— “Eu sou ateu, mas curioso.”
Lino Britto suspirou.
O pastel explodira, Cremilda não estava grávida, e o padre 
queria convertê-lo.

A vida, naquela redação, era uma comédia com roteiro divinamente absurdo.
 

Proximo capítulo 02/06

 

Capítulo 11

Aleluia, Café e Confusão

Domingo, 7h45. Lino Britto vestia um terno que parecia ter sido herdado de um apresentador de telejornal dos anos 70. Os ombros eram largos demais, e a gravata, uma homenagem involuntária ao Carnaval de Olinda.

Dudu, por sua vez, apareceu de bermuda, chinelo e uma camiseta onde se lia “Rir é Preciso”.
— “Não tinha traje formal no brechó aberto de madrugada.”

A Igreja São Miguel Arcanjo dos Últimos Risos estava lotada. O padre Alcebíades, com sua batina impecável e expressão de ‘isso aqui vai dar ruim’, preparava-se para a tal Missa de Reparação. Ao lado do altar, um cartaz com letras garrafais:
“Humor com Respeito: Rir Sem Pecar”

Lino respirou fundo, sentou-se no primeiro banco com Cremilda ao lado, ainda emocionada pelo “negativo que mudou sua vida”.

A missa começou solene. Mas logo virou tragicomédia.

O coral errou a entrada e cantou Asa Branca. Um coroinha tropeçou e derrubou água benta em uma idosa que gritou:
— “É o batismo completo!”

Dudu tentava segurar o riso, mas parecia um vulcão engasgado.

Na homilia, o padre mirou direto em Lino:

— “E há entre nós um servo que brincou com a fé, zombou dos anjos e confundiu a Virgem com uma repórter de fofoca!”

Lino corou. Dudu gargalhou.

— “O senhor quer que eu suba ao púlpito?”, arriscou Lino.

— “Não. Quero que cale e reflita.”

A coisa degringolou quando Cremilda, emocionada, pediu para dar um testemunho. Pegou o microfone:

— “Me achava grávida do motorista casado. Mas não tava! Era só café demais e ansiedade!”

A assembleia silenciou. Depois, aplaudiu. Alguns choraram. Outros riram. Uma senhora desmaiou.

O padre, em desespero teológico, tentou retomar o controle:
— “Por favor! Estamos em momento de recolhimento…”

Mas aí, Dudu, já possuído pelo espírito da palhaçada, gritou do fundo:
— “E o Anacleto, o pombo? Vai ser canonizado quando?!”

Foi o caos.

O padre encerrou a missa 20 minutos antes. Lino foi abençoado com água benta jogada com raiva. Cremilda ganhou um terço e um convite para participar do grupo de oração das Marias Arrependidas.

No fim, Lino, Dudu e Cremilda saíram rindo tanto que precisaram sentar no meio-fio da praça.

— “Sabe de uma coisa?”, disse Lino. “A gente devia fazer uma matéria: ‘Fui à missa e saí excomungado com fé renovada’.”

— “Título ótimo”, respondeu Dudu. “Mas só se o pombo escrever o editorial.”

 

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Pandemia  Causada por Pepinos Gigantes

