FRASE DA EDIÇÃO

"A CLASSE DOMINANTE NUNCA SERÁ CAPAZ DE RESOLVER 
A CRISE.
ELA É A CRISE’’ 

CARTA NO EXÍLIO DE PAULO FREIRE A ARIANO SUASSUNA

 

"Querido amigo Ariano,
Há poucos dias lhe escrevi, perguntando-lhe, inclusive, como andava minha situação. Volto agora a fazê-lo, depois de ter sido informado pela imprensa, brasileira e chilena, do resultado de meu processo e de ter recebido um telegrama amigo de Monte e Paulo Cavalcanti, confirmando a notícia.
Escrevo-lhe agora, meu velho amigo, para dizer-lhe de minha sincera gratidão pelo interesse que você teve, desde o primeiro momento, por meu caso. Nunca me esqueço de sua valentia de querer bem, quando, ao chegar ao aeroporto do Recife, vindo de Brasília, num momento em que tudo era penumbra, interrogação, desconfiança, medo, denúncia, fuga, negação; em que os "amigos", antes e depois que o galo cantasse - não importava - diziam: "Quem é? Não conheço. Jamais vi este homem!" ou, o que era pior: "Conheço este homem, sempre desconfiei de suas intenções malvadas", lá estava você, fraterno, risonho, confiante, ao lado de Monte, ambos abraçando-me. Abraçando-me, quando cumprimentar-me, simplesmente cumprimentar-me, era uma ameaça a quem o fizesse.
Você, Monte e outros, muitos outros, foram o contrário de alguns. Entre estes nunca me esqueço também, sem rancor e sem ressentimento, ao testemunho de um professor da universidade, que, ao dobrar uma esquina — a do cinema São Luiz — me divisou a uns 10 metros de distância e fez então o mais difícil: andou de lado...
Você, pelo contrário, veio sempre de frente ao meu encontro, a nosso encontro. Encarcerado, você procurava Elza, enquanto os que andavam de lado perderam nosso endereço...
Nesta carta "sencilla" nada mais lhe direi além do meu, do nosso muito obrigado.
Do amigo-sempre,
Paulo Freire.
Santiago, 31.5.68"

 

Uma curiosidade bem bacana: Você sabia que Ariano Suassuna contribuiu para o método de alfabetização de Paulo Freire?
Paulo Freire submeteu ao amigo Ariano seu método de alfabetização antes que ele fosse publicado. Ariano Suassuna, encantando com o método revolucionário, fez apenas uma ressalva: "A parte plástica não está correspondendo à extraordinária qualidade do método". Ariano então sugeriu o artista Francisco Brennand, que trabalhava com arte popular, e viria a ser a pessoa que ilustraria em definitivo o método de Paulo Freire.
Via Cristina Di Trussi
 
"Há um tipo de tristeza que vem de saber demais, de ver o mundo como ele realmente é. É a tristeza de entender que a vida não é uma grande aventura, mas uma série de pequenos momentos insignificantes, que o amor não é um conto de fadas, mas uma emoção frágil e passageira, que a felicidade não é um estado permanente, mas um vislumbre raro e fugaz de algo que nunca poderemos segurar em cima. E nesse entendimento, há uma profunda solidão, um sentimento de ser separado do mundo, das outras pessoas, de si mesmo. "
Virgínia Woolf

 

 

As coisas
"E deixa-me dizer-te em segredo um dos grandes segredos do mundo:
- Essas coisas que parece não terem beleza
nenhuma, é simplesmente porque
não houve nunca quem lhes desse ao menos
um segundo olhar!" 
(Mário Quintana)
 
SABIAS QUE?!
A ORIGEM DO TERMO "CARALHO”
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"Caralho" é, era uma palavra que os marinheiros portugueses usavam para denominar uma zona da pequena cesta "Gávea" que se encontrava no alto dos mastros dos navíos ou barcos a caravelas.
Este local alto do barco chamado CARALHO, era onde os vigias subiam para ver o horizonte em busca de sinais de terra. Também era considerado um lugar de castigo para aqueles marinheiros que cometiam alguma infracção a bordo. Quando um marinheiro cometia uma infracção era enviado logo para o CARALHO.
Ele ficava em cima do CARALHO a cumprir horas ou dias inteiros com um sol ardente. Quando a pessoa descia, ficava tão enjoado que chegava até a ficar muito calmo ou tranquilo por vários dias. Isto, porque no CARALHO era o local onde se manifestava com maior intensidade o rolamento ou movimento lateral de uma caravela.
Foi assim então que surgiu a expressão "VAI PRÓ CARALHO!"
Isso, muita das vezes você nunca irás aprender nas escolas.
CRÉDITOS: Lipson Victor
 
ABAIXO 2 REFLEXÕES SOBRE O TEMPO

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“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.
Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.
Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.
Para você, neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família seja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas…
Mas nada seria suficiente…
Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.
E que eles possam mover você a cada minuto
ao rumo da sua felicidade.”
Por: Carlos Drummond de Andrade

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Às vezes, por medo da dor ou solidão, vamos deixando as coisas pra depois, tapando o sol com a peneira, fingindo não ver determinadas coisas, acumulando pessoas e sentimentos que não são necessários.
Outras vezes, por medo da mudança ou do desconhecido, vamos deixando de arriscar, tentar, buscar novos caminhos que podem ser o que tanto precisamos nesta existência.
Mas o tempo...
Ah, o tempo, ele nos mostra o que precisamos segurar e soltar.
Simples assim.
Clarissa Corrêa
 
NECROLÓGIO DOS
DESILUDIDOS DO AMOR
 
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
 
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
 
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Visceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia…
 
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
 
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
Carlos Drummond de Andrade

O Mito da Caverna de Platão

1Imagine uma caverna grande, úmida e escura. Nessa caverna vivem algumas milhares de pessoas. Essas pessoas desde que nasceram, vivem com correntes nos braços, pescoço e pés, em cadeiras enfileiradas de modo que na frente dessas pessoas há um imenso paredão fino. Semelhante ao cinema moderno. Por trás das fileiras de cadeiras, há uma fogueira. Entre a fogueira e as cadeiras passam algumas pessoas com objetos e animais. Os sons dessas pessoas, objetos e animais ecoam pela caverna até chegar ao grande paredão e por fim chegar aos acorrentados. A luz que a fogueira emiti bate nessas pessoas, animais e objetos e nas demais pessoas acorrentadas fazendo surgir sombras no grande paredão. Essas pessoas acorrentadas veem essas sombras como se fossem reais. Pois esse é o único mundo que conhecem. Mais acima da caverna, como se fosse os camarotes, vive os chamados amos da caverna. São eles que controlam todo o esquema. No topo da caverna, existe uma pequena saída pelo qual o sol emiti um pequeno feixe de luz que chega até lá embaixo, próximo às pessoas acorrentadas. Porém, entre a fogueira e o topo da caverna existe um imenso paredão bem íngreme, cheio de obstáculos, difícil de escalar. Do lado de fora da caverna existe árvores, rios, o sol... enfim, a natureza e alguns sábios. As sombras mais diferenciadas são eleitas pelos acorrentados para serem os líderes. Em diversas áreas.

 

2 Enquanto as pessoas acorrentadas discutem entre si sobre o mundo em que vivem, os amos da caverna riem e caçoam deles. Uma das características desses amos é que eles não costumam aparecer. Não gostam de aparecer. Só que uma dessas pessoas, que chamaremos de Sócrates, começa a se questionar sobre toda essa situação. Quanto mais se questiona mais ele vai percebendo que há algo de errado nele e no mundo em que vive. As outras pessoas acorrentadas mais próximas já começam a olhar diferente pra ele. Sócrates não liga e começa a se remexer da cadeira. Quanto mais se remexe da cadeira, mais ele sente que há algo de estranho com ele. Até que um dia percebe que está acorrentado. Se você está dormindo, acorda e vê que está acorrentado, qual a sua reação, leitor? Pois bem, Sócrates não é diferente, e quer se libertar das correntes. Depois de muita luta, consegue se livrar das correntes. Primeiramente de braços e pescoço. Livre das correntes do pescoço ele pode olhar de lado e pra trás e vê, as pessoas acorrentadas, a fogueira, enfim, ter uma visão da caverna e perceber que esse mundo é uma ilusão. Depois, consegue se livrar das correntes dos pés. Analise bem: ele nasceu e cresceu nessa situação, nunca andou. Quando se levante e começa a andar tem extrema dificuldade. Já está desgastado pelo imenso esforço que teve pra se livrar das correntes. Mas consegue se adaptar e andar. Sócrates tenta alertar os outros acorrentados, inclusive os amigos, porém, sem sucesso. Pois esses acorrentados se julgam viver em um relativo "conforto" e tomam esse mundo como real. 