A semana começou com uma manchete bizarra no noticiário:“Pepinos Mutantes Avançam pelo Interior 
– População em Pânico e Previsão de Pandemia”
Lino Britto leu a notícia três vezes, com a cara de quem misturou sonífero com energético.
— “Dudu… você tá lendo isso também ou é mais uma pegadinha da revista concorrente?”
— “Infelizmente, meu caro… é real. Já interditaram um supermercado em Piracicaba porque os pepinos cresceram, fugiram da gôndola e atacaram um cliente que tentou fazer piada com salada.”
Cremilda entrou na redação aos gritos:
— “Acabou! O mundo vai acabar e eu nem consegui viver um grande amor. Ou engravidar direito!”
Na TV, especialistas com cara de personagens de The Walking Dead anunciavam o pior: os pepinos gigantes, resultado de uma mutação genética causada por reality shows de culinária e excesso de agrotóxicos, estavam se multiplicando a ritmo acelerado.“São fálicos, perigosos e nada nutritivos.”disse um agrônomo chorando ao vivo.
A Organização Mundial da Comédia decretou estado de alerta:
“O humor está ameaçado. Piadas com vegetais foram oficialmente proibidas. O riso pode propagar a pandemia.”
— “É o fim!”, gritou Maricota. “Se não pode rir e não pode comer… resta o quê?!”
— “Ração humana sabor frango desidratado e esperança vencida”, respondeu Dudu, segurando um pacote recém-comprado no mercado de sobrevivência da esquina.
Lino, ainda atônito, olhava para o último exemplar impresso da Gargalhada Semanal, como quem segura um bebê à beira de um vulcão.
— “Dudu, se a piada é proibida… o que a gente faz agora?”
— “A gente resiste. Em silêncio. Ou com mímicas.”
Foi quando a redação tremeu. Do lado de fora, um som de passos pesados. E então… um som úmido e pegajoso. Como de algo arrastando uma geleia vegetal gigante.
Todos correram até a janela.
Lá estavam eles: pepinos de quase dois metros, marchando como infantaria vegetal. Um deles carregava um cartaz:
“Riam agora, humanos. Depois, só ração.”
Cremilda desmaiou. Dudu engasgou com a ração.
E Lino? Lino respirou fundo, pegou sua caneta e disse:
— “É agora que começa a edição especial: Rir ou Morrer!” Salve Leo Lins!

 

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Clorotildoid, Comediantes e Cucurbitáceas do Caos

Com a cidade sitiada por pepinos mutantes e o riso classificado como arma biológica, Lino Britto e sua trupe se refugiavam na redação desativada do antigo jornal “O Trombone”. Lá, num porão cheio de jornais amarelados e pôsteres de chacrinha, surgiu a salvação:

A Resistência do Riso.

Vestidos com narizes de palhaço táticos, armados com buzinas, tortas e piadas de duplo sentido, eles se apresentaram:

— “Somos a última fronteira entre o bom humor e a insanidade total. Rir é resistir”, declarou General Chuchu, ex-roteirista de programas de auditório dos anos 80.

Ao mesmo tempo, nas redes piratas da deep web, surgiu um vídeo misterioso.

Um homem de jaleco verde-limão, cabelos penteados com graxa e um bigode que parecia desenhado por um internato militar, falava para a câmera com voz pastosa e triunfante:

— “Eu sou Dr. Acioli Ranzinza, químico, patriota, e criador do clorotildoid, a cura definitiva contra os efeitos colaterais do humor frouxo!”

Segundo ele, os pepinos gigantes obedeciam a sinais enviados por torres de rádio instaladas clandestinamente em escolas de teatro.

— “Eles reagem ao sarcasmo. O ironismo é tóxico. Só clorotildoid bloqueia o impulso de fazer piada.”

Lino assistia ao vídeo com as mãos na cabeça.
— “É oficial. Estamos sendo dominados por um vilão que odeia piada e ama tubérculos.”

Dudu, que tentava disfarçar rindo com um travesseiro na boca, comentou:
— “Clorotildoid parece nome de xarope feito com caldo de cana e formol.”

Enquanto isso, Cremilda retornava da farmácia:

— “Comprei três caixas de clorotildoid. Achei que fosse bom pra cólica!”

A Resistência decidiu agir: explodiriam a principal torre de transmissão de controle dos pepinos, localizada no alto do Monte Rabanete.

Mas antes, o General Chuchu fez um discurso solene:

— “Se não voltarmos… lembrem-se de rir. Nem que seja baixinho. Mas riam.”

Lino fechou os punhos. Dudu pegou a buzina. Cremilda… confundiu a ração com sabão em pó.

E todos partiram rumo à maior missão da comédia moderna: derrotar os pepinos e salvar o riso da extinção.

 

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Fogos, Farpas e Pepinos no Arraiá

O plano estava traçado.