 

3 Quando veem o estado de Sócrates, todo desgastado fisicamente e até psicologicamente, dizendo que o mundo em que vivem não é real, que vivem numa caverna úmida e escura, e etc... alguns acorrentados chegam até a chamá-lo de louco. Sócrates vê que não vai obter sucesso e vê um pequeno feixe de luz vindo do topo da caverna, ele decide ir em direção a essa luz. Mas para isso é preciso escalar um grande paredão íngreme, cheio de obstáculos. Na escalada, de vez em quando escorrega, cai, e volta a escalar. Depois de muita luta, ele chega ao topo da caverna, e consegue sair da caverna. Vê o sol pela primeira vez, e nesse momento quase fica cego, pois nunca havia visto tanta luz. Depois de um tempo, ele consegue se adaptar a luz do sol, mas ainda com a vista não muito boa. Ele vê a natureza, os sábios e etc. Conversa com alguns sábios e vê que este é o mundo real. Porém, bate um sentimento de misericórdia: e os amigos e todas as outras pessoas acorrentadas, vivendo nesta caverna achando que vivem num mundo real? Ele decide voltar. A descida foi tão difícil quanto à subida do paredão. Chegando nos amigos acorrentados, com a vista ruim, todo arrebentado, ele vai tentar liberta alguns acorrentados. Porém a recepção foi pior do que antes, quando ele tentou alerta-los antes de subir. Vê que alguns até são capazes de lutar ferozmente para proteger as correntes. Então, Sócrates chega a conclusão que o segredo é contar aos poucos, começando inicialmente a dizer que estão com os braços acorrentados, por exemplo.

 

 

4 Observa também que existe algumas pessoas que começam a se questionar e tem uma certa disposição a ouvi-lo. Essas pessoas são os idealistas. Uma dessas pessoas solta os braços e o pescoço, e como esse está numa condição parecida com o amigo acorrentado ao lado, este amigo acorrentado vai está mais disposto á ouvi-lo. Outro que consegue perceber que está acorrentado e começa a se remexer da cadeira, conta pro amigo ao lado que aquele mundo é uma ilusão e é preciso acordar. Assim uns vão se soltando, ajudando os mais próximos e também, caminhando em direção ao feixe de luz. Criando assim uma corrente discípula de mestre e discípulos. O que se solta é o filósofo. A luz do sol é a verdade. O que desce para ajudar os outros acorrentados é o político. As sombras, o mundo da ilusão. A luz da fogueira, os nossos desejos. As correntes, a ignorância. Os amos são aqueles que controlam e mantém o mundo da ilusão tirando proveito da situação. Os acorrentados são a humanidade. O caminho de escalada até a luz do sol está cheio perigos: diversas crenças estranhas, ideologias confusas, materialismo e/ou misticismo em excesso, armadilhas etc. Esses são os obstáculos. A filosofia vem pra proteger esse idealista que está se remexendo da cadeira, mostrar atalhos seguros na escalada, até chegar ao topo da caverna e voltar. Esse é um resumo do Mito da Caverna, o capítulo VII do livro A República, que é de autoria do filósofo grego Platão. Mesmo escrito no século IV a.c., continua atual. Aliás, existem várias obras que se referem a esse mito como o filme Matrix e o livro Alice no País das Maravilhas. Questione-se:

 

5 será que os muitos líderes do presente e do passado, não são as sombras do Mito da Caverna? Ou são os amos? Será que não está faltando filósofos na política? Não só na política como em outras áreas? E como distinguir a verdadeira filosofia da falsa filosofia? São muitas as perguntas. Os antigos já diziam que a filosofia é a mãe de todas as ciências, e que a reposta está dentro de nós. É só procurarmos nos tornar, verdadeiramente, o que somos: seres humanos. Assim sendo, reconheceremos facilmente, quem é quem e qual caminho seguirmos. Como diria Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo".