Lino Britto, Dudu, Cremilda e os integrantes da Resistência do Riso se reuniram na garagem abandonada da rádio comunitária “Voz do Milho” para organizar a sabotagem da torre de controle dos pepinos, no alto do Monte Rabanete.

O General Chuchu explicou com gravidade:
— “A missão é simples: invadir, instalar os explosivos e escapar antes que o clorotildoid nos faça rir à toa... ou explodir os próprios pulmões.”

Enquanto isso, na cidade, acontecia a tradicional Festa Junina da Paróquia São Miguel. Fogos, bandeirinhas, milho cozido, forró ao vivo e uma quadrilha liderada pelo próprio Padre Alcebíades, que havia prometido:
— “Esse ano, ninguém será excomungado por dançar com entusiasmo.”

Mas aí, aconteceu.

Dudu, infiltrado na festa como parte do disfarce da missão, arriscou uma piada enquanto comia canjica:
— “Essa canjica tá tão aguada que o milho tá pensando em se afogar.”

Silêncio. Olhares mortais. A cozinheira da paróquia, Dona Judite, conhecida como “a Mão de Faca”, não gostou.

— “Repete, engraçadinho.”

— “Não foi nada, só um comentário…”

— “Então segura esse comentário com pamonha!”

A pamonha voou. E com ela, a dignidade da festa. Foi milho estourando, gente escorregando no vatapá e uma senhora da catequese batendo com a bengala na sanfona. O padre Alcebíades gritava:
— “É a colheita do Apocalipse!”

Enquanto isso, no alto do Monte Rabanete, Lino e Cremilda invadiam a torre com um carrinho de mão cheio de TNT camuflado como paçoca.
Eles plantaram os explosivos, mas, claro, algo deu errado: Cremilda tropeçou em um pepino adormecido, que ativou o alarme com seu ronco vegetal.

Luz vermelha. Sirenes. E os alto-falantes da torre começaram a emitir uma gravação de voz do Dr. Acioli Ranzinza repetindo:

— “Clorotildoid é vida! Rir é pecado!”

Lino gritou:
— “TEMOS 90 SEGUNDOS! CORRE, CREMILDA!”

Ela correu, mas antes pegou o microfone da torre:
— “Se for pra acabar, que seja com dignidade: Doutor Acioli, teu jaleco é da C&A!”

Explosão.

O céu se iluminou com uma nuvem de fumaça em forma de emoji rindo. Na festa junina, a briga cessou subitamente quando todos viram o clarão ao longe.

— “Aleluia!”, disse o padre.

— “A torre caiu!”, disse Dudu, com a camisa rasgada e cheiro de curau.

E no meio da poeira, Lino e Cremilda surgiram… vivos. Chamuscados, mas sorrindo.

 

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O Dia em Que os Pepinos Revidaram

Na manhã seguinte à explosão da Torre do Monte Rabanete, a cidade amanheceu com cheiro de pólvora e purê de pepino queimado.

Lino Britto virou herói local. Seu retrato estampava capas de jornais clandestinos com manchetes como:
"Homem Derruba Torre e Salva o Humor Nacional"
e
"Guerreiro do Riso: Ele Enfrentou o Pepino e Venceu"

Mas a alegria durou pouco.

Às 10h em ponto, os céus se abriram em verde-radioativo. Um Zepelim Gigante em forma de pepino sobrevoou a cidade, soltando panfletos que diziam:

“A GARGALHADA TERÁ UM PREÇO. PREPAREM-SE PARA A PEPINOFÚRIA.”

Dudu, lendo o bilhete, perguntou:
— “Eles agora têm marketing?”

E Cremilda, com seu faro cósmico, confirmou:
— “A lua entrou em Marte. É guerra.”

De repente, os pepinos mutantes emergiram do solo como zumbis vegetais. Um deles usava óculos escuros. Outro tinha um cinto de utilidades. Estavam… evoluindo.

O líder deles, um pepino musculoso com tatuagem de “Justiça pela Clorofila”, tomou o microfone de uma rádio comunitária e declarou:
— “Queriam rir de nós? Agora sentirão o gosto amargo da vingança vegetal.”