Quando Nietzsche Chorou

E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio.
A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!" -

Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que responderias: "Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa:

"Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?"

Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?

— Friedrich Nietzsche, “A Gaia Ciência”  §341

Filme: Quando Nietzsche Chorou (2007).

Esta capa da edição 571, publicada em janeiro de 2021, trouxe contigo um belo texto de Odair Bruzos, sobre sua chegada no Litoral Norte e o encontro com a Satélite Livraria e Café, um dos comércios mais antigo

do Centro Histórico de São Sebastião - SP.

Click na capa para acessar a edição completa.

Esta capa da edição 571, publicada em janeiro de 2021, trouxe contigo um belo texto de Odair Bruzos, sobre sua chegada no Litoral Norte e o encontro com a Satélite Livraria e Café, um dos comércios mais antigo

do Centro Histórico de São Sebastião - SP.

Click na capa para acessar a edição completa.

SATÉLITE VIRA PLANETA?

Por: Odair Bruzos       

           Em 1988, com 26 anos, saí da Capital, cidade onde nasci, e vim para o Litoral Norte.
        Morava e trabalhava  em Ubatuba, porém, nos finais de semana, tirava plantão em São Sebastião. Cheguei a comprar um ou outro jornal numa lojinha pequena, localizada na Rua Almirante Nogueira, bem perto da Rua da Praia. Era bem pequena, mas - literalmente repleta de revistas, gibis, doces, pequenos

presentes e uma fila enorme de etcéteras.

       No ano seguinte, já casado e com uma filha, pousei de vez em São Sebastião. Passei, então, a visitar diariamente aquela lojinha apertada.

       Certa manhã, caminhava com a minha filha em direção à lojinha, quando descobrimos que ela havia mudado para a Rua da Praia. Em comparação com a anterior minúscula sede, a nova era enorme; e muito bonita. Era um prédio do século XIX, onde funcionara o cinema. Nesta cidade fui delegado de polícia por 30 anos; também por quase igual periodo, escrevi em jornais e revistas locais.

        Em 2011, escrevi um artigo no extinto diário "Imprensa Livre", no qual narrava meu assombro pela rapidíssima passagem do tempo, tendo em vista que a Gabriela, a minha filha mais velha, havia sido pedida em casamento. Era como se tudo tivesse ocorrido em um único dia. Sabe onde estivemos, na manhã desse dia singular?

        "Eu sei que parece que eu estou exagerando, mas não é nada disso, não. Eu sinto - realmente, de verdade como se tivesse sido hoje pela manhã a última vez em que coloquei a Gabriela num banco alto da Satélite, na Rua da Praia, enquanto eu tomava café. Um olho na xícara, o outro sempre conferindo se ela não corria risco de cair. Não estou exagerando: isso foi hoje de manhã!!!" ("Num Piscar de Olhos").

        Veio o Artur, veio a Carolina, e aquele dia singular continuou a ver o Sol se deslocando pelo Céu. De manhã, a Gabriela pedia um café com leite; o Artur, um pão de queijo; a Carolina, uma revistinha da "Turma da Mônica". À tarde, os três já partiam para outras cidades, a fim de completarem seus estudos.

        E eu continuei a tomar meu café, comprar meus jornais e sobre o Mar à minha frente. Até Internet tinha lá! Eu ficava uma hora ou mais...às vezes, bem mais. Tanto isso era verdade, que, nos finais de semana ou nas férias, amigos perguntavam se eu estava fazendo segurança no local; outros diziam que eu deveria ajudar a pagar o IPTU.

        Com certeza, a Dona Nila já ganhou uma reserva no melhor bairro do Céu, só por aguentar esta "piada" gasta. Quando pedia algo, e ela dizia que aquilo estava em falta, eu respondia: - Então, quero dois!

        E por três décadas ela deu e dá risada. Já ganhou o Céu, concorda? Mas espero que ela continue por muito tempo aqui embaixo.

        Quem já está lá em cima é o Seu Jarbas. Enchi muito a sua paciência com minhas brincadeiras. Mas ele também dava o troco.