Lino organizou uma reunião de emergência na sede da Resistência do Riso.

— “Eles estão bravos.”

— “São pepinos, Lino.”

— “São pepinos armados e politizados, Dudu!”

Foi então que Cremilda propôs o plano mais absurdo da história:

— “Vamos realizar um Festival Nacional da Piada Ruim, ao vivo, transmitido em todas as rádios. Um bombardeio cômico. Se rirem, perdem. Se resistirem… bem, nós perdemos.”

Dudu hesitou:
— “Você quer derrotar os pepinos... com piada ruim?”

— “Exatamente. É o que eles mais odeiam. Vamos sufocar os danados com piadas de sogra, trocadilhos com frutas e imitações de Faustão!”

O festival foi lançado às pressas, com um palco montado na praça central. Artistas amadores, imitadores de celebridades falidas e um idoso que fazia stand-up apenas com piadas sobre chinelos, todos reunidos sob aplausos e temor.

Lino subiu ao palco. Pegou o microfone. O Zepelim pairava ameaçador no céu.

E então, ele disse:

— “Sabem por que o pepino não entra em festa? Porque se sente em conserva!”

Silêncio.

Um pepino caiu do céu... morto de vergonha.

A multidão vibrou. Outro despencou em desespero ao ouvir:

— “Qual o legume que se acha famoso? O abrobrinhado!

Mais e mais caíam. O céu clareava.

A cidade ria. E os pepinos… recuavam. Alguns até imploravam por um talk show.

No fim, Dudu abraçou Lino.

— “Você venceu a guerra com trocadilhos.”

— “Não subestime o poder da piada ruim, meu amigo.”

E do alto da torre da igreja, o padre Alcebíades aplaudia, chorando e rindo ao mesmo tempo.

 

 

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O Dia em Que o ET Brasileiro Foi à Guerra

Após a queda da torre, o recuo dos pepinos e o sucesso do Festival da Piada Ruim, a cidade respirava aliviada. Mas o clima de paz durou pouco.

Na manhã de segunda-feira, manchetes invadiram a internet:
“Governo Americano Taxa Produtos Brasileiros em 100%”
De café a piadas impressas, o Brasil estava oficialmente no alvo.

Na redação da Gargalhada Semanal, Lino Britto leu a notícia já prevendo o desastre.
— “Agora que a gente reconquistou o humor, eles querem nos roubar a cachaça e o feijão?”

Dudu resmungou:
— “Dessa vez não vai ser piada que resolve.”

Foi quando surgiu uma proposta que mudaria a história da humanidade e das novelas:
— “Unimos as forças. Pepinos, cafeteiras, igrejas e palhaços. E vamos apresentar… o projeto ET BRA.”

ET BRA: um ser híbrido, meio vegetal, meio humano, criado a partir de pepinos mutantes e uma receita secreta de caldo de cana fermentado.

Cremilda olhou desconfiada.
— “Isso aí parece fake news…”

Mas o padre Alcebíades apareceu com a bênção oficial:
— “A paz precisa de um guardião.”

Horas depois, no laboratório do antigo Dr. Acioli, agora rebatizado de “Laboratório Nacional de Riso e Defesa”, o ET BRA ganhou forma:
Altura de 3 metros, boné de aba reta, camisa do Flamengo, sotaque arrastado de interior paulista e a capacidade única de transformar milho em mísseis de pipoca.

O ET BRA foi lançado em missão diplomática. Mas na prática, aterrissou direto em frente à Casa Branca, nos EUA, transmitindo ao mundo uma única mensagem via megafone:

— “Se taxar coxinha, taxaremos hambúrguer!”

O governo americano não sabia se ria ou declarava guerra. No Brasil, o povo foi às ruas em festa, com bandeiras onde se lia:
“Pelo direito de exportar brigadeiro!”

E Dudu, observando tudo pela televisão, comentou:
— “No fim das contas, com muito humor e diplomacia nosso

ET BRA alienígena, vai nos salvar das sanções do topetudo.”
Lino brindou com café requentado e amargo:
— “Que nunca mais falte riso… nem açúcar.”