        E o dia vai correndo; o Sol vai deixando lugar para seu satélite. A Lua chega timida, mas vai se soltando.

        Agora o negócio também já conta com a Lu e o Jorge. Aliás, comecei cedo a encher o Jorge. Também no "Imprensa Livre", em fevereiro de 2013, escrevi:

        "Outro dia eu estava tomando um café na Satélite da Rua da Praia, em São Sebastião, sentado em uma mesa na calçada, olhando para o horizonte, tendo como limite Ilhabela. De repente avistei um par de tênis atravessando a rua. Era um par de tênis verde, mas era um verde...um verde...um verde-limão fosforescente-olha-eu-aqui-cheguei. Percebi, então, que havia alguém fazendo uso daquele calçado: era o Jorge. Elogiei-o: "é muito importante que o pedestre seja visto, e, com esses tênis, seria impossível que alguém não o percebesse". Tive a impressão de que o Jorge imaginou que eu estivesse sendo irônico... Não sei por quê... ("Gosto não se discute").

        A verdade é que, nesse dia singular, eu comecei chegando a "uma" cidade, que acabou virando a minha cidade, cidade que amo até a raiz. Comecei sendo da Capital, que acabou virando parte da Grande São Sebastião. Que coisa... Eu comecei querendo contar a história da Satélite, mas acabei contando a minha.

        É que vivi tanto na Satélite, que minha história se cruza com a dela milhares de vezes; tantas vezes, que ela acabou virando meu planeta, onde sempre gostei, gosto e vou continuar gostando de pousar...de ficar...de voltar.

        Vou pedir um café com leite...com muita espuma.

"A verdadeira questão é:
Cada um tem que escolher  quantas verdades consegue suportar"

Friedrich Nietzche

         

Grito de Alerta

Por Roberto Queiroz Queiroz 

         

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        Não nos esqueçamos que somos seres infinitos.

        Porém, nesta carne somos seres imperfeitos. Assim sendo, errar faz parte de nosso processo evolucional.

        Falamos muito sobre a necessidade de perdoar os erros dos outros e de não alimentar nenhuma mágoa.

        No entanto, às vezes, temos facilidade para perdoar o próximo e dificuldade para perdoar a si mesmo.

        A cada 47 segundos uma pessoa se suicida nesta terra porque não conseguiu perdoar a si próprio. 

        Se está passando por situação semelhante; perdoe-se e aprenda. Às vezes, você repetirá erros.

        Mas recomece quantas vezes for necessário. Você não é nenhum peso nas costas de ninguém. Não deixe que as outras pessoas projetem em você o produto de frustrações que são delas. Pare de achar que a sua existência incomoda o mundo. Não, você é tudo aquilo que tem de ser, com todos os defeitos e qualidades. Para de achar que ninguém te ama. Ninguém vai te amar se você não se amar. Tudo começa aí dentro.

        Ilimine-se com a sua própria a luz e alimente as suas sombras com a gratidão e o aprendizado que elas lhe propiciam. Aguente firme e não se subestime. " O sofrimento é sempre passageiro. Mas, desistir, é para sempre". Que a luz te encontre e o amor te envolva. Você é menos do que pensa e muito mais do que acredita ser.

        Que a Grande Mãe e o Grande Pai lhe dêem discernimento para finalmente você se tornar aquilo que verdadeiramente, e em essência, és.

        Que assim seja!!!🙌🙏

 

SER OU NÃO SER EIS A QUESTÃO

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A frase "Ser ou não ser, eis a questão" vem da peça A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare. Encontra-se no Ato III, Cena I e é frequentemente usada como um fundo filosófico profundo.

Sem dúvida alguma, é uma das mais famosas frases da literatura mundial

 

Shakespeare é talvez um dos maiores inquiridores, a respeito da perspectiva do homem moderno.

Assim como Cervantes trabalha a perspectiva da loucura, enquanto um contraponto saudável da razão, Shakespeare, de maneira particular, em sua principal tragédia; Hamlet, traz a perspectiva do excesso da razão,

que faz de todos nós, covardes.

Hamlet, conta a história do filho de um rei dinamarquês que foi assassinado. E este príncipe melancólico, não consegue aceitar a morte tão inesperada e misteriosa do seu pai. Sua desconfiança, acaba sendo premiada com o aparecimento do fantasma do pai, que lhe revela a verdadeira história da sua morte; que não teria sido natural, mas sim provocada pelo seu próprio irmão, ou seja, o tio de Hamlet, que agora havia se tornado o Rei da e se casado com a mãe de Hamlet.

Hamlet, tendo uma vez conhecimento da verdade, passa por um processo de constatação. Ele precisa ter certeza daquilo que é preciso ser feito. O fantasma do pai, clama por vingança, mas também por justiça, pois o rei, que atualmente reina, é um rei injusto, pois chegou ao poder através de um ato sórdido.

Há algo de podre no reino da Dinamarca. Todos os elementos, tanto naturais quanto sobrenaturais, mostram fundamentalmente este desequilíbrio ético e moral, que se manifesta na perspectiva da natureza humana.

A modernidade, parece se apresentar aí, de uma forma profética, quando observamos no mundo de hoje, onde as perspectivas das atitudes éticas dos homens, acabam repercutindo também nos seus aspectos naturais. Por exemplo a possibilidade da destruição do planeta devido nossos hábitos.

Mas o principal da história de Hamlet, está fundamentalmente, nesta visão ética, no caráter, na psicologia da atuação do personagem principal.

Hamlet como príncipe, como filho do rei assassinado, é aquele que deve retornar as coisas para o lugar certo. “maldita a sina que me fez nascer, nos tempos como o nossos, tão desconcertados e cabe a mim, concertá-lo.” Essa questão trazida por Hamlet, é algo tão profundo, humana e atual. Estamos as vezes reclamando dos tempos em que vivemos.  Mas será que estamos também nos conscientizando que cabe a nós a responsabilidade destes tempos?

Quando chegamos no meio da peça, Shakespeare, ou melhor, Hamlet, coloca a questão da seguinte forma, muito conhecida, “ser ou não ser, eis a questão”, esta é uma frase muito forte, um dos monólogos mais citados e recriados ao longo não só da história do teatro, mas na história da mídia. De uma maneira geral, também habita em nosso imaginário popular. Mas o que realmente Shakespeare quis dizer através desta grande dúvida, desta grande questão?

Na verdade, ao analisarmos esta peça como um todo, e em sua profundidade, percebemos que há uma relação bastante efetiva, entre as palavras ser e fazer, ou melhor, ser é fazer, fazer é ser. Cabe a Hamlet, consertar o que está desconcertado e para isso, Hamlet deve agir, para agir, obviamente é necessário pensar.

Agir de forma impetuosa, pode resultar em efeitos maléficos. No entanto Shakespeare nos dá um recado muito interessante. Muitas das vezes pensar demais, também pode ser prejudicial. E ao final deste importante monólogo, Hamlet reconhece que o excesso de razão, nos faz todos covardes.

Ao não fazer aquilo que temos de fazer, no momento em que temos de fazer, corremos o risco de fazer o que não temos de fazer, no momento que não temos de fazer e as consequências são nefastas. Hamlet, em vários momentos, teve a oportunidade de fazer o que tinha de fazer, ou seja, realizar a vingança. Ao deixar esse momento oportuno escapar, Hamlet se torna escravo de suas próprias paixões, ou do excesso de sua própria razão. Ele acaba cometendo atos que não deveria cometer, contra pessoas inocentes. Hamlet vinga o pai através da morte do tio, mas ele acaba também, mantando ou levando a morte, inúmeros outros personagens. Se deixamos de fazer aquilo que devemos fazer, na hora em que devemos fazer, deixamos de ser.

O grande recado de Shakespeare através de Hamlet, é sobre a relação entre o ser e o fazer. Nós somos aquilo que fazemos, não o que nós pensamos, neste sentido há uma resposta bastante interessante, ao que está emergindo dentro do pensamento moderno, onde seu contemporâneo Descartes irá dizer, que somos aquilo que pensamos; “Penso logo Existo”. Shakespeare, está dando talvez uma resposta a Descartes, dizendo; “não basta pensar, é preciso agir.” O que nos torna vi homens, o que nos torna humanos, não são as nossas ideias, mas fundamentalmente, os nossos atos